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O papel do seguro na estrutura que sustenta a produção cinematográfica

O papel do seguro na estrutura que sustenta a produção cinematográfica
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indústria cinematográfica sempre conviveu com o risco. Filmes que consomem orçamentos vultosos, muitas vezes impulsionados por estratégias ousadas de estúdios, nem sempre encontram o público esperado — e o impacto de um fracasso comercial pode ser devastador. Títulos como Cleópatra e A Bússola de Ouro, embora tenham contado com elencos renomados e investimentos massivos, acumularam prejuízos que quase comprometeram a sobrevivência de seus respectivos estúdios.  Essa lógica vale inclusive para nomes lendários da direção. Martin Scorsese e Steven Spielberg, diretores que ajudaram a construir as bases do cinema moderno, também acumularam fracassos pontuais em bilheteria ao longo das décadas. A distância entre aclamação crítica e êxito comercial é uma constante que desafia o planejamento de qualquer projeto. Mesmo com acesso a equipes técnicas de excelência, marketing intenso e canais de distribuição estabelecidos, não há como prever com precisão como uma obra será recebida.

O cinema é uma atividade de alta imprevisibilidade

Em todos esses casos, o custo de errar foi medido em milhões — e deixou um rastro de contenção orçamentária para futuras produções. O que une esses episódios é a constatação de que o cinema, mesmo quando sustentado por marcas conhecidas e planos ambiciosos, permanece como uma atividade de alta imprevisibilidade.

Essa falta de previsibilidade, no entanto, não impede que estúdios persistam em escolhas arriscadas. Um exemplo recente é o caso do filme A Múmia (2017). Mesmo com um elenco de peso e orçamento que ultrapassou os US$300 milhões (considerando divulgação e distribuição), o projeto afundou ainda na primeira tentativa. O prejuízo estimado de US$90 milhões não impediu que, oito anos depois, o estúdio anunciasse um reboot da mesma obra.

Riscos operacionais: o seguro atua onde há risco concreto, contratável e recorrente

Essa decisão reacende a discussão sobre o padrão de investimento recorrente em ideias que já demonstraram limitações comerciais. A aposta na repetição — ainda que disfarçada de inovação — parece parte de uma cultura que prefere dobrar a aposta a revisar as bases do risco. Nesse ponto, é necessário diferenciar dois tipos distintos de ameaça à viabilidade de uma produção: os riscos comerciais, que dizem respeito à resposta do público e às dinâmicas do mercado, e os riscos operacionais, ligados às etapas concretas da realização de um filme. O risco comercial é, por definição, incerto. Nenhum contrato, equipe ou planejamento consegue garantir retorno em bilheteria. Já o risco operacional, por outro lado, pode e deve ser gerido com responsabilidade — e é aqui que o seguro cinematográfico entra como uma ferramenta decisiva, embora ainda subutilizada por muitas produções.

Coberturas específicas para riscos operacionais em produções audiovisuais

No Brasil, algumas seguradoras já oferecem produtos específicos para o setor audiovisual. É o caso do RC Filmes - Seguro de Responsabilidade Civil Eventos e Exposições Tokio Marine, voltado a produtoras, locadoras e empresas do setor. A cobertura se estende da pré à pós-produção, amparando danos involuntários causados a terceiros, incluindo prestadores de serviço e participantes das filmagens. Também contempla ações emergenciais, despesas de defesa judicial e sinistros ocorridos em processos de montagem e desmontagem de estrutura.

Há ainda coberturas adicionais como responsabilidade por bens de terceiros, veículos de cena, equipamentos audiovisuais, cancelamentos, roubo de valores e até ausência de profissionais contratados. O produto permite personalização de apólices, agilidade de contratação online e suporte técnico especializado — o que representa um avanço em termos de estrutura e capacidade de resposta em caso de imprevistos.

O seguro delimita o risco da produção para que o imprevisível fique apenas com o público

Esse tipo de seguro não impede que uma produção fracasse nas bilheteiras. Mas impede que ela fracasse antes mesmo de ser entregue ao público, por motivos que poderiam ser evitados. Num setor em que cada dia de gravação tem um custo alto e que imprevistos podem significar perdas irrecuperáveis, operar sem essa proteção é estender o risco para além do inevitável. Se o mercado do entretenimento vive de apostas, a responsabilidade de quem realiza está justamente em limitar o alcance do imponderável. Já basta depender da recepção do público, das condições de lançamento ou da competição com blockbusters simultâneos. O que acontece entre o papel e a tela precisa ser protegido com a mesma seriedade com que se planeja um roteiro.

Postado em
23/5/2025
 na categoria
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