Veo 3 e os vídeos deepfake: como o setor de seguros pode se proteger contra fraudes digitais realistas

Deepfakes cada vez mais convincentes
As tecnologias de IA tem evoluído bastante nos últimos tempos – o que, por um lado, promove vantagens, mas por outro, pode gerar consequências maliciosas. O Veo 3, IA lançada pelo Google, possibilita a criação de vídeos (deepfakes) com aparência ultrarrealista, o que dificulta a detecção de fraudes, ampliando os riscos de usuários e empresas sofrerem golpes digitais. Apesar de iniciativas como a SynthID – tecnologia do Google que insere uma marca d’água nos vídeos gerados por IA – e da coalizão C2PA, que busca padronizar metadados para indicar conteúdos sintéticos, especialistas alertam que essas medidas ainda são frágeis e facilmente burladas. O Veo 3 utiliza aprendizado profundo para produzir vídeos com expressões faciais, entonações e contextos extremamente convincentes. Tendo isso em vista, é importante que os seguros estejam preparados para lidar com possíveis riscos, uma vez que a ferramenta pode ser aproveitada por criminosos digitais como veículo para práticas de fraudes.
Fraudes digitais em alta e preocupações para os seguros
As deepfakes são conteúdos altamente realistas e que podem ser usados para simular sinistros, dificultando a verificação da veracidade e aumentando o potencial de fraudes. De acordo com a pesquisa Radar Febraban, os golpes ou tentativas subiram de 33% em setembro de 2024 para 38% em março de 2025. Entre os golpes mais comuns estão a clonagem ou troca de cartões (40%), pedidos falsos via WhatsApp (28%), falsas centrais de atendimento (26%) e fraudes com PIX (16%). Apenas em 2024, o setor bancário investiu R$ 5 bilhões em ações preventivas. Esse panorama também desafia as seguradoras a investirem em soluções de análise e autenticação, protegendo os processos e a confiança do mercado. “O desafio é diário, permanente e requer energia, criatividade, muita atenção e esforço não só do setor bancário, mas de todos os segmentos econômicos, dos poderes constituídos e da sociedade”, comentou o presidente da Febraban, Isaac Sidney.
Tecnologia como aliada no combate aos vídeos falsos
Diante da ameaça das deepfakes, o setor de seguros precisa trabalhar de forma efetiva para garantir a segurança e a integridade dos processos. Isso inclui o uso de ferramentas tecnológicas cada vez mais sofisticadas, capazes de identificar fraudes visuais com precisão. Soluções baseadas em análise de microexpressões, padrões de piscar de olhos e movimentos faciais incoerentes podem auxiliar no combate e redução desses riscos, assim como tecnologias de blockchain, que ajudam a atestar a autenticidade dos arquivos enviados na regulação de sinistros.
Treinamento e protocolos de verificação ganham protagonismo
A capacitação e a criação de protocolos rigorosos são práticas de extrema importância, considerando o cenário global de cibercrimes, para reforçar a segurança no atendimento e na avaliação de sinistros. Qualificar as equipes, estabelecer diretrizes de verificação, promover treinamentos contínuos – são medidas que podem ajudar os profissionais a reconhecerem indícios de irregularidades. Portanto, aliar tecnologia de detecção automatizada com a expertise humana, pode contribuir para as seguradoras garantirem maior eficácia na identificação de fraudes complexas.
Educação do cliente e uso de dados para fornecer transparência
Companhias que atuam com especialização digital também devem buscar educar e conscientizar os clientes sobre os riscos das fraudes digitais. Orientar os segurados sobre os riscos virtuais e incentivá-los a fornecer evidências complementares, como relatórios técnicos, depoimentos e dados gerados por dispositivos conectados por meio de IoT, fortalece a apuração dos sinistros. Outro ponto relevante é a transparência na comunicação com o cliente. Estabelecer políticas claras sobre o uso de vídeos e imagens no processo de sinistros aumenta a confiança dos usuários.
Susep e o papel do regulador na era da IA
No contexto atual de transformação digital, a Susep tem atuado de forma ativa, acompanhando o impacto das novas tecnologias no setor de seguros. O órgão tem incentivando a adoção de boas práticas, além de promover a colaboração entre seguradoras e a discussão sobre a temática de crimes cibernéticos. Promover espaços de trocas por meio de eventos e exposições facilita o entendimento dos profissionais do setor em relação a identificação de padrões suspeitos, impulsionando a prevenção e o combate às fraudes de forma mais coordenada. Assim, não só o investimento em tecnologia, mas também o fortalecimento de entidades em conjunto no mercado e o aperfeiçoamento de processos internos, são mecanismos que fazem a diferença para mitigar os riscos do uso desenfreado de ferramentas como o Veo 3.
Como os seguros podem vencer a era das deepfakes
A chegada de novos recursos de IA que simulam vídeos humanos e geram deefakes, aponta para uma nova fase nos riscos digitais, que podem ser enfrentados pelo mercado segurador. Em contrapartida, o mesmo avanço tecnológico que impulsiona as fraudes também pode ser a chave para combatê-las. Combinando inteligência artificial, blockchain, capacitação de equipes e uma relação transparente com os clientes, o setor tem as ferramentas necessárias para transformar vulnerabilidades em fortalezas. Por isso, o mercado deve atuar de forma preventiva e colaborativa — investindo em inovação, educação e processos mais rigorosos. A era dos deepfakes exige agilidade, mas também abre espaço para uma nova geração de seguros mais eficientes e preparados para o futuro digital.