Tecnologia

Corretores de seguros: autonomia, tecnologia e relevância no mercado atual

Um olhar sobre o papel dos corretores autônomos, sua relevância no mercado nacional e internacional, e como as transformações tecnológicas impactam no trabalho desses profissionais.
Corretores de seguros: autonomia, tecnologia e relevância no mercado atual

O papel do corretor como elo entre risco, proteção e confiança

Estar dentro do universo de seguros requer conhecimento aprofundado, devido à complexidade técnica de algumas coberturas e serviços. Por isso, os profissionais do ramo devem possuir habilidade de gestão de riscos e repassar a confiança necessária para os clientes. É por conta dessa combinação de fatores que o corretor de seguros segue como elemento principal no intermédio entre seguradoras e consumidores, sendo responsável por traduzir produtos, coberturas e cláusulas em informações mais compreensíveis. Independentemente do porte do cliente ou do tipo de seguro contratado, o corretor exerce um papel consultivo necessário que contribui para decisões mais conscientes e para a proteção efetiva, seja ela patrimonial, financeira e(ou) pessoal. 

Ao longo do tempo, mesmo com o avanço dos canais digitais e da contratação direta, os corretores mantiveram sua relevância nos seguros, conectando clientes às opções de proteção mais ideais e respondendo por grande parte das vendas no Brasil e no mundo. Enquanto o mercado passa por rápidas transformações tecnológicas e desafios regulatórios, esses profissionais reafirmam sua importância ao oferecer conhecimento especializado, personalização de serviços e capacidade de adaptação às necessidades dos consumidores.

Tecnologia e transformação da profissão no contexto brasileiro

Com base numa matéria publicada no portal InfoMoney, os mais de 124 mil corretores ativos registrados na Susep, continuam sendo o principal canal de distribuição do mercado brasileiro, respondendo por aproximadamente 80% das vendas de apólices no país. Em sua maioria atuando como pessoas físicas, esses profissionais atravessam um intenso processo de transformação digital, adotando novas tecnologias para preservar competitividade e fortalecer um modelo de atuação cada vez mais consultivo e estratégico. 

É claro que, para que essas tecnologias sejam realmente eficazes e sustentáveis, é fundamental que venham acompanhadas de capacitação e conhecimento específico, permitindo que o profissional saiba utilizá-las de forma estratégica e consciente. Sem esse preparo, o uso da IA corre o risco de se tornar apenas ilustrativo. O pensamento predominante no setor é que a tecnologia deve funcionar como aliada e não substituta do corretor, cujo principal diferencial continua sendo a análise qualificada de riscos, a orientação personalizada e a construção de relações de confiança com o segurado.

Corretores autônomos no mercado internacional

Já no mercado global, especificamente nos Estados Unidos, os corretores de seguros continuam fazendo parte das discussões do setor. Dados do levantamento Independent Insurance Agent Survey 2025, conduzido pelo Property Casualty 360 em parceria com a National Association of Professional Insurance Agents, apontou que no início de 2025, os corretores enfrentaram um ambiente desafiador. A combinação de reajustes frequentes de preços, aumento dos custos com litígios, maiores perdas patrimoniais e encarecimento dos reparos pressionou tanto corretores quanto seguradoras, que começaram a operar com margens mais estreitas. A inteligência artificial e a cibersegurança também ganharam destaque nas operações e nas negociações de cobertura, enquanto mudanças políticas e regulatórias trouxeram mais incertezas ao cenário. A pesquisa buscou avaliar, portanto, como esses fatores impactaram a atuação dos corretores autônomos e identificar os principais desafios e oportunidades que devem influenciar no seu desempenho a curto prazo.

Flexibilidade e engajamento como resposta à escassez de talentos no setor de seguros

Um dos pontos observados pelo levantamento foi que a flexibilidade no modelo de trabalho tornou-se um dos principais atrativos das empresas de seguros para conquistar e manter profissionais. Os dados mostraram que mais de 75% das corretoras adotam algum formato de trabalho remoto, sendo que quase metade opera de forma totalmente remota. Além do home office, outras estratégias ganham espaço para engajar equipes, como ambientes de trabalho mais informais, investimento em tecnologia atualizada e oferta contínua de treinamentos e oportunidades de desenvolvimento profissional. Ainda assim, a escassez de talentos segue como um desafio estrutural para o setor, agravado pelo envelhecimento da força de trabalho e pela dificuldade de atrair profissionais mais jovens e qualificados, especialmente aqueles abertos à inovação e à mudança de práticas tradicionais.

Inteligência artificial avança com cautela nas agências

Outro fator salientado na pesquisa foi o pouco uso da inteligência artificial pelos profissionais. Embora a IA seja fortemente apontada como um vetor de transformação, sua adoção prática nas corretoras de seguros ainda ocorre de forma limitada. Em 2025, apenas cerca de um quarto dos entrevistados afirmou utilizar IA em ações de marketing, apesar de esse uso ter sido amplamente considerado promissor em pesquisas anteriores. Na prática, quase metade dos profissionais declarou não utilizar a tecnologia em nenhuma área do negócio. A resistência está ligada, principalmente, à cautela com a confiabilidade das informações geradas e à segurança dos dados. Mesmo com a redução dessas preocupações em relação a anos anteriores, o setor ainda demonstra dificuldade em romper com processos consolidados, indicando que a incorporação da IA tende a ocorrer de forma gradual, à medida que a maturidade tecnológica e a confiança nas ferramentas evoluem.

Desafios e superações no dia a dia do corretor

Ainda segundo os resultados observados na pesquisa do Property Casualty 360, a alta concorrência, a necessidade permanente de atualização técnica e regulatória e a gestão eficiente do próprio negócio exigem perfil cada vez mais empreendedor, além de forte capacidade de networking, prospecção ativa e relacionamento com clientes para sustentar o crescimento. a combinação entre concorrência acirrada, pressão econômica e necessidade de gestão eficiente do próprio negócio tem afetado especialmente pequenas e médias agências. Mais de um terço dos profissionais relatou queda nas vendas e renovações, enquanto a maioria percebe clientes reduzindo ou ajustando coberturas diante do aumento dos prêmios e do custo de vida. 

Lentidão no retorno das seguradoras, dificuldade de acesso a informações claras e excesso de burocracia nos processos são entraves

No Brasil, um levantamento da seguradora Justos apontou entraves estruturais que impactam diretamente a atuação dos corretores e a experiência do cliente. Entre os principais problemas estão a lentidão no retorno das seguradoras, a dificuldade de acesso a informações claras, o excesso de burocracia nos processos, a falta de integração entre sistemas e a carência de capacitação adequada. Essas falhas se tornam ainda mais críticas nos momentos de sinistro, quando surgem dificuldades na análise dos casos, falta de transparência, demora na indenização e dúvidas sobre os direitos do segurado. 

Práticas para contornar os desafios

Em um contexto marcado por restrições econômicas, pressão sobre preços e rápidas mudanças tecnológicas e regulatórias, corretores e agências independentes buscam soluções práticas para manter a competitividade. O cenário reforça a necessidade de evolução do setor, com foco na simplificação de processos, maior fluidez no acesso às informações e investimento em ferramentas que ampliem a autonomia do corretor. Ao reduzir fricções operacionais e fortalecer os profissionais que atuam diretamente com o cliente, o mercado tende a avançar em eficiência, confiança e qualidade no atendimento. Segundo a análise de Mike Skiados, CEO da PIA National, os resultados da pesquisa funcionam como um direcionamento para apoiar o crescimento sustentável dos negócios no curto e médio prazo. Assim, ele recomenda algumas práticas para superar os desafios atuais. São elas:

  • Estratégia de preços: incentivar uma atuação mais colaborativa com as seguradoras, com foco na estabilização das taxas e no aumento da transparência para o cliente final.
  • Uso responsável da IA: estabelecer diretrizes claras para a adoção ética e eficiente da inteligência artificial, sem perder o caráter humano do relacionamento com o segurado.
  • Formação de talentos: investir em programas estruturados de recrutamento, capacitação e desenvolvimento voltados especialmente para profissionais mais jovens.
  • Acesso ao mercado: dialogar com seguradoras sobre modelos de comissão, apetite de risco e maior flexibilidade comercial.
  • Gestão de riscos: ampliar a educação dos clientes sobre soluções de resiliência climática e coberturas adequadas a novos cenários de risco.
  • Atuação regulatória: reforçar medidas regulatórias para contribuir com regras mais equilibradas, claras e aplicáveis à realidade do setor.

Corretores de seguros no centro da transformação do mercado

Os corretores de seguros seguem tendo um papel de destaque no mercado segurador, mesmo diante de um cenário marcado por pressões econômicas e avanços tecnológicos. Diante da burocracia, falta de integração, escassez de talentos e dificuldades no atendimento de sinistros, o caminho prático começa pela simplificação de processos, maior fluidez de informações e investimentos que ampliem a autonomia do corretor. Apesar dos desafios, esses profissionais continuam liderando a distribuição de seguros e adaptando-se às transformações do setor tanto no Brasil quanto no exterior. Sua função reforça a importância da consultoria personalizada em um mercado cada vez mais dinâmico, onde confiança, conhecimento técnico e flexibilidade de opções são diferenciais decisivos para os segurados.

Postado em
17/12/2025
 na categoria
Tecnologia
Deixe sua opinião

Mais sobre a categoria

Tecnologia

VER TUDO