Inovação

Comprar, alugar ou assinar: As três formas de usar um veículo e o impacto delas no bolso e no seguro

Como as diferentes modalidades de acesso a veículos transformam o mercado de seguros.
Comprar, alugar ou assinar: As três formas de usar um veículo e o impacto delas no bolso e no seguro

O último episódio do podcast Educação Financeira abordou as diferenças entre compra, aluguel e assinatura de veículos, trazendo o planejador financeiro Jeff Patzlaff para tratar do assunto. Segundo o especialista, a decisão do usuário deve partir da identificação dos motivos pelos quais ele quer o carro, se o carro atende a uma necessidade real ou a um desejo. Ele destaca que a escolha entre essas modalidades exige olhar para o conjunto de despesas que acompanha o veículo. Além da mensalidade, entram na conta itens como IPVA, seguro e manutenção que, somados, podem corresponder a até 12% do valor do carro ao ano, e que permitem ao consumidor entender o peso real dessa decisão no orçamento. 

Para o mercado de seguros, essa mudança na forma como o consumidor avalia o uso do carro amplia a necessidade de compreender perfis e rotinas com mais precisão. Essa tendência orienta o desenvolvimento de produtos ajustáveis, capazes de acompanhar modalidades distintas de mobilidade e atender a demandas que não se encaixam mais em modelos tradicionais de proteção.

Como cada modalidade distribui os custos

A discussão do episódio fica mais interessante quando se olha para a forma como cada modalidade distribui esses custos. Na compra financiada, o valor das parcelas não se limita ao preço do veículo: entram os juros embutidos no Custo Efetivo Total (CET), que alteram a percepção de benefício ao longo do contrato. Já a assinatura (descrita por Patzlaff como uma forma de aluguel de longo prazo)  reúne IPVA, seguro e manutenção em uma única mensalidade, o que facilita a previsibilidade, mas não elimina a responsabilidade do motorista diante de riscos externos, como colisões, furtos ou danos a terceiros. 

Esses arranjos ajudam a entender por que perfis que rodam acima de cerca de 1.500 km por mês, como exemplificou o especialista, podem diluir melhor o custo de um carro próprio, enquanto quem troca de modelo com frequência tende a buscar soluções que concentram despesas, ainda que com cobertura limitada ao que o contrato inclui.

O uso cotidiano como mapa para o seguro

Quando esse conjunto de variáveis se aproxima da arquitetura do seguro, surgem implicações esse mercado. Na compra, a perda total ou parcial de um veículo próprio representa impacto imediato no patrimônio do usuário, o que torna coberturas amplas essenciais para quem depende do carro para trabalhar ou circular longas distâncias. No financiamento, um sinistro pode afetar o pagamento das parcelas restantes, principalmente nos casos em que o veículo já está comprometido como garantia. E na assinatura, embora o consumidor não seja dono do automóvel, é necessário compreender até onde a cobertura oferecida pela empresa vai  e que riscos permanecem sob responsabilidade do motorista. 

Perfis, hábitos de uso e caminhos possíveis para inovação

Essa diferenciação aparece com mais clareza quando se observam casos concretos. Perfis distintos ajudam a visualizar como essas escolhas se traduzem em demandas específicas de proteção. Um motorista que utiliza o carro apenas nos fins de semana, por exemplo, pode preferir o aluguel eventual e buscar seguros de uso intermitente, ajustados ao tempo em que o veículo está de fato nas ruas. Já quem depende do carro para rodar longas distâncias diariamente tende para a compra e procura coberturas que considerem desgaste acentuado, reposição rápida e assistência ampliada. 

Há ainda o consumidor que escolhe a assinatura para garantir previsibilidade de gastos e atualização frequente do modelo; esse público pode estimular soluções que integrem seguros modulares, com inclusão de riscos associados ao perfil urbano contemporâneo, como enchentes, quedas de árvores e colisões de baixa gravidade ligadas ao trânsito mais denso. Esses exemplos mostram como o comportamento de uso cria espaços para produtos mais finos na leitura das rotinas, permitindo que seguradoras ajustem coberturas à maneira como cada pessoa se desloca e não apenas ao valor do veículo.

Novos formatos exigem dos corretores outra leitura de risco

As diferentes modalidades de acesso a veículos também exige novas leituras e, consequentemente, novas maneiras de traduzir os riscos porque elas alteram a lógica tradicional de proteção que orientava a venda de seguros. Antes, a estrutura era relativamente estável: o consumidor comprava um carro, permanecia com ele por alguns anos e buscava um seguro compatível com esse uso. Agora, os formatos de aluguel, assinatura e uso intermitente fragmentam esse padrão e criam situações que exigem leitura mais fina das rotinas dos clientes.

Para quem compra, o corretor continua lidando com a lógica patrimonial clássica, mas precisa considerar perfis que rodam mais, trabalham com o carro ou convivem com riscos urbanos que se intensificaram. No financiamento, surge a necessidade de explicar como um sinistro pode afetar as parcelas restantes, principalmente quando o veículo funciona como garantia. Já na assinatura, o corretor enfrenta um modelo em que parte da proteção já está embutida no contrato, o que exige esclarecer limites, exclusões e responsabilidades que nem sempre ficam evidentes para o consumidor.

Mobilidade como espelho das necessidades de seguro

Essas nuances mostram como a relação entre forma de uso e perfil de risco se tornou mais aparente. Decidir entre a compra, o financiamento ou a assinatura envolve entender qual arranjo financeiro sustenta melhor o tipo de mobilidade que cada pessoa adota. E, para o setor de seguros, acompanhar essa mudança significa observar como o comportamento do motorista dá nova forma ao que faz sentido proteger e de que maneira essa proteção é construída.

Postado em
2/12/2025
 na categoria
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