EUA anunciam caução de até US$ 15 mil em vistos e levantam dúvidas sobre impactos no seguro viagem

A partir de 20 de agosto, cidadãos de alguns países que solicitarem vistos B‑1 (negócios temporários) ou B‑2 (turismo e lazer) para os Estados Unidos poderão ter de pagar uma caução, cujo valor será definido em três faixas — US$ 5 mil, US$ 10 mil ou US$ 15 mil a serem aplicadas pelos agentes consulares conforme cada caso. A proposta foi oficializada integra ações decorrentes de uma ordem executiva de 2020, ainda vigente, voltada a conter casos de permanência irregular no país.
Brasil está em boa posição,mas pode ser afetado
O programa não estabelece uma lista definitiva de países afetados, mas utilizará os dados de 2023 para selecionar as nacionalidades com maior índice de overstay (nome dado à permanência além do prazo autorizado pelo visto). O Brasil aparece na 124ª posição desse ranking, com taxa de 1,62%. Ainda que esteja abaixo de países como Espanha e Portugal, a iniciativa acende um alerta para todos os viajantes provenientes de regiões classificadas como de “risco consular”. O governo americano justifica a iniciativa como forma de garantir que os visitantes retornem ao seu país de origem dentro do prazo, além de incentivar melhorias nos sistemas de triagem, identificação e segurança documental das nações envolvidas.
Impactos no planejamento e no custo das viagens
A decisão se insere em um conjunto de pressões migratórias já conhecidas, mas agora ganha contornos operacionais com potencial de alterar o fluxo de viagens e as condições de acesso para parte considerável dos turistas. Se os efeitos da medida ainda estão por se confirmar, alguns desdobramentos já podem ser antecipados. A exigência de caução tem impacto direto sobre o custo total da viagem, o que interfere sobretudo no planejamento financeiro de quem viaja com margem apertada. Ao ter de imobilizar valores entre US$5 mil e US$15 mil antes mesmo de embarcar, o turista passa a lidar com uma variável de risco que, embora temporária, pode inviabilizar a própria realização da viagem.
Quem sente mais os efeitos da exigência de depósito
Essa mudança não atinge todos de forma igual. Viajantes com maior renda, especialmente aqueles que possuem fluxo financeiro mais estável ou reservas em moeda estrangeira, tendem a absorver a nova exigência com menos resistência. Já os turistas que realizam a viagem com esforço, muitas vezes planejada com antecedência, pagamento parcelado e economia calculada, encontram na caução uma barreira que pode comprometer o plano inteiro. É esse grupo, aliás, que compõe grande parte dos passageiros que contratam seguros de viagem como forma de proteção contra imprevistos (e não como item complementar).
Disney simboliza o impacto sobre famílias de renda média
Se o Brasil for atingido por essa medida, destinos como a Disney ganham relevância simbólica e econômica. O complexo em Orlando é tradicionalmente procurado por famílias brasileiras de diferentes faixas de renda. Muitas delas veem a visita aos parques como um projeto pessoal ou familiar, viável apenas com parcelamento de passagens, ingressos e hospedagem. A obrigatoriedade de caução, ainda que reembolsável, impacta diretamente essas decisões. Como resultado, pode haver queda na emissão de apólices de seguro viagem vinculadas a esse perfil de turista.
Efeito indireto sobre o mercado de seguro viagem
Esse possível efeito no mercado segurador é indireto, mas não desprezível. Ao inviabilizar viagens de parte dos consumidores que mais dependem do seguro para amortecer riscos financeiros, seja por extravio de bagagem, atendimentos médicos ou cancelamentos, a medida pode reduzir a base de clientes nos países afetados. Trata-se de um impacto seletivo: não atinge todo o setor, mas pode mudar o perfil de quem continua viajando e, por consequência, contratando coberturas.
Turistas de maior renda devem manter a contratação do seguro
O outro lado dessa equação é composto por viajantes que mantêm o plano de viagem, mesmo diante das novas exigências. É um público com maior poder aquisitivo, habituado a contratar seguros de viagem mais robustos. Para esse grupo, a caução não é impeditiva e o seguro continua fazendo parte da jornada, o que ajuda a preservar o faturamento do setor em parte relevante.
Medida não altera produtos, mas pode reduzir base de clientes
Ainda que não provoque uma mudança no formato ou nas coberturas dos seguros disponíveis no mercado e nem motive mudanças estruturais no seguro viagem, a nova exigência dos EUA coloca em debate uma questão essencial: como medidas externas ao mercado podem influenciar, de forma indireta, a demanda por proteção em viagens internacionais. O impacto, se vier, será discreto e gradual, mas toca em pontos sensíveis como o acesso, a renda e a percepção de risco.