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IA, supercomputadores e seguros: como a previsão de riscos ganha novas camadas de precisão

Do manejo agrícola à prevenção de enchentes, tecnologias ampliam a precisão de dados e oferecem novas bases para o desenvolvimento de seguros mais ajustados à realidade.
IA, supercomputadores e seguros: como a previsão de riscos ganha novas camadas de precisão

As pessoas costumam pensar no clima como algo distante, quase fora do alcance. Mas basta um dia de chuva forte para lembrar que ele atravessa a rotina de todos: atrasa o transporte, prejudica a safra, provoca enchentes. O mesmo vale para longos períodos de seca, que transformam o campo e impactam o preço dos alimentos nas cidades. Cada oscilação carrega efeitos em cadeia (alguns perceptíveis de imediato, outros que só aparecem depois, quando já se tornaram perda). É por isso que cresce a busca por ferramentas capazes de antecipar o que está por vir. Do solo de uma plantação ao trânsito urbano, prever tornou-se necessidade, tanto para quem produz quanto para quem precisa se proteger dos riscos.

“Espelhos virtuais” de lavouras

Esse tipo de antecipação já está em andamento no campo. Com ajuda da inteligência artificial, surgiram os chamados gêmeos digitais: “espelhos virtuais” de lavouras que simulam o crescimento das culturas, a saúde do solo e até os impactos ambientais. Alimentados por sensores, drones e estações meteorológicas, eles permitem testar estratégias de irrigação, adubação ou controle de pragas sem colocar a produção real em risco. Isso dá ao agricultor uma espécie de laboratório paralelo no qual é possível avaliar, por exemplo, se vale a pena investir em um novo sistema de irrigação em meio a uma estiagem, ou prever o efeito de uma praga antes que ela comprometa a safra inteira.

Decisões sem desperdício

Em aplicação real, é como ter um campo experimental sem precisar gastar água, insumos ou comprometer a safra. O efeito é direto: menos desperdício, mais produtividade e, ao mesmo tempo, mais previsibilidade para quem vive da terra.

O impacto no seguro rural

Esse é um ponto que interessa bastante às seguradoras. Quanto mais informação confiável sobre o comportamento de uma lavoura, mais justa pode ser a precificação do seguro rural. Em vez de se apoiar apenas em médias históricas ou em dados regionais, passa a ser possível avaliar risco quase em tempo real. Isso significa, por exemplo, calcular o impacto de uma estiagem localizada antes mesmo dela se consolidar ou ajustar a cobertura de acordo com a condição real do solo e do plantio. Para o produtor, a vantagem está em pagar por uma proteção que reflete a realidade de sua área — nem mais cara do que deveria ser, nem distante dos riscos efetivos que enfrenta.

O salto da meteorologia brasileira

Enquanto o setor agrícola está passando por essa transformação, o Brasil também começa a dar um salto em outra frente: a meteorologia. Instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), um novo supercomputador consegue processar dados de satélites, aviões, navios e balões meteorológicos numa velocidade seis vezes maior que a do antigo sistema.

Previsões que orientam ações

O resultado é uma previsão capaz de indicar, com detalhes inéditos, o minuto em que a chuva deve cair em determinado bairro. Num país acostumado a lidar com enchentes, deslizamentos e temporais cada vez mais frequentes, essa precisão pode significar vidas salvas. Além de emitir alertas à população, a tecnologia ajuda defesas civis a organizar planos de evacuação com antecedência, orienta empresas de energia a reforçar redes em áreas críticas e permite que gestores municipais mobilizem recursos de forma mais eficiente. 

Benefícios para o mercado de seguros

Para o mercado de seguros, a diferença também é enorme. Modelos de catástrofe e de seguro residencial ou empresarial ganham mais consistência quando se pode contar com previsões rápidas e detalhadas. Isso abre a possibilidade, por exemplo, de oferecer apólices sazonais em regiões sujeitas a temporais específicos, ou de acionar alertas preventivos para clientes antes de um evento extremo. Empresas de logística podem ser orientadas a ajustar rotas em dias de risco elevado, reduzindo perdas materiais, enquanto as resseguradoras passam a precificar contratos globais com base em informações mais granulares do Brasil. Em todos os casos, a previsibilidade se traduz em produtos mais adequados e em menor exposição a prejuízos inesperados.

Transformar risco em informação

Se colocar lado a lado a agricultura monitorada por gêmeos digitais e a meteorologia impulsionada por supercomputadores, é possível notar o seguinte ponto de confluência: a transformação de realidades complexas em informações úteis para agir antes que o dano aconteça. No campo, isso significa plantar com mais segurança e precificar seguros rurais de forma condizente com a lavoura real. Nas cidades, implica reduzir a vulnerabilidade diante de chuvas intensas, enchentes e deslizamentos que se repetem com mais frequência.

Seguros calibrados pela precisão dos dados

É fácil perceber que, quanto mais precisos são os modelos de previsão, mais ajustados podem ser os produtos e as coberturas. A tecnologia, portanto, oferece meios de enfrentar a incerteza de forma mais consciente e esse é justamente um dos vieses que explicam a relevância do seguro: usar previsões mais apuradas, seja sobre a saúde de uma lavoura ou sobre a intensidade de uma chuva, para calibrar coberturas e reduzir a distância entre risco calculado e risco vivido.

Postado em
10/10/2025
 na categoria
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