Tecnologia

Big Techs estão indo longe demais com a IA? Alerta de ex-diretora da Microsoft traz lições para o mercado de seguros

Big Techs estão indo longe demais com a IA? Alerta de ex-diretora da Microsoft traz lições para o mercado de seguros

O hype da IA e o alerta da brasileira ex-diretora da Microsoft

Gabriela de Queiroz, ex-diretora de inteligência artificial da Microsoft, revelou que o uso da ferramenta dentro das big techs é muito menor do que o divulgado. Em entrevista ao podcast Deu Tilt, ela destacou que a disputa entre empresas para parecerem as mais avançadas no uso da tecnologia é, em grande parte, uma estratégia de marketing. Segundo ela, internamente, a IA era pouco aplicada até mesmo em processos administrativos, que continuavam sendo feitos manualmente. Embora reconheça a presença da IA em produtos voltados ao consumidor, ela relata que havia uma forte pressão para que os funcionários aprendessem a usar a tecnologia e aumentassem sua produtividade. No entanto, isso contrastava com a baixa aplicação prática da IA nos bastidores. Com experiência no Vale do Silício, onde atuou em startups e liderou projetos na Microsoft voltados a estudantes e empreendedores, Queiroz acabou demitida durante uma onda de cortes em massa da empresa. Para a especialista, a ironia está no fato de que muitos dos profissionais desligados eram altamente qualificados e com competências que a IA ainda estaria longe de replicar.

Pressão por inovação versus maturidade tecnológica

O setor de seguros tem vivido uma pressão para incorporar soluções digitais que respondam rapidamente às demandas. No entanto, o alerta feito pela ex-diretora da Microsoft aponta que o entusiasmo em torno da IA, muitas vezes, supera sua aplicação real e eficaz. Portanto, é importante avaliar com profundidade onde a tecnologia pode, de fato, gerar valor, evitando investir em soluções ainda imaturas, que não estejam alinhadas com os objetivos estratégicos da empresa. Adotar IA de forma responsável significa priorizar aplicações com resultados comprovados e sustentáveis, ao invés de seguir tendências tecnológicas. 

Os riscos de replicar ações das Big Techs

A forte influência que as grandes empresas como Google, Microsoft e Amazon têm para acesso a modelos e infraestrutura de inteligência artificial representa um desafio para seguradoras que desejam mais autonomia tecnológica e segurança no uso de dados. Embora essas empresas liderem os investimentos em IA, essa centralização pode comprometer a soberania digital de quem adota suas soluções sem uma estratégia própria. Conforme Queiroz, mesmo com grandes investimentos, o ambiente da IA ainda é marcado por expectativas infladas e tendências passageiras que nem sempre se confirmam na prática. Um bom exemplo disso é a recente obsessão pelas chamadas “agentes de IA” (IA agêntica), programas que prometem executar tarefas de forma autônoma. Apesar de terem ganhado destaque em muitas startups e nas próprias big techs, Gabriela alerta que seu desempenho muitas vezes se limita a ambientes muito específicos, como atendimento ao cliente e call centers. Fora desses contextos, a empolgação em volta desses recursos parece mais uma estratégia para atrair mídia do que uma solução madura e aplicável em larga escala.

Ética e regulação como parte do planejamento no setor de seguros

Outra dimensão crítica apontada por especialistas é a questão ética e regulatória envolvida na adoção da IA no setor de seguros. Especialistas enfatizam que a adoção da inteligência artificial no setor de seguros traz questões éticas e regulatórias cruciais. Se os algoritmos forem empregados de maneira inadequada, há o risco de comprometer a justiça na avaliação dos riscos, prejudicando determinados grupos de clientes. Essa realidade torna indispensável que o mercado adote práticas robustas de governança tecnológica. Para enfrentar esses desafios, diversas iniciativas têm surgido. A criação de grupos de trabalho e associações, como o AI in Insurance Consortium, comprovam o esforço da indústria para estabelecer padrões, compartilhar melhores práticas e acelerar a adoção segura e eficiente da IA.

Corretores: IA como apoio, não substituição

Para os corretores de seguros, a inteligência artificial representa uma ferramenta poderosa para melhorar a experiência do cliente.  Recursos como chatbots inteligentes, assistentes virtuais e análises comportamentais permitem oferecer atendimentos mais rápidos, personalizados, além de facilitar a recomendação de produtos mais adequados ao perfil de cada cliente.  No entanto, a IA deve atuar como apoio e não como substituição do corretor humano. O sucesso na aplicação da tecnologia depende do equilíbrio entre automação e sensibilidade profissional, algo fundamental em um setor que lida com decisões financeiras importantes, confiança e particularidades culturais e regulatórias, especialmente no contexto brasileiro. A inteligência artificial pode agilizar processos, reduzir erros e oferecer dados valiosos, mas a mediação humana continua insubstituível na hora de interpretar necessidades específicas, construir relacionamentos duradouros e tomar decisões com empatia e bom senso. 

Adoção gradual, com foco em resultados

O contexto atual mostra que inovar não significa adotar tecnologias de forma apressada ou em larga escala, mas sim promover uma implementação gradual e estratégica, baseada em objetivos claros e resultados mensuráveis. No setor de seguros, é fundamental que a introdução da inteligência artificial esteja alinhada ao planejamento corporativo e às reais necessidades do negócio. Além disso, capacitar os profissionais para lidar com a transformação digital é tão essencial quanto investir em ferramentas de ponta. A tecnologia só gera valor quando combinada com conhecimento, preparo e visão crítica por parte das equipes que a operam.

Transparência como fator de confiança

Cabe ainda destacar que a transparência na aplicação da inteligência artificial, especialmente em áreas críticas como precificação de apólices e análise de sinistros, é fundamental em um mercado cada vez mais digital e competitivo para garantir a credibilidade e a longevidade das seguradoras. Demonstrar como os algoritmos funcionam, quais dados são utilizados e quais critérios orientam as decisões é essencial para promover uma relação ética e duradoura com os clientes.

Inovação com responsabilidade para o uso inteligente da IA no setor de seguros

O alerta da ex-diretora da Microsoft deve servir como um convite para que o mercado de seguros evite o eco do hype tecnológico e trabalhe na construção de ecossistemas que combinem inovação e ética para gerar valor real e sustentável. É preciso integrar soluções tecnológicas que respeitem regulamentações e atendam às expectativas dos clientes, além de confiar puramente nas tendências adotadas pelas Big Techs. Isso significa adotar uma postura crítica e estratégica, investindo em soluções tecnológicas eficazes, com resultados comprovados, e que estejam alinhadas aos objetivos do negócio. Além disso, a IA deve ser vista como uma aliada do corretor, não como substituta, e sua adoção precisa ser gradual e responsável, dentro de um espaço onde tecnologia e sensibilidade humana caminham lado a lado.

Postado em
29/7/2025
 na categoria
Tecnologia
Deixe sua opinião

Mais sobre a categoria

Tecnologia

VER TUDO