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Falsificação de canetas emagrecedoras: os riscos à saúde e os desdobramentos para o mercado de seguros

Com a popularidade das canetas emagrecedoras, fraudes e falsificações começaram a surgir, provocando problemas na saúde individual. Como isso pode gerar desafios e repercutir no setor de seguros?
Falsificação de canetas emagrecedoras: os riscos à saúde e os desdobramentos para o mercado de seguros

Crescimento no uso dos análogos de GLP-1

Nos últimos meses, tem-se percebido um boom na procura pelas chamadas “canetas emagrecedoras”, medicamentos à base dos agonistas do receptor GLP-1, como o Ozempic, Mounjaro e similares, tidos como soluções rápidas para perda de peso. Projeções indicam que esse mercado pode chegar a US$150 bilhões no mundo até 2030 e movimentar bilhões também no Brasil.. Nos Estados Unidos, 12,4% dos adultos já utilizam esses fármacos, com maior adesão entre mulheres e pessoas de 40 a 64 anos. Pesquisas mostram ainda que o uso está cada vez mais associado ao emagrecimento: seis em cada dez usuários afirmam buscar o medicamento com esse objetivo. 

Seguro saúde se depara com novas variáveis de risco

Esse avanço, porém, vem acompanhado da expansão de um mercado clandestino que expõe consumidores a riscos graves. Esse fenômeno ganha relevância para o setor de seguros, especialmente de saúde, que se depara com novas variáveis de risco, fraudes potenciais e dilemas de cobertura.

Canetas clandestinas de Mounjaro e apreensão de medicamentos falsos

A Anvisa identificou diversos anúncios falsos, em redes sociais e em sites que simulam o domínio oficial do órgão, oferecendo os remédios a preços reduzidos ou até gratuitamente após um “cadastro”. Segundo a agência, esses anúncios são golpes, pois a Anvisa não comercializa medicamentos nem intermedia vendas. Além disso, a fiscalização regulatória já proibiu a fabricação, importação, comercialização e propaganda de alguns produtos que se autodeclaram “canetas emagrecedoras”, porque não têm registro sanitário no Brasil. Além disso, uma operação da Polícia Federal desmontou uma rede criminosa responsável pela fabricação clandestina de tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro. O grupo produzia, fracionava e distribuía o composto em condições totalmente inadequadas, simulando um processo industrial sem qualquer controle de qualidade, esterilidade ou rastreabilidade. As investigações mostram que o esquema usava plataformas digitais e estratégias de marketing para convencer consumidores de que essa produção irregular seria permitida.

Perigos para a saúde: além da promessa de emagrecimento

O cenário relatado afeta a saúde pública, além de demonstrar o fortalecimento de um mercado clandestino alimentado pela ânsia por resultados rápidos e pela “cultura do corpo ideal”. Medicamentos como os de classe GLP-1 têm indicações legítimas, mas também podem ter efeitos colaterais e restrições e o seu uso indiscriminado, sem supervisão médica, traz riscos à saúde. O uso “off-label” para emagrecimento, sem diagnóstico formal de obesidade, ignora a necessidade de acompanhamento médico e nutricional, e quando se trata de produtos falsificados ou adquiridos via mercado ilegal, os riscos aumentam, porque não há garantia sobre a a procedência da fabricação ou dosagem correta – o que pode gerar efeitos adversos graves e até intoxicações. Nesse contexto, o apelo estético e a promessa de “emagrecimento fácil” criam uma armadilha perigosa, que mistura desinformação, vulnerabilidade social e riscos reais à saúde.

Proposta de redução no preço e a ilusão das canetas emagrecedoras

No cenário internacional, recentemente o governo dos Estados Unidos, na intenção frear o aumento da obesidade e tornar a medicação – que é custosa – mais acessível, anunciou um acordo com as fabricantes Novo Nordisk e Eli Lilly para reduzir os preços de Wegovy e Zepbound. No entanto, a acessibilidade e disseminação das canetas emagrecedoras esconde riscos importantes. Estudos mostram que, ao interromper o uso de medicamentos como o Ozempic, muitos pacientes recuperam o peso perdido entre 8 e 20 semanas, muitas vezes acima do peso inicial, devido a mecanismos fisiológicos de defesa do corpo. Especialistas alertam que esse “efeito sanfona”, associado à perda de massa muscular e ao uso sem acompanhamento médico, pode agravar problemas de saúde. Além dos riscos clínicos, o uso indiscriminado desses fármacos pressiona o setor de seguros, podendo aumentar custos e gerar incertezas sobre cobertura, expondo operadoras a fraudes, especialmente quando o medicamento é utilizado com fins estéticos. 

Impactos no seguro saúde

O uso crescente e muitas vezes irregular desses medicamentos tem gerado preocupação no setor de seguros de saúde. A onda de uso do Ozempic e similares pode exercer forte pressão sobre os planos de saúde, dada a incerteza sobre quem cobre tratamentos off-label ou complicações advindas de uso indevido. 

Do ponto de vista das seguradoras, há pelo menos três desafios principais:

  • Risco de custos elevados: se a demanda por tratamentos com esses medicamentos disparar, os custos das operadoras podem aumentar significativamente — especialmente em países ou mercados onde o uso não está restrito.
  • Cobertura incerta ou recusa: na legislação brasileira, os planos de saúde cobrem doenças listadas no CID, e nem sempre medicamentos fora da bula (off-label) têm cobertura garantida. Isso gera insegurança para segurados e operadoras. 
  • Fraudes e abuso de apólices: com a proliferação de falsificações e do mercado ilegal, há risco de uso fraudulento do sistema de seguro, seja por pessoas que adquirem remédios clandestinos ou por quem tenta incluir tratamentos não aprovados nos planos. Esse panorama torna mais complexa a avaliação de risco para as seguradoras.

Além disso, em uma tendência global, existe pressão para que seguros de saúde revisitem sua estrutura de cobertura diante de novas terapias e medicamentos populares, equilibrando acesso, custo e segurança. 

Papel social das seguradoras e a proteção necessária

O fenômeno das “canetas emagrecedoras” revela que a busca por emagrecimento rápido e estético pode se transformar em um espaço fértil para fraudes, riscos sanitários e desafios para o sistema de saúde e seguradoras. A popularidade de medicamentos como Ozempic, Mounjaro, Wegovy, – e versões não aprovadas ou falsificadas – expõe fragilidades regulatórias e a vulnerabilidade de pessoas seduzidas por promessas de transformação corporal imediata. Para além da responsabilização individual, há a necessidade de atuação conjunta de autoridades de saúde, órgãos reguladores, mercado farmacêutico e setor de seguros. Isso inclui fiscalização rigorosa, campanhas de conscientização, transparência na oferta de tratamentos e, no caso das seguradoras, adaptação de políticas de cobertura a novas realidades de saúde. O uso de medicamentos para emagrecer não deve ser banalizado como mera “moda”. A saúde, a eficácia e a segurança precisam prevalecer e isso depende de responsabilidade coletiva, regulação firme e escolhas informadas.

Postado em
1/12/2025
 na categoria
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