Soberania digital: o novo desafio da inovação no mercado de seguros

'Soberania é ter direito a um destino digital', alega embaixador
Em entrevista ao podcast da UOL, Deu Tilt, o embaixador Eugênio Vargas Garcia, do Itamaraty, destacou que a soberania digital representa o direito de cada país de controlar e desenvolver seu próprio destino digital, em um cenário global marcado por disputas tecnológicas e preocupações com a privacidade de dados. Segundo ele, a estratégia brasileira para a inteligência artificial se apoia em cinco eixos: soberania digital, multilateralismo, acesso aberto à tecnologia, diversidade linguística e padrões éticos rigorosos. Garcia defende que a ONU é o fórum mais adequado para o debate internacional, por incluir países em desenvolvimento, e alerta para os riscos de barreiras comerciais, como restrições à exportação de chips, que dificultam o avanço tecnológico de nações emergentes. Ele também reforça a necessidade de transparência, direitos humanos e combate a vieses nos algoritmos, além da inclusão de diferentes línguas nos sistemas, para garantir uma governança digital justa e acessível.
O Brasil deve escolher o seu próprio lado
Para o embaixador, o Brasil não deve se alinhar automaticamente a nenhuma potência mundial, mas priorizar políticas que fortaleçam sua autonomia. Isso significa investir em ciência, tecnologia e parcerias estratégicas capazes de garantir transferência de conhecimento e independência em áreas sensíveis. “O Brasil não tem que escolher um lado ou outro, tem que escolher o lado do Brasil”, defende Vargas, reforçando que o objetivo é desenvolver o próprio país e avançar no domínio científico e tecnológico — princípio que também se conecta ao debate sobre soberania digital, entendido como o direito de indivíduos e organizações de controlar o uso, armazenamento e destino de suas informações.
Onde o setor de seguros entra?
Com políticas que favoreçam o desenvolvimento interno de ciência e tecnologia, seguradoras podem operar em ambientes digitais menos dependentes de fornecedores estrangeiros, criando plataformas próprias de gestão, modelos de inteligência artificial para precificação e análise de riscos e sistemas preditivos ajustados à realidade do país. Esse cenário também pode fomentar a adoção de novas tecnologias, que podem reduzir custos e aumentar a transparência nos processos, além de estimular a criação de infraestruturas em nuvem, que garantiriam maior controle sobre os ecossistemas digitais do setor. Com maior capacidade de inovação local, as seguradoras deixariam de ser apenas usuárias de tecnologia importada para se tornarem produtoras de soluções estratégicas, o que também pode favorecer parcerias com insurtechs, universidades e centros de pesquisa.
Seguros devem investir quase R$ 20 bilhões em tecnologia e inovação
O mercado de seguros brasileiro reforça sua vocação tecnológica com um volume recorde de investimentos. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, projetou que as empresas do setor deveriam aplicar R$ 19,6 bilhões em tecnologia e inovação em 2025, um crescimento de 17,5% em relação ao ano anterior, quando os aportes somaram R$ 16,7 bilhões. Ele destaca que o ritmo de investimento supera a própria expansão do mercado, projetada em 11% para este ano, evidenciando a relevância estratégica da transformação digital. O relatório Insurtech Global Outlook 2025, da NTT DATA, revelou que inteligência artificial generativa e cibersegurança estarão entre as principais prioridades até 2030, alinhando o Brasil às tendências globais. No cenário internacional, conforme o levantamento, as insurtechs já captaram US$ 40 bilhões em investimentos nos últimos quatro anos, consolidando um novo ciclo de inovação para o setor segurador em todo o mundo.
Interoperabilidade e protagonismo do consumidor
A interoperabilidade de dados entre plataformas também é um ponto importante e precisa estar alinhado aos princípios da soberania digital. No Brasil, iniciativas como o Open Insurance indicam um futuro em que o consumidor assume o papel central na gestão de seu perfil digital, decidindo quando e como suas informações serão compartilhadas com terceiros. Para corretores e brokers, isso exige repensar a gestão das carteiras de clientes, utilizando ferramentas que aumentem a privacidade e reduzam riscos de vazamento de dados. A digitalização das jornadas de venda e o uso de inteligência artificial devem caminhar lado a lado com protocolos de segurança robustos, fortalecendo a confiança dos segurados. Por este motivo, as seguradoras também devem direcionar investimentos para áreas estratégicas, como proteção de identidade digital, autenticação avançada e monitoramento contínuo, com o objetivo de minimizar riscos relacionados a ciberataques e roubo de informações.
Ética corporativa e a importância de construir debates
Uma cultura organizacional baseada em princípios éticos e regulatórios é fundamental para promover transparência, respeitar os direitos digitais dos consumidores e consolidar a confiança no setor. Nesse contexto, a governança de dados deve ser tratada como um pilar básico, orientando cada decisão de negócio e criando um diferencial competitivo. Além disso, existem oportunidades para parcerias entre seguradoras, startups de tecnologia e órgãos reguladores, que podem desenvolver plataformas voltadas ao fortalecimento do controle de dados pelos clientes. A adoção de padrões claros de segurança e a participação ativa em fóruns globais de governança digital levam as seguradoras brasileiras a um ambiente propício de inovações, facilitando sua integração em cadeias globais e atraindo investimentos para o segmento, de forma coerente e responsável.
Um destino digital próprio para o mercado de seguros
A soberania digital não é somente uma pauta de geopolítica, mas seus efeitos podem reverberar em vários segmentos. Ao investir em tecnologias próprias e adotar padrões éticos de governança, o mercado segurador brasileiro tem potencial para alcançar cada vez mais excelência e reconhecimento em inovação, o que também cria espaço para novos produtos de seguros cibernéticos personalizados, que considerem o perfil digital e o nível de exposição dos segurados. Esse movimento demonstra a interconexão entre proteção de dados e mitigação de riscos digitais, reforçando a importância do investimento tecnológico para o setor. Para corretores, seguradoras e demais profissionais, essa transformação representa uma oportunidade para inovar com responsabilidade, construir confiança e fortalecer um setor cada vez mais dependente do ambiente digital. Portanto, práticas que integrem proteção, transparência e tecnologia serão indispensáveis para garantir o futuro da indústria.