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Seguro auto orientado por dados: um modelo mais próximo da condução real

O diretor comercial da Justos, Luciano Lima, explica como dados de dirigibilidade e jornada digital moldam um modelo de proteção mais alinhado ao uso real dos motoristas.
Seguro auto orientado por dados: um modelo mais próximo da condução real

No Episódio 34 do Insurtalks Cast, a jornalista Thaís Rucco abriu a conversa falando sobre como a tecnologia pode transformar o seguro auto em um benefício coletivo, ligado ao comportamento ao volante, à redução de acidentes e à ampliação do acesso à proteção. Para desenvolver esse tema, o convidado foi Luciano Lima, diretor comercial da Justos Seguros. Ao longo da entrevista, ele detalha como a seguradora estrutura seu produto a partir da telemetria, de um aplicativo próprio e de uma lógica de reconhecimento ao motorista que dirige com mais responsabilidade. Ao apresentar o convidado, Thaís destacou a trajetória da Justos como uma seguradora que usa telemetria, análise de comportamento e um aplicativo próprio para precificar o risco e se relacionar com o segurado de forma mais dinâmica. Na sequência, fez a pergunta que norteia a origem da companhia: como nasceu a visão de usar tecnologia e transparência para repensar o seguro auto e quais lacunas foram identificadas no modelo tradicional.

Tecnologia como eixo do modelo de negócio

Questionado pela jornalista sobre esse ponto de partida, Luciano explicou que a Justos foi criada com a proposta de aproximar o seguro auto do universo digital em que as pessoas já vivem. A companhia se estruturou a partir de uma pergunta simples: ‘como usar tecnologia para prestar um serviço melhor, deixar o cliente mais satisfeito e fortalecer a relação com o corretor?’. Segundo ele, o mercado de automóvel sempre foi marcado por processos muito pragmáticos com foco em consertar o carro ou indenizar depois do sinistro. A Justos mantém essas entregas, mas acrescenta um componente de experiência e de comportamento. A partir de recursos digitais, a seguradora busca dar mais agilidade ao atendimento, reduzir fricções na jornada e, sobretudo, reconhecer o motorista que dirige bem com benefícios concretos.

“A Justus veio para tentar trazer para esse mercado de automóvel, que é um mercado tradicional, algo muito ligado à tecnologia, à questão de como é que a gente pode, através da tecnologia, prestar um serviço melhor, ter um cliente mais satisfeito, ter um corretor melhor atendido e mais satisfeito”.

Dados de dirigibilidade e precificação mais ajustada ao risco

Em outro momento da entrevista, a jornalista trouxe a discussão para a base técnica do modelo da Justos: o uso de dados de comportamento ao volante como fundamento da precificação. Ela perguntou como essa análise ajuda a tornar o seguro mais justo, acessível e seguro para todos.

Luciano explicou que a companhia utiliza telemetria integrada ao aplicativo próprio. O segurado baixa o app, que passa a registrar automaticamente as jornadas de carro e a inteligência artificial analisa fatores como velocidade, intensidade de freadas, acelerações, forma de fazer curvas e até o uso de celular durante a direção. A partir desse conjunto de informações, a seguradora consegue calibrar o risco individual com muito mais precisão.

Segundo ele, isso permite construir um modelo em que o bom motorista é recompensado. Quem dirige com responsabilidade acumula pontos que podem ser trocados por recompensas. Se a condução for pior, Luciano garante que o segurado não é penalizado com aumento do preço contratado. Ele afirma: “Eu faço uma precificação muito justa. Se ele dirige muito bem, eu gero benefícios para ele [...] Agora, se ele dirige muito mal, eu aumento o preço dele? Não. O preço dele é o que ele contratou inicialmente.”

Como o sistema diferencia quem está dirigindo?

Falando ainda a respeito do funcionamento da telemetria, Luciano fez questão de esclarecer uma dúvida recorrente: como o sistema diferencia quem está dirigindo? Cada viagem registrada aparece no aplicativo para que o usuário confirme se era ele ao volante. Só depois dessa confirmação a pontuação é calculada. Isso evita, por exemplo, que o comportamento de um motorista de aplicativo ou de outra pessoa da família seja atribuído ao segurado da apólice.

Seguro como benefício coletivo e mutualismo revisitado

O seguro auto como benefício coletivo  também foi colocado em pauta por Thaís. Ela perguntou como um produto contratado de forma individual pode gerar impacto social mais amplo e Luciano retomou o conceito de mutualismo para explicar essa relação. A precificação, lembrou ele, nasce do conjunto de riscos que a seguradora cobre. Se cada motorista melhora o próprio comportamento, dirigindo com mais atenção às regras de trânsito e à velocidade, o efeito aparece nas estatísticas de sinistro e, por consequência, nos custos do grupo segurado.

Ele também destacou que, ao reduzir a frequência de acidentes, o modelo ajuda a diminuir gastos com reparos, hospitalizações e toda a cadeia associada a eventos de trânsito. Ao tornar o preço mais adequado ao risco de cada motorista, o seguro pode ficar mais acessível para quem antes não contratava por causa do valor. Com mais gente entrando na base segurada e dirigindo melhor, a proteção se expande para a coletividade.

Incentivo prático aos bons motoristas

Em outro trecho, Thaís chamou atenção para o discurso da Justos sobre incentivar os bons motoristas e pediu que Luciano detalhasse como a tecnologia contribui para a construção de uma cultura de direção mais responsável.

Ele explicou que, além de medir o comportamento, o aplicativo devolve ao segurado informações sobre onde ele pode melhorar. O motorista consegue ver, por exemplo, se está acelerando demais, freando de maneira brusca ou fazendo curvas de forma que atrapalha o fluxo de outros veículos. Esses pequenos ajustes do dia a dia, muitas vezes imperceptíveis, passam a ter consequência direta na pontuação e nos benefícios.

Falando ainda sobre esse estímulo, Luciano pontuou que o segurado pode usar o seguro mesmo sem ter sinistro. Ao acumular pontos por boa dirigibilidade, ele acessa benefícios ao longo de toda a vigência e não apenas quando precisa acionar a cobertura por um acidente. É uma tentativa de romper com a lógica de que a apólice só “funciona” na hora do problema.

Corretores em um modelo mais digital

Na reta final da entrevista, a jornalista levou a conversa para o impacto desse modelo sobre os corretores de seguros. Ela questionou como esses profissionais podem se posicionar diante de uma operação mais digital e orientada por dados.

Questionado sobre o tema, Luciano lembrou que, durante muito tempo, parte do mercado enxergou o digital como rival do corretor, mas a experiência da pandemia, porém, mostrou o contrário: foi com ferramentas online, reuniões virtuais e processos digitais que muitos escritórios conseguiram manter e até ampliar a produção.

Ele comentou que, no dia a dia da Justos, o corretor envia o link para o segurado baixar o aplicativo, o processo de vistoria inicial é feito com poucas fotos tiradas pelo próprio cliente e a cotação é concluída a partir de um questionário enxuto. O seguro pode ser contratado em horários não convencionais, como à noite ou em fins de semana, com retorno rápido de eventuais vistorias.

Luciano comentou que, no sinistro, o segurado pode abrir atendimento direto pelo aplicativo, mas o corretor é informado de tudo e participa se quiser. Quando prefere não intervir, a seguradora assume a condução do caso, mantendo a qualidade do atendimento e liberando o parceiro para focar em novas vendas.

Conectividade dos veículos, automação e experiência do segurado

Em outro bloco, Thaís trouxe uma pergunta sobre o avanço da conectividade dos carros, da telemetria e da inteligência artificial, e pediu que Luciano comentasse o papel dessas tecnologias na construção de um trânsito mais humano e eficiente. Ela também quis saber se outras empresas já estão aproveitando essa massa de dados.

Luciano avaliou que esse processo é gradual. A frota brasileira tem incorporado, pouco a pouco, sensores e recursos de automação, e as seguradoras precisam acompanhar esse movimento. Para ele, o cliente não quer lidar com rotinas complexas: “O segurado quer simplicidade. Ele quer fazer o seguro e pronto, tocar a vida dele”.

Ainda falando sobre o assunto, ele observou que, em vez de exigir que o segurado faça múltiplas ligações em caso de sinistro, o modelo digital permite acionar um guincho pelo aplicativo, com geolocalização informando automaticamente a posição exata do veículo. Na visão de Luciano, essa combinação entre conectividade do carro e digitalização dos processos de seguro tende a se tornar uma exigência do consumidor. 

Inovação, impacto social e atendimento híbrido

Thaís também questionou como a Justos equilibra inovação tecnológica e impacto social dentro do modelo de negócios, especialmente em um país em que nem todos estão familiarizados com soluções digitais.

Luciano respondeu que a companhia construiu um DNA digital, orientado por dados e por uma visão de sustentabilidade, mas sem abandonar formatos tradicionais de atendimento. De um lado, o modelo que estimula direção responsável contribui para reduzir acidentes, custos hospitalares e danos associados ao trânsito, o que tem reflexos positivos para a sociedade. De outro, a empresa preserva canais para quem prefere o contato humano, seja por telefone, seja em interações mais presenciais. Ele destacou que a proposta da Justos é conciliar dois mundos: tecnologias que trazem agilidade e qualidade, e um acolhimento mais próximo para perfis de segurados e corretores que ainda valorizam o atendimento convencional. Na avaliação dele, o mercado, como um todo, tende a caminhar para soluções cada vez mais digitais, mas esse movimento pode ser feito sem romper com quem ainda não se sente totalmente à vontade nesse ambiente.

Tendências para o futuro do seguro auto

Na parte final da entrevista, Thaís Rucco perguntou quais tendências devem orientar o seguro auto nos próximos anos, tanto para consumidores quanto para corretores. Luciano apontou o preço mais ajustado ao risco individual como uma linha de força. Em sua avaliação, chegará um momento em que o segurado não aceitará pagar por riscos aos quais não está exposto. Quanto mais as seguradoras tiverem dados para identificar o perfil de cada motorista, mais consistente tende a ser essa busca por equilíbrio entre risco e preço.

Ainda falando sobre esse movimento, ele retomou o conceito de mutualismo: a divisão do risco permanece, mas a contribuição de cada participante passa a ser mais proporcional à exposição real. Isso pode levar motoristas com risco mais alto a se conscientizarem e atuarem para reduzir sua própria exposição. Por exemplo, respeitando mais limites de velocidade ou evitando manobras arriscadas. 

Recado aos corretores: tecnologia como aliada

No encerramento, Thaís pediu uma mensagem aos profissionais que ainda enxergam o seguro auto como um produto estritamente tradicional, distante da ideia de instrumento de transformação coletiva. Luciano respondeu que a experiência da Justos confirma a centralidade do corretor no mercado brasileiro. Ele lembrou que as corretoras que mais cresceram nos últimos anos têm um traço em comum: adotam postura empreendedora e incorporam tecnologia como parceira do negócio. São profissionais que utilizam ferramentas digitais, exploram redes sociais, testam soluções de inteligência artificial e estruturam processos com base nesses recursos.

“Corretor, olhe para o futuro com a inteligência artificial ao lado, porque se você fizer isso, se for empreendedor, estudar, montar um processo muito bem estruturado, com IA e digitalização, você com certeza estará entre os vencedores nas próximas décadas”, finalizou.
Postado em
27/11/2025
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