IA decifra manuscrito soterrado há milênios e estimula debates sobre inovação na restauração de bens segurados

á descobertas que não chamam atenção tanto pelo que revelam quanto pelo método empregado para desvendá-las. Recentemente, pesquisadores conseguiram identificar o autor de um pergaminho soterrado pelo Vesúvio há quase dois mil anos, usando uma combinação de inteligência artificial e imagens por raio-X. O pergaminho, parte de uma coleção preservada na biblioteca de uma antiga vila romana, estava tão danificado que, a olho nu, não se percebia sequer que havia inscrições. Essa façanha tecnológica na área da arqueologia é também marco metodológico: pela primeira vez, um documento desse tipo foi lido sem precisar ser desenrolado ou fisicamente manipulado.
Como a tecnologia foi adaptada para ler o pergaminho soterrado
O trabalho envolveu um acelerador de partículas para escanear o pergaminho e modelos de inteligência artificial adaptados, originalmente projetados para análises médicas, que foram treinados para distinguir traços invisíveis de tinta em meio a camadas de cinza e pedra-pomes. O sistema, após inúmeras rodadas de treinamento e leitura, gerou imagens legíveis que permitiram aos especialistas acessar conteúdos inéditos, entre eles inscrições atribuídas a Filodemo e referências à coleção “Sobre os Vícios”. Mais de trinta outros pergaminhos já passaram por análises similares, em laboratórios espalhados pela Europa. O uso de IA para revelar informações enterradas pelo tempo lança um novo olhar sobre a interface entre tecnologia, preservação e conhecimento.
Lições tecnológicas que ultrapassam os limites da arqueologia
Ao observar essa conquista, é inevitável pensar em suas ramificações para além do campo da arqueologia. Afinal, o que significa, para outras áreas, poder recuperar dados e reconstruir elementos quase apagados pela passagem dos séculos? No campo dos seguros, por exemplo, esse tipo de tecnologia abre espaço para imaginar novos métodos de perícia em bens danificados, sejam obras de arte, documentos raros ou mesmo construções atingidas por desastres naturais. A capacidade de extrair informações ocultas, sem a necessidade de intervenção invasiva, muda radicalmente o que pode ser considerado acessível à análise técnica e pode ajudar seguradoras a fazer avaliações mais precisas sobre riscos e danos.
O que a inteligência artificial pode oferecer ao setor de seguros
Além disso, a aplicação da IA nessa situação demonstra como modelos treinados para uma função podem ser redirecionados para resolver problemas de outra natureza. O modelo usado pelos pesquisadores havia sido concebido para lidar com imagens médicas, mas, com ajustes, tornou-se capaz de detectar traços de tinta antigos. Isso aponta para um potencial de adaptação que também interessa ao mercado segurador: algoritmos desenvolvidos para áreas como saúde ou finanças podem ser reconfigurados para lidar com desafios relacionados à detecção de fraudes, análise de sinistros ou projeções de risco, ampliando o repertório tecnológico das seguradoras.
Novas possibilidades para perícia e preservação de bens segurados
Outro questão a ser observada é o valor simbólico que essas tecnologias carregam ao lidar com bens de natureza cultural e histórica. Quando seguradoras assumem contratos envolvendo objetos de patrimônio, como coleções particulares, acervos museológicos ou imóveis tombados, a capacidade de preservação e de recuperação de informações agrega uma camada de responsabilidade que vai além do simples pagamento de indenizações. Avanços como os vistos no trabalho com os pergaminhos de Herculano ajudam a pensar em soluções que contribuam, também, para a conservação e a memória.
O papel das seguradoras diante de inovações tecnológicas
A notícia sobre os pergaminhos serve como um lembrete sobre o papel das seguradoras diante das transformações tecnológicas. Mais do que acompanhar tendências, trata-se de refletir sobre como cada nova ferramenta pode ser incorporada para ampliar capacidades internas, seja no atendimento ao cliente, seja na sofisticação das análises técnicas. Se a inteligência artificial foi capaz de dar voz a manuscritos soterrados há milênios, que tipo de respostas ela poderá oferecer ao setor segurador nas próximas décadas? A resposta talvez esteja menos em seguir modismos e mais em investir em formas concretas de traduzir tecnologia em valor agregado, tanto para as empresas quanto para os segurados.