ompartilhamento de dados gera processo contra Toyota e Progressive
Um processo movido contra a Toyota e a Progressive Insurance nos Estados Unidos trouxe à tona preocupações sobre o uso indevido de dados telemáticos de motoristas. Segundo a ação, essas empresas teriam coletado e compartilhado informações como localização, velocidade, frenagem e comportamento ao volante sem o consentimento claro dos consumidores. A Connected Analytic Services (CAS), empresa parceira, teria atuado como intermediária na transferência dos dados, que foram usados pela seguradora para definir valores de apólices em programas baseados no uso (UBI). Embora a Progressive afirme que o programa Snapshot exige o consentimento do usuário, o autor da ação, Philip Siefke, afirma que mesmo recusando participação, teve seus dados utilizados. Ele descobriu isso quando tentou contratar um seguro para seu Toyota RAV4, e foi informado pela própria seguradora que seus dados já estavam disponíveis. Posteriormente, a Toyota alegou que o compartilhamento estaria vinculado a um período de teste, ativado sem aviso claro ao consumidor. A ação coletiva busca impedir a continuidade da coleta de dados sem autorização, exige a exclusão das informações obtidas ilegalmente e solicita compensações financeiras.
A proteção de dados como prioridade
O caso acima reacende o debate sobre a privacidade de dados no setor de seguros automotivos e evidencia a importância de práticas transparentes em tempos de transformação digital. O uso intensivo de dados no setor de seguros é uma tendência consolidada, mas que exige responsabilidade redobrada. Proteger as informações dos segurados é fundamental para preservar a confiança do cliente e atender a regulamentações cada vez mais rigorosas. Para isso, as seguradoras precisam investir em processos robustos de obtenção de consentimento, garantir o uso ético dos dados e manter uma comunicação transparente sobre como as informações são coletadas e utilizadas. Recentemente, por exemplo, uma falha no iOS, sistema da Apple, expôs uma brecha que permitia o acesso não autorizado a dados sensíveis dos usuários. A resposta rápida da empresa, com a liberação de uma atualização de segurança, reforça a importância de estruturas de cibersegurança para corrigir falhas e garantir a proteção dos usuários. Para o mercado de seguros, o episódio reforça a necessidade de adotar medidas preventivas rigorosas, com investimentos constantes em segurança da informação para prevenir vazamentos, mitigar riscos e proteger a privacidade dos consumidores.
Uso dos dados em benefício dos segurados
O uso inteligente dos dados pode gerar benefícios diretos para o segurado, como personalização de coberturas, descontos por adoção de boas práticas e alertas em tempo real para prevenção de sinistros. No entanto, isso só se concretiza com uma governança de dados bem estruturada, em que o consumidor dá consentimento claro e informado e tem suas informações protegidas por tecnologias avançadas. Ferramentas de inteligência artificial e machine learning permitem monitorar padrões de risco em tempo real, enquanto blockchain assegura a imutabilidade e a rastreabilidade dos registros. Além disso, soluções como VPNs e técnicas de criptografia garantem a confidencialidade durante a transmissão das informações. A conformidade com a LGPD e com normas estaduais emergentes também reforça a necessidade de autorregulação e de parcerias público-privadas, incentivando o setor a desenvolver políticas internas que valorizem tanto a inovação quanto a privacidade do segurado.
Tecnologia impulsiona transformação no seguro auto diante de novos desafios
Dois grandes acontecimentos que deixaram marcas no setor de seguros automotivos foram: a pandemia de Covid-19 e a desaceleração econômica. De acordo com estudo da Deloitte, entre 2020 e 2022, a sinistralidade saltou de 56% para 80%, forçando as seguradoras a reverem processos, produtos e formas de se relacionar com os clientes. A resposta a esse cenário veio pela via tecnológica: inteligência artificial, automação e análise de dados tornaram-se ferramentas indispensáveis para lidar com riscos mais complexos. Modelos “pay-per-use” e “pay-as-you-drive”ganharam espaço no Brasil, refletindo novas demandas de consumidores que valorizam flexibilidade e conveniência. Ao mesmo tempo, a adoção de tecnologias avançadas nos carros elevou os custos de manutenção e calibração, enquanto roubos de peças como conversores catalíticos se multiplicaram. Essa realidade tem influenciado o comportamento do consumidor: 45% dos motoristas entre 18 e 34 anos afirmam já ter cogitado dirigir sem seguro; 17% admitem que já o fazem. Com isso, cresce a rotatividade de apólices, pressionando os custos de aquisição e retenção de clientes.
Apesar das dificuldades, especialistas apontam que esse momento também representa uma oportunidade de reinvenção para o setor. O uso estratégico da tecnologia aprimora a precificação e a mitigação de fraudes, e permite que as seguradoras sejam mais proativas e próximas do cotidiano dos segurados.
Blockchain como proteção
A tecnologia, quando aplicada de maneira eficiente, permite o armazenamento seguro e transparente de informações, dificultando o uso indevido dos dados pessoais dos segurados. O uso de criptografia avançada e autenticação multifatorial está se tornando cada vez mais comum, ajudando a criar um ecossistema digital mais seguro e confiável para todos os envolvidos. Essas inovações estão ajudando a transformar o setor de seguros, garantindo maior segurança e eficiência nos processos. No contexto do seguro auto, a aplicação de blockchain permite a criação de registros imutáveis e transparentes sobre o comportamento de direção, como a velocidade e a localização, sem comprometer a segurança dos dados. A tecnologia também pode facilitar a personalização de apólices, permitindo que as seguradoras ajustem as condições de acordo com o comportamento individual dos motoristas, sem violar a privacidade dos usuários.
O alerta digital para o setor de seguros
O processo judicial envolvendo a Toyota e a Progressive demonstra os riscos no cruzamento entre tecnologia automotiva e seguros, onde dados dos clientes são coletados em larga escala, mas nem sempre com transparência e responsabilidade. À medida que as seguradoras incorporam tecnologias avançadas, como a telemetria, para otimizar suas ofertas, a vulnerabilidade das informações sensíveis também cresce. Este caso destaca a necessidade urgente de as seguradoras não somente cumprirem regulamentos de proteção de dados, mas adotarem práticas efetivas de segurança cibernética e uma comunicação clara e constante com os clientes sobre como seus dados são coletados e protegidos – práticas que devem fazer parte da estratégia de todas as empresas do setor, garantindo que a inovação tecnológica venha acompanhada de ética digital. Diante de uma realidade de desconfiança com o uso dos dados, o compromisso com a privacidade pode ser o diferencial competitivo.