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Redução nos preços de medicamentos emagrecedores nos EUA pode impactar o mercado de seguros de saúde

A redução nos preços de medicamentos emagrecedores como Wegovy e Zepbound nos EUA pode redefinir o mercado de seguros de saúde. Entenda como essa mudança afeta o acesso, a precificação e a gestão de riscos no setor
Redução nos preços de medicamentos emagrecedores nos EUA pode impactar o mercado de seguros de saúde

Trump decide diminuir os preços de medicamentos emagrecedores nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (6) um acordo com as farmacêuticas Novo Nordisk e Eli Lilly para reduzir significativamente o preço das canetas emagrecedoras Wegovy e Zepbound. Esses medicamentos, parte da nova geração de agonistas do receptor GLP-1, têm sido disseminados mundialmente por sua alta eficácia no controle de peso e pela crescente popularidade nos últimos anos.

Medicamentos emagrecedores possuem alto custo eficácia e acesso ampliado

Os medicamentos emagrecedores, que ganharam fama com a propagação do uso do Ozempic, continuam em destaque por apresentarem resultados clínicos expressivos na redução do peso corporal e na melhora de biomarcadores metabólicos. Entretanto, o alto custo sempre foi um obstáculo para sua ampla adoção, o que gerou debates sobre a viabilidade de incluí-los nos rols de cobertura dos planos de saúde. Com a recente redução dos preços, no entanto, fruto de acordos federais nos EUA, abre-se a possibilidade de maior inclusão desses medicamentos nas coberturas e potencial redução de comorbidades associadas à obesidade.

Aumento da acessibilidade e impactos no seguro

A proposta americana tem como objetivo tornar os medicamentos mais acessíveis à população, já que o preço elevado, cerca de US$ 500 por mês para doses mais altas, e a cobertura limitada pelos planos de saúde são barreiras para os pacientes aderirem à mediação. Embora ainda não haja estimativas sobre o reflexo da medida no Brasil, o acordo prevê uma queda significativa no custo mensal desses tratamentos – de aproximadamente R$ 2.680 para R$ 800 no mercado americano. Além de ampliar o acesso, a iniciativa tem potencial para redefinir estratégias de cobertura e precificação no setor de seguros, estimulando uma revisão dos modelos de gestão de risco e incentivando a adoção de políticas de prevenção mais eficazes no combate à obesidade.

Obesidade e custos crescentes no sistema de saúde

A obesidade tem se mostrado uma das maiores crises de saúde pública nos Estados Unidos. Um estudo de 2021 observou, no recorte dos anos de 2001 a 2016, que a obesidade dobrou os custos anuais de assistência médica por pessoa, com gastos que variaram conforme o grau da condição, chegando a 233% a mais nos casos mais graves. Em 2016, o impacto econômico total da obesidade no país ultrapassou US$ 260 bilhões, com valores mais altos entre beneficiários de planos públicos de saúde. Dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicaram que, em 2024, cerca de 40% dos adultos americanos eram obesos, índice que, apesar da ligeira queda em relação a anos anteriores, permanece elevado e reflete uma tendência de longo prazo.

Seguradoras entre custos e cobertura

Para as seguradoras, a medida implica em uma adaptação de protocolos clínicos e redes credenciadas para incorporar novas terapias, além de uma reavaliação dos modelos atuariais e de precificação. No Brasil, a ANS define o Rol de Procedimentos que determina a cobertura mínima obrigatória dos planos de saúde. Embora o Ozempic não esteja incluído no rol, decisões judiciais e a Súmula 102 do TJSP reforçam que, havendo prescrição médica, as operadoras não podem negar o tratamento. Nos Estados Unidos, o custo elevado tem levado seguradoras a repensar suas políticas. No ano passado, o Plano Estadual da Carolina do Norte, após gastar US$ 100 milhões em um ano, decidiu suspender a cobertura do Ozempic por falta de acordo com fabricantes, gerando impacto financeiro imediato. Na época, a fabricante Novo Nordisk reagiu suspendendo os descontos, o que aumentou em US$ 54 milhões os custos com prescrições para os beneficiários que continuaram em tratamento. 

Canetas emagrecedoras não são milagrosas

As chamadas “canetas emagrecedoras” não são soluções milagrosas contra a obesidade e o seu tratamento só é realmente efetivo quando associado a hábitos saudáveis, acompanhamento médico e manutenção constante. Uma meta-análise publicada na BMC Medicine, com mais de 2 mil pacientes, mostrou que, ao suspender o uso, o peso tende a voltar em poucas semanas, muitas vezes acima do inicial. Isso ocorre porque o corpo reage à perda de gordura tentando restaurar suas reservas energéticas. Segundo especialistas, o chamado “efeito rebote” pode prejudicar a saúde, principalmente quando há perda de massa muscular e dependência do medicamento. O uso indiscriminado também preocupa por elevar custos na saúde e pressionar planos e seguradoras. Por outro lado, o cenário abre oportunidades para o setor desenvolver soluções integradas, com planos que unam cobertura de medicamentos, telemedicina e acompanhamento nutricional, além de campanhas educativas que incentivem o uso responsável e o bem-estar a longo prazo.

Aspectos regulatórios e gestão de risco

A incorporação desses medicamentos exige atenção a normas de farmacovigilância e cobertura obrigatória, além de parcerias com laboratórios e clínicas especializadas para garantir a segurança e a qualidade do atendimento. No campo da gestão de riscos, a maior eficácia no controle da obesidade pode alterar o perfil epidemiológico dos segurados, permitindo modelos mais assertivos e personalizados de precificação. A iniciativa norte-americana ilustra o poder da colaboração entre políticas públicas, indústria farmacêutica e setor de seguros. A convergência entre inovação e acesso é o caminho para mitigar o impacto econômico das doenças crônicas e transformar a gestão da saúde. 

Equilíbrio entre acesso e sustentabilidade no seguro saúde

A redução dos preços de medicamentos emagrecedores nos Estados Unidos representa uma possível virada na relação entre acesso, prevenção e sustentabilidade no sistema de saúde. Ao tornar as terapias contra a obesidade mais acessíveis, a medida impulsiona políticas de cobertura e redefine o modo como as seguradoras avaliam riscos e precificam planos. No entanto, o desafio vai além da inclusão dos remédios nas coberturas, é preciso garantir o uso responsável e integrado a estratégias de bem-estar, evitando dependência medicamentosa e custos futuros elevados. O equilíbrio entre inovação e prudência é importante para que as seguradoras criem soluções específicas considerando este novo cenário, transformando o tratamento da obesidade em uma oportunidade sustentável de cuidado contínuo. Por isso, é fundamental acompanhar as movimentações internacionais, considerando a adaptação de modelos de cobertura e promovendo uma visão de cuidado eficiente em prol dos da saúde dos segurados.

Postado em
11/11/2025
 na categoria
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