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Tsunami e seguros: o que poderia ser coberto em caso de desastre natural no Brasil?

Tsunami e seguros: o que poderia ser coberto em caso de desastre natural no Brasil?

Na madrugada de 29 de julho, um terremoto de magnitude 8,8 na Península de Kamtchatka, costa leste da Rússia, desencadeou um tsunami e acabou atingindo moradores próximos da região. O abalo sísmico, considerado o mais forte na área desde 1952, teve seu epicentro a aproximadamente 125 km da cidade russa de Petropavlovsk-Kamchatsky, a uma profundidade de 19,3 km. Ondas de até 4 metros foram registradas na costa russa, o que levou as autoridades a iniciarem evacuações nas comunidades locais. No Japão, o tsunami alcançou a região norte com ondas inicialmente inferiores a 1 metro, mas o governo emitiu alertas de emergência diante da possibilidade das próximas ondas chegarem até 3 metros. No Havaí, os efeitos também foram sentidos durante a madrugada, com a suspensão de voos em Maui e o fechamento de estabelecimentos comerciais. Parte da população foi retirada de áreas costeiras por precaução. O Centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico emitiu notificações para diversos países ao redor do oceano, incluindo Estados Unidos, México, Chile e Equador, embora nestas regiões o risco tenha sido considerado moderado.

Existe chance do Brasil ser afetado?

O risco de tsunamis no Brasil é apontado como baixo devido à sua localização geográfica. Além de estar situado em uma região geologicamente estável, o litoral brasileiro é banhado pelo Oceano Atlântico, que apresenta características menos propensas à formação de tsunamis. Isso ocorre porque, ao contrário do Oceano Pacífico – onde há placas tectônicas em constante atrito –, o Atlântico possui menos intensidade de atividade sísmica e não conta com grandes fossas oceânicas próximas à costa brasileira. Ainda que existam cadeias montanhosas submarinas e áreas com elevações no fundo do mar, esses fatores não costumam gerar movimentos bruscos o suficiente para provocar um tsunami.

Tsunami meteorológico atinge costa de Santa Catarina

Em contrapartida, outros fenômenos naturais também podem afetar áreas brasileiras, não deixando o país ileso a eventos inesperados. Os chamados tsunamis meteorológicos, causados por rápidas alterações na pressão atmosférica e intensas rajadas de vento provocaram estragos no Brasil. Em 2024, o litoral de Santa Catarina foi surpreendido por uma onda repentina que derrubou muros, destruiu pontes e invadiu residências. Diferente dos tsunamis sísmicos, os tsunamis meteorológicos não dependem de tremores geológicos, mas de condições climáticas específicas que, quando somadas à geografia costeira, como baías e enseadas estreitas, podem potencializar os efeitos.

O avanço dos eventos extremos no Brasil e no mundo

Nos últimos anos, o planeta tem enfrentado um aumento preocupante dos eventos climáticos com secas prolongadas, inundações severas, tempestades intensas, e vários outros problemas. No Brasil os efeitos climáticos têm se agravado pouco a pouco e, conforme um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado pela ONU, mostrou que o Brasil registrou ao menos 12 eventos climáticos extremos em 2023, como chuvas torrenciais, estiagens e ciclones extratropicais. Segundo os dados da OMM, os desastres relacionados ao clima estão crescendo tanto em frequência quanto em impacto, afetando a vida de milhares de pessoas, causando perdas humanas, econômicas e ambientais. Os cientistas apontam que o aquecimento global está desestabilizando os padrões climáticos, fazendo com que fenômenos que antes eram raros se tornem mais frequentes. Além disso, a elevação da temperatura média dos oceanos aumenta a energia disponível para a formação de tempestades severas, agravando seus efeitos.

Como os seguros podem abranger eventos como tsunamis

As apólices tradicionais muitas vezes não contemplam riscos de grande magnitude ou desastres naturais raros, como os tsunamis. Contudo, segundo um levantamento da Swiss Re, as perdas globais causadas por desastres naturais devem ultrapassar US$ 100 bilhões, o que reitera a importância dos seguros para mitigar prejuízos e apoiar a recuperação de empresas. O portal WTW cita algumas possibilidades dentro dos seguros considerando que a proteção financeira oferecida pelas apólices permite cobrir perdas materiais e retomar operações com mais agilidade. Setores como o agronegócio, fortemente expostos a riscos climáticos, exigem soluções personalizadas, com seguros ajustados às suas necessidades específicas. Já os seguros de vida e saúde também ganham relevância diante dos impactos das mudanças climáticas sobre o bem-estar dos colaboradores. Além da proteção, há uma ligação crescente entre seguros e práticas ESG, que incentivam ações mais conscientes dentro do âmbito corporativo. Assim, companhias que demonstram responsabilidade ambiental, social e de governança reforçam o papel do seguro para além de uma ferramenta de proteção, mas como propulsor de práticas sustentáveis e de gestão responsável.

Lacunas em coberturas de desastres naturais e a postura dos seguros

A conjuntura climática mundial também traz desafios para o setor de seguros, que precisa rever seus produtos para abarcar os novos riscos decorrentes das mudanças no clima. Diante desse cenário, o mercado segurador brasileiro tem buscado discutir soluções para ampliar a proteção e garantir a resiliência das empresas. Conforme uma divulgação da CNseg, especialistas do Fórum de Seguros França-Brasil defendem uma abordagem com foco na prevenção, adaptação e mitigação, que passa pela revisão de normas de construção e por políticas públicas que capacitem a população para lidar com desastres. Segundo Pedro Farme d'Amoed, a baixa percepção de risco no Brasil cria uma lacuna de proteção. Ele cita ainda que na tragédia do Rio Grande do Sul em 2023, apenas 5% das perdas foram cobertas por seguros, o que acabou recaindo sobre o poder público e as famílias. Por isso, os executivos argumentam que a integração do setor com políticas públicas e o desenvolvimento de ações que protejam de forma efetiva a população diante das mudanças climáticas.

Caminhos para uma cultura de proteção climática

De modo geral, as pessoas reconhecem a importância de proteger seus carros, a saúde e outros bens valiosos por meio de seguros. Assim, faz todo sentido ampliar essa mesma proteção para enfrentar os desafios que a natureza impõe e que podem trazer danos muito mais irreparáveis. Em um planeta cada vez mais impactado por desastres climáticos, com secas prolongadas, enchentes ou até tsunamis raros, a cultura do seguro precisa acompanhar essa nova realidade. O seguro climático não deve ser mais um item opcional ou voltado apenas a grandes empresas. Para além de oferecer indenizações, as seguradoras podem e devem estimular comportamentos sustentáveis, apoiar a reconstrução de comunidades e proporcionar redução do impacto econômico resultantes de tragédias. Mas, para que essa engrenagem funcione, é preciso que o setor e governo atuem juntos, ampliando também o acesso à informação sobre riscos e possíveis coberturas.

Postado em
31/7/2025
 na categoria
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