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As projeções tecnológicas estão se concretizando no setor de seguros?

As projeções tecnológicas estão se concretizando no setor de seguros?

O discurso recorrente da inovação tecnológica 

O setor de seguros tem se mantido por dentro das previsões acerca da tecnologia no contexto operacional. Inteligência artificial, big data, Internet das Coisas e digitalização são termos recorrentes em relatórios e análises que investigam o impacto dessas ferramentas em diversos segmentos. O cenário brasileiro tem demonstrado sinais de avanço, mas também revela que parte das promessas ainda enfrenta obstáculos para se consolidar. Especialistas destacam a necessidade de transformar processos manuais em jornadas digitais, usar algoritmos inteligentes para precificação e gestão de riscos e ampliar a personalização dos seguros de acordo com o perfil do cliente. A ideia é tornar o setor mais transparente, rápido e acessível, acompanhando o consumidor digital e entendendo como investir em tecnologias que tragam resultados efetivos na prática.

Crescimento do setor no Brasil

O mercado segurador brasileiro mantém uma trajetória de crescimento sucessiva, superando projeções e firmando sua relevância na economia. De acordo com a Susep, em 2024, a arrecadação chegou a R$ 435,56 bilhões, crescimento de 12,2% em relação a 2023. Esse resultado já havia superado as estimativas da CNseg, que projetava alta de 11,6% para o período. Para 2025, a expectativa é de um avanço de 10,1%, o que leva o setor a atingir 6,4% do PIB nacional. A tendência acompanha o desempenho observado nos primeiros meses deste ano: entre janeiro e maio, o mercado supervisionado movimentou R$ 175,88 bilhões, crescimento nominal de 0,75% frente ao mesmo período de 2024. Dentro desse recorte, os seguros de pessoas e de danos (excluindo VGBL) cresceram 8,09%, os microsseguros tiveram alta expressiva de 18,17% e o seguro viagem avançou 11,66%. Embora alguns produtos de acumulação, como PGBL e previdência tradicional, tenham registrado retração de 8,33% em receitas, ainda apresentaram contribuição líquida positiva. Já a Saúde Suplementar e os seguros de Cobertura de Pessoas seguem com projeções de crescimento anual próximas a dois dígitos. Ao mesmo tempo, o segmento de capitalização mostrou estabilidade, crescendo 11,54% no acumulado até maio.

Sandbox regulatório como incentivo para o setor

Entre os responsáveis por aquecer o mercado de seguros no país, a criação do Sandbox Regulatório em 2020, serviu como incentivo para atrair novas seguradoras e fomentar inovações. O projeto chegou à sua terceira edição e tem apresentado resultados promissores. Embora ainda representem uma fatia pequena do mercado, as empresas participantes arrecadaram R$160,9 milhões desde o início do programa, construindo soluções, que no modelo tradicional de seguros, não teriam espaço. A iniciativa permite, portanto, que seguradoras testem produtos em um contexto de regras mais flexíveis, ampliando o alcance do seguro no país. Com isso, surgiram formatos como os seguros paramétricos e de cobertura temporária, ao mesmo tempo em que o setor passou a adotar precificação mais clara e individualizada de riscos. Além do benefício às novas entrantes, o projeto também impulsionou seguradoras tradicionais a acelerarem sua transformação digital e a repensarem a distribuição e a formatação de produtos.

Setor de seguros no centro da digitalização

A digitalização vem transformando o setor de seguros de forma gradual, rompendo com modelos tradicionais e exigindo maior agilidade e eficiência nos processos. Um estudo da Majesco publicado em abril de 2022 apontou que essa evolução poderia ser dividida em três fases distintas ao longo dos últimos sete anos. A primeira, chamada de Era da Disrupção Digital (2015), marcou a chegada das insurtechs e gerou cautela nas seguradoras em relação a investimentos tecnológicos. Em seguida, veio a Era da Transformação Digital, quando a adoção de novas soluções e modelos de negócio ganhou força, impulsionada por inovações e pelo aumento das expectativas dos clientes. Atualmente, o setor vive a Era da Aceleração Digital, intensificada pela pandemia de COVID-19, em que as seguradoras demonstram maior resiliência e rapidez na adaptação, apoiadas em dados, parcerias e ecossistemas digitais. Considerando o que foi apontado pelo estudo, de lá para cá os avanços foram percebidos, principalmente no que se refere à transformação digital, ainda que os desafios estejam presentes.

O papel das insurtechs na transformação do setor

O crescimento das insurtechs nos últimos anos tem se mostrado um dos principais facilitadores para a transformação da indústria e para a adoção da tecnologia no setor – passando de um movimento visto com cautela para um agente relevante na digitalização do mercado de seguros. Essas startups têm contribuído para a adoção de tecnologias como automação, inteligência artificial e análise preditiva, além de estimular maior agilidade em processos como cotações e indenizações. Nesse cenário, as insurtechs oferecem soluções modulares, que podem ser testadas em áreas específicas antes de uma implementação completa, permitindo reduzir custos, mitigar riscos e adaptar as ferramentas às particularidades de cada empresa, acelerando assim a modernização do mercado. Por outro lado, muitas seguradoras tradicionais ainda enfrentam barreiras para incorporar essas inovações devido à dependência de sistemas antigos. 

O panorama tecnológico de 2025 e o que gerou resultado na prática

O setor de seguros em 2025 reflete um equilíbrio entre o que foi projetado, o que se concretizou e as expectativas para o futuro. Ao final do ano passado, as projeções indicavam que a digitalização, a IA e a automação seriam mecanismos para a eficiência, inovação e personalização ainda mais presentes na indústria – e os resultados expõem esses ganhos. Como resultado, as seguradoras demonstraram resiliência frente a desafios econômicos, climáticos e geopolíticos, ao adotarem tecnologias que aprimoram a subscrição, precificação e o atendimento. As insurtechs, por sua vez, continuam sendo marcadoras da transformação digital e a adoção de IA e análise de dados estão demonstrando mudanças práticas no dia a dia das operações. Internacionalmente, o investimento em startups de tecnologia para seguros atingiu patamares recordes, reforçando o papel da inovação como diferencial competitivo. No Brasil, a consolidação do setor passa também por fusões e aquisições, com crescimento histórico no número de transações, fortalecimento de corretoras e maior concorrência das insurtechs. 

Os desafios que persistem e a falta de confiança

Apesar do progresso da digitalização no setor de seguros, desafios importantes ainda persistem. Muitas seguradoras têm dificuldade em integrar sistemas antigos a novas plataformas digitais, enquanto a adoção da inteligência artificial generativa esbarra em barreiras técnicas e regulatórias. Um artigo do Insurance Thought Leadership expõe a visão de Jaime Henry, da Origami Risk, que revela que, apesar do alto interesse nos últimos anos, a adoção da IA generativa permanece baixa. Ela argumenta que o uso assertivo requer uma mudança no comportamento tanto de consumidores quanto de profissionais, uma vez que um dos principais obstáculos é a falta de confiança. Os usuários precisam sentir que os resultados fornecidos pela IA são precisos e que seus dados não serão utilizados de forma inesperada. Para superar esses desafios, a empresa desenvolveu soluções práticas que permitem a utilização da IA de forma transparente e segura, como o módulo de análise de risco em linguagem natural e assistentes para automação de e-mails. A iniciativa também busca democratizar a tecnologia, oferecendo ferramentas que possibilitam aos clientes personalizar casos de uso específicos, integrando a IA exatamente onde é necessária.

O que o futuro reserva baseado nas projeções

Olhando para frente, com base no que foi explicitado, a expectativa é de amadurecimento tecnológico. As insurtechs devem continuar crescendo e, no Brasil, a espera é de maior integração entre seguradoras tradicionais e startups, combinando solidez institucional com inovação e agilidade. Tecnologias devem continuar surgindo e expandindo sua aplicação. Além disso, cresce a demanda por soluções ligadas a riscos climáticos e sustentabilidade, o que coloca a agenda ESG como protagonista na próxima etapa da inovação em seguros.

Entre promessas e realidade

As projeções tecnológicas feitas para o setor de seguros nos últimos anos não ficaram apenas no discurso. Muitas delas já fazem parte do cotidiano, como a digitalização das jornadas, o uso de inteligência artificial e o fortalecimento das insurtechs. No entanto, a consolidação ainda encontra barreiras regulatórias, dificuldades técnicas e de confiança que impedem que a transformação seja uniforme em todo o mercado. Se até aqui a promessa era de adoção de novas tecnologias, o que se desenha para os próximos anos é a necessidade de consolidar esse avanço, ajustando processos, fortalecendo a confiança dos consumidores e garantindo a maturidade das inovações. É possível visualizar, portanto, o setor em movimento constante, demonstrando resultados em inovação, mas ainda enfrentando obstáculos para que essas soluções se tornem universais. O futuro aponta para um cenário em que a integração entre tradição e disrupção será decisiva, com insurtechs e seguradoras somando forças para responder não só às demandas digitais dos consumidores, mas aos desafios nacionais e globais como mudanças climáticas e segurança cibernética.

Postado em
11/9/2025
 na categoria
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