Novo modo IA do Google mostra como a experiência de busca pode se refletir na forma de contratar seguros

O Google anunciou nesta segunda-feira (8) o lançamento do Modo IA para buscas em português, recurso que amplia o uso da inteligência artificial na plataforma. A novidade, antes restrita ao inglês, passa a oferecer respostas que organizam informações em forma de sínteses, tabelas comparativas e recomendações locais. A ferramenta também permite interação multimodal, oferecendo ao usuário a possibilidade de falar, digitar, fotografar ou enviar imagens, recebendo como retorno um texto com explicações, caminhos adicionais e possibilidades de aprofundamento. Embora ainda em fase inicial, o recurso já mostra como a relação com a informação digital está se aprofundando rápido e, por consequência, como setores dependentes de dados e interação direta com o consumidor (como o de seguros) precisarão entender essa nova dinâmica para adequar a jornada de consumo.
Expansão de fontes de informação que vão além do cadastro básico
A primeira questão a ressaltar está relacionada aos dados como insumo para personalização. O Modo IA capta sinais mais amplos do comportamento digital, o que significa que quando alguém pede uma tabela sobre métodos de preparo de café ou procura feiras que abram cedo em determinada cidade,por exemplo, a ferramenta está registrando intenções, rotinas e contextos. Para o seguro, esse raciocínio conduz à expansão de fontes de informação que vão além do cadastro básico: wearables, uso de aplicativos, localização e hábitos de consumo já vêm sendo testados como indicadores de risco. A lição que a novidade do Google deixa é que dados não estruturados, quando organizados por IA, passam a ter valor na criação de produtos que refletem de maneira mais precisa a vida do segurado.
Experiência digital como espelho da jornada de compra
Outra dimensão a ser observada é o da experiência digital como espelho da jornada de compra. Ao receber respostas organizadas em quadros comparativos, o usuário vai se acostumar a não lidar mais com fragmentos dispersos. Essa expectativa vai se transferir para qualquer outro serviço digital. Assim, ao buscar seguro viagem com cobertura para esportes e equipamentos eletrônicos, não será suficiente exibir apenas preços porque a régua definida pela busca pede que a seguradora entregue, no mesmo instante, um quadro claro do que está incluído, dos tetos de reembolso e dos canais de acionamento. É a lógica do “menos cliques, mais clareza” que, antes aprendida na pesquisa online, passará a ser cobrada também na escolha da apólice.
O diálogo contínuo como padrão de interação
Outro ponto de análise é a naturalização do diálogo em etapas, com perguntas de aprofundamento e recursos de voz ou câmera. Se o Google entende quando o usuário fala ou envia uma foto, por que a seguradora não faria o mesmo? Um cliente poderia relatar o uso de veículo por aplicativo e, a partir disso, receber perguntas complementares que ajustem franquia e cobertura em tempo real. Ou fotografar danos em um telhado após vendaval e obter, além do aviso de sinistro, a estimativa de franquia e a lista de prestadores próximos. A experiência de busca vai ditar o ritmo com conversas contínuas, menos burocracia e maior capacidade de compreensão imediata.
O usuário deve ter um fluxo único, com transparência sobre o que é automatizado e o que exige validação especializada
Também vale observar como o Google organiza a informação: síntese no topo, seguida de links úteis para aprofundamento. O seguro pode aprender daí a oferecer comparativos diretos de coberturas e, logo abaixo, abrir acesso às condições gerais, simulações adicionais ou à rede credenciada por bairro. Além disso, assim como o buscador deixa claro quando não tem confiança plena na resposta, as seguradoras podem sinalizar o limite do que a automação garante, oferecendo sem atrito o encaminhamento a um atendimento humano. O percurso, então, não será rompido: da consulta à contratação, da dúvida ao sinistro, o usuário poderá ser acompanhado em um fluxo único, com transparência sobre o que é automatizado e o que exige validação especializada.
Falhas de sistema e novos riscos de responsabilidade
É preciso destacar que a própria empresa admite que o Modo IA está em fase de implementação e sujeito a falhas. Esse fato abre uma reflexão importante: no caso do seguro, uma resposta automatizada imprecisa pode gerar um impacto financeiro ou jurídico para o segurado. Essa margem de incerteza mostra que os produtos de responsabilidade civil tecnológica e as cláusulas sobre uso de algoritmos deixarão de ser questões marginais para se tornarem parte do desenho de proteção.
Um padrão que se projeta sobre o seguro
O Modo IA mostra que a forma de consumir informação está se tornando mais organizada, comparativa e dialogada. Essa mudança vai formar novos hábitos, que inevitavelmente vão se projetar sobre a expectativa do cliente em qualquer interação digital. Ao mesmo tempo em que abre possibilidades para simplificar escolhas, esse processo também oferece riscos de falhas tecnológicas e de interpretações equivocadas. O fato é que, com ônus e bônus, a novidade do Google mostra que como o padrão de interação digital será elevado, como os dados vão ganhar um novo estatuto e como a gestão de riscos tecnológicos é inevitável. Para o setor de seguros, acompanhar essa evolução é uma exigência de coerência diante de consumidores que já estão aprendendo, na própria rotina de busca, o que significa informação clara, jornada contínua e proteção contra erros de sistemas.