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Violência doméstica e o papel do seguro: como o setor pode apoiar vítimas com proteção e assistência

Violência doméstica e o papel do seguro: como o setor pode apoiar vítimas com proteção e assistência

Casos de violência domésticas continuam chocando o país

Seis anos após sobreviver a uma tentativa brutal de feminicídio, a paisagista Elaine Caparroz ainda lida com as marcas físicas e emocionais das agressões que sofreu por horas dentro do próprio apartamento, no Rio de Janeiro. Ela passou por mais de dez cirurgias e segue em tratamento psicológico. O caso voltou à tona após um episódio semelhante em Natal (RN), onde Juliana Soares, de 35 anos, foi violentamente agredida com 61 socos pelo ex-jogador de basquete Igor Cabral, em um elevador de condomínio, cena registrada por câmeras de segurança. Ambas tiveram o rosto desfigurado, múltiplas fraturas e traumas graves. Esses casos escancaram a gravidade da violência doméstica no Brasil e reforçam a urgência de políticas eficazes e ações concretas do poder público, privado e sociedade como um todo para reverter esse cenário. É essencial garantir às vítimas proteção integral, com apoio psicológico, jurídico e social que promova segurança e dignidade.

Dados reforçam a necessidade de soluções destinadas a vítimas de violência

A 5ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres” no Brasil, divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela um crescimento preocupante da violência de gênero desde 2017, especialmente contra mulheres negras, com até 60 anos e divorciadas. O levantamento, realizado em fevereiro de 2025 com cerca de 2 mil entrevistados em todo o país, mostra que 32,5% das brasileiras já sofreram violência física ou sexual de parceiros ou ex-parceiros, índice superior à média global de 27%, segundo a OMS. A pesquisa investigou não só os episódios de agressão, mas também o controle coercitivo nas relações e a percepção da violência nas comunidades. Diante de dados tão preocupantes, o setor de seguros pode agir em função de sua responsabilidade social, criando produtos e serviços voltados às necessidades das vítimas de violência. Considerando o cenário atual, é mais do que necessário oferecer apoio e acolhimento emocional, contribuindo para a reconstrução de vidas.

Ferramenta de amparo e reintegração

Os seguros podem e devem evoluir para abranger também aspectos de assistência e prevenção. Dessa forma, podem desenvolver produtos que ofereçam cobertura para tratamentos médicos especializados, acompanhamento psicológico contínuo e práticas que ajudem a amparar efetivamente as vítimas. Ferramentas digitais também podem contribuir nesse processo, proporcionando um atendimento rápido, seguro e confidencial, além de facilitar a conexão com redes de apoio e órgãos de proteção. 

Seguradora oferece cobertura ampliada para vítimas de agressão

Levando em conta os dados de violência doméstica no Brasil, o mercado segurador brasileiro tem dado passos importantes na criação de soluções voltadas ao enfrentamento dessa realidade, com coberturas que contemplam serviços de atendimento emergencial e suporte psicossocial às vítimas. A seguradora AXA, por exemplo, ampliou os benefícios de seus seguros de vida para além do tradicional, incluindo assistências voltadas a causas sociais. “Imagina que uma empresa tem um funcionário, ou alguém da família desse funcionário, uma mulher que está sofrendo violência doméstica. A gente tem uma assistência chamada ‘Maria’ que ajuda de forma psicológica [...] e é uma forma mais ampliada para tirar essa pessoa dessa situação de vulnerabilidade” – explica Clóvis Silva, diretor da AXA no Brasil. Portanto, iniciativas como essa enfatizam o compromisso ético das seguradoras, diferenciam seus produtos em um mercado ainda pautado por modelos tradicionais e podem fortalecer o vínculo com os clientes.

Práticas de prevenção e parcerias 

Outro aspecto relevante é a atuação preventiva. Seguradoras podem estabelecer parcerias com ONGs, serviços públicos e iniciativas educativas para fomentar a prevenção da violência doméstica. Um diálogo alinhado entre os setores público e privado potencializa o impacto das ações e contribui para a construção de uma rede de proteção mais efetiva. Estimular a autonomia econômica das mulheres também é importante para romper o ciclo de dependência e vulnerabilidade que muitas vezes impede a mulher de deixar o agressor. Por isso, a prevenção e a conscientização precisam estar no foco do debate, por meio de campanhas educativas voltadas à identificação precoce dos sinais de abuso, como o controle excessivo, o isolamento social e a manipulação emocional, que, embora sutis, costumam anteceder episódios mais graves de violência física. Além disso, é necessário incentivar o diálogo nas escolas, empresas e comunidades, promovendo a equidade de gênero e combatendo estigmas que silenciam as vítimas.

Seguro como instrumento de transformação social

Diante da alarmante realidade da violência doméstica no Brasil, o setor de seguros tem a oportunidade e a responsabilidade de ir além da lógica tradicional de proteção financeira. É necessário compreender que o enfrentamento da violência doméstica exige um olhar multidimensional, e o setor de seguros também pode ir em busca de minimizar impactos, oferecendo suporte e promovendo a recuperação das vítimas. Inovar em produtos, processos e parcerias será fundamental para que o mercado exerça sua responsabilidade social com eficácia. Trata-se de assumir uma postura que adeque produtos com inovação tecnológica, responsabilidade social e integração com políticas públicas. Iniciativas como assistências especializadas, parcerias com organizações sociais e campanhas educativas mostram que o mercado pode promover a proteção da vida, da dignidade e da autonomia das mulheres.

Postado em
8/8/2025
 na categoria
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