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Postes de luz para recarga de carros elétricos: o que a experiência dos EUA pode antecipar para o Brasil

Projeto-piloto nos Estados Unidos revela vantagens econômicas e ambientais e levanta reflexões sobre riscos, segurança e impacto no mercado de seguros brasileiro.
Postes de luz para recarga de carros elétricos: o que a experiência dos EUA pode antecipar para o Brasil

A notícia de que postes de iluminação pública podem se transformar em pontos de recarga para veículos elétricos mostra o potencial de melhorar a mobilidade elétrica e ampliar as alternativas de abastecimento nas cidades. Pesquisadores da Penn State, em parceria com a cidade de Kansas e outras instituições, instalaram 23 unidades de teste que mostraram eficiência em velocidade de recarga, custo reduzido e menor impacto ambiental em relação às estações comerciais. Para além da inovação urbana, essa notícia projeta novos questionamentos a respeito de como o setor de seguros pode se preparar para riscos e oportunidades associados a essa nova etapa da eletrificação.

Abordagem reduz gastos, amplia o alcance do serviço e pode facilitar a adesão

A proposta se baseia em utilizar postes que já têm acesso à rede elétrica e estão localizados em áreas onde os carros estacionam. Essa abordagem reduz gastos com obras civis, amplia o alcance do serviço e pode facilitar a adesão de moradores de apartamentos ou regiões adensadas que não dispõem de garagem com ponto de energia. Os testes ainda indicaram ganhos ambientais, ao diminuir a necessidade de obras adicionais e emissões ligadas à instalação de estações próprias.

Equidade no acesso à mobilidade elétrica

Um aspecto que também observado na proposta foi a busca por equidade na distribuição dos pontos. A seleção dos locais de instalação levou em conta fatores técnicos, como tráfego e uso do solo, e critérios de inclusão social. A pesquisa empregou modelos de inteligência artificial para antecipar a demanda em diferentes bairros, o que ajudou a garantir diversidade geográfica e social na implementação. Essa perspectiva amplia a compreensão de que a mobilidade elétrica precisa ser acessível a diferentes perfis de usuários.

Adaptações necessárias para o Brasil

Se nos Estados Unidos essa solução está em fase de testes, o debate em torno de sua possível adoção no Brasil traz novos elementos (e aqui já começa a se desenhar um campo de reflexão para os seguros). A malha urbana brasileira apresenta desafios próprios, como a violência em grandes cidades. Transformar postes de luz em pontos de recarga exigiria pensar em medidas de segurança tanto para os veículos quanto para seus condutores durante o abastecimento. Essa vulnerabilidade é um ponto de atenção para seguradoras, que teriam de avaliar riscos adicionais de furtos ou assaltos no momento da recarga.

Infraestrutura elétrica e responsabilidades

Outro ponto a ser observado está na infraestrutura elétrica nacional. Em muitas cidades, os postes concentram uma quantidade de fios de diferentes serviços, nem sempre organizados ou em condições ideais. A adaptação para comportar carregadores confiáveis exigiria investimentos e normas específicas. Para o setor de seguros, isso pode significar o surgimento de novas responsabilidades em caso de falhas técnicas, curtos-circuitos ou danos decorrentes da precariedade da rede elétrica local.

Complexidade para precificação e coberturas

Do ponto de vista econômico, a ideia poderia acelerar a expansão da rede de recarga, ao reduzir barreiras de entrada e aproveitar estruturas existentes. Esse processo, porém, traria também uma camada de complexidade para o seguro: como precificar apólices em um ambiente de recarga distribuído? Quais seriam os limites de cobertura em situações que envolvem concessionárias de energia, prefeituras e fabricantes de equipamentos? A pulverização do abastecimento exigiria produtos mais flexíveis e capazes de lidar com responsabilidades compartilhadas.

Riscos adicionais para o motorista

No cotidiano do motorista, novos riscos poderiam se somar aos já conhecidos. Desde danos ao veículo durante o carregamento até a exposição a assaltos em áreas públicas, os cenários de sinistro se diversificariam. Isso demandaria soluções que não se restringissem à proteção do automóvel, mas que também contemplassem assistência, cobertura contra falhas de fornecimento e mecanismos de indenização em situações de insegurança urbana.

Seguros diante da mobilidade em transformação

Ao projetar um futuro no qual postes de luz funcionem como parte da infraestrutura de mobilidade elétrica, abre-se um leque de implicações que vão além da tecnologia. Para o Brasil, cada passo nessa direção dependerá da integração entre planejamento urbano, segurança pública, regulação do setor elétrico e criação de soluções de seguro adaptadas a esse contexto. Assim, a possibilidade de transformar a iluminação pública em pontos de recarga mostra que a mobilidade elétrica se constrói também a partir de soluções simples e disseminadas. O a questão principal reside em assegurar que, ao se tornarem parte do espaço urbano, essas soluções apresentem instrumentos capazes de dar respaldo a seus efeitos práticos.

Postado em
9/10/2025
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