Trends com o ChatGPT se popularizam: como as mídias digitais estão transformando o comportamento e as estratégias no setor de seguros

O poder das trends na era digital
Alimentadas pelo TikTok, Instagram e YouTube, o fenômeno das trends digitais surge espontaneamente e, ao conquistar a atenção dos usuários, se espalham rapidamente, influenciando o comportamento online e ditando o que está em alta. O fio condutor desse movimento é a busca por conexão, autoexpressão e pertencimento, fatores que tornam as trends excelentes ferramentas de engajamento. A interação com conteúdos virais tem levado os usuários a experimentar novas formas de entretenimento, informação e até autocuidado, como em práticas de autoconhecimento e "terapia digital". Setores como o de seguros podem observar esse comportamento com atenção, buscando integrar tecnologias digitais de forma estratégica, mas com responsabilidade e respeito aos limites éticos.
Chat GPT viraliza como espelho emocional nas redes sociais
Nas últimas semanas, uma trend envolvendo o uso do Chat GPT ganhou força nas redes sociais, especialmente no TikTok e no Instagram. Na dinâmica, usuários pedem para que a IA revele sua “bênção” e sua “maldição”, recebendo em troca mensagens construídas em tom poético ou reflexivo. Embora o conteúdo seja gerado com base em padrões linguísticos da internet, o caráter enigmático e introspectivo das respostas, somadas a edições de vídeo e trilhas sonoras envolventes, essas interações conquistam o público e geram milhões de visualizações. A inteligência artificial funciona como um espelho textual, gerando frases que soam profundas e pessoais, mesmo que não exista, de fato, consciência ou compreensão nelas. Esse tipo de interação mostra o poder da personalização algorítmica em criar conexões subjetivas, ainda que artificiais, e levanta questões sobre a forma como os usuários interpretam e atribuem significado a essas mensagens automatizadas.
Cresce o uso do Chat GPT como terapeuta, mas especialistas alertam para riscos
Além de atuarem como ferramentas consultivas, com interações personalizadas, as IAs generativas vêm sendo utilizadas como uma espécie de “terapeuta virtual”. O uso do Chat GPT para lidar com questões emocionais e psicológicas tem se tornado comum, sobretudo entre os jovens, que recorrem à tecnologia em busca de acolhimento e orientação. Uma pesquisa indicou que cerca de 10% dos brasileiros já utilizaram inteligências artificiais como forma de tratamento para questões de saúde mental. No entanto, de acordo com uma matéria do portal Metrópoles, especialistas alertam que essa prática pode trazer riscos sérios. A IA, embora capaz de gerar respostas com aparência empática, não possui compreensão emocional, histórico do usuário ou capacidade de análise clínica. A ausência de um profissional humano no processo impede o uso de técnicas apropriadas da psicologia, o que pode gerar falsos diagnósticos e atrapalhar a melhora de quadros psicológicos. Ainda conforme a matéria, durante o congresso Brain 2025, realizado em Fortaleza, pesquisadores expressaram preocupação com a banalização da terapia via IA. Segundo a psicóloga Aline Kristensen, oferecer atendimentos com aparência terapêutica por meio de algoritmos ignora códigos de ética e limita seriamente a eficácia do processo, criando relações artificiais que podem iludir ou até agravar a condição emocional do usuário.
Uso do ChatGPT em seguros otimiza processos e atendimento ao cliente
Apesar de seu uso no campo da saúde mental ser extremamente duvidoso, o ChatGPT tem se mostrado uma ferramenta estratégica em diversas áreas. Quando aplicado de forma consciente e com prompts bem elaborados e direcionados, o recurso pode transformar processos internos e elevar a qualidade do atendimento ao cliente. No setor de seguros, algumas práticas podem obter melhoras com a utilização da ferramenta. Entre os tem-se:
- Eficiência Operacional: A automação de tarefas repetitivas, como triagem de sinistros e esclarecimento de dúvidas frequentes, libera os colaboradores para atividades mais analíticas.
- Atendimento Personalizado: Com prompts bem estruturados, o Chat GPT pode oferecer respostas adaptadas às necessidades específicas de cada cliente, melhorando a satisfação e fidelização.
- Desenvolvimento de Produtos: A análise de interações com clientes permite identificar lacunas no portfólio de seguros, auxiliando na criação de produtos mais alinhados às demandas do mercado.
- Estratégias de Marketing: A ferramenta pode sugerir dicas e insights para campanhas publicitárias mais eficazes, segmentando o público de forma precisa e otimizando recursos.
Ao incorporar sugestões do Chat GPT em sua estratégia, o mercado segurador, além de acelerar a jornada de digitalização, também pode oferecer soluções e desenvolver produtos com a ajuda da IA de forma mais alinhada ao perfil dos clientes, acompanhando as novas tendências e demandas do consumidor digital.
As novas forças no entretenimento digital
A pesquisa Digital Media Trends 2025 da Deloitte apontou que os consumidores dedicam, em média, seis horas por dia para o consumo de entretenimento, e esse tempo é dividido entre diferentes formatos e plataformas. O TikTok, Instagram e YouTube possuem protagonismo no setor de mídia, rivalizando diretamente com outras redes sociais, jogos digitais, podcasts, serviços de streaming e produções mais tradicionais da televisão. Essa disputa pela atenção do público se intensifica graças ao conteúdo gratuito, à personalização via algoritmos e aos recursos avançados de anúncios com inteligência artificial. As gerações mais jovens, em especial, preferem conteúdos cada vez mais rápidos, curtos e de fácil acesso, fato que corrobora a massificação do uso dessas plataformas.
Gerações mais ansiosas e o impacto de conteúdos “brain rot”
Devido a essa preferência, a geração Z tem apresentado níveis crescentes de ansiedade e estresse. Esse efeito também pode estar relacionado ao consumo desenfreado de conteúdos digitais conhecidos como “brain rot” – ou apodrecimento mental em Português –, termo que descreve o efeito negativo do excesso de informações e conteúdos fragmentados e pouco qualificados nas redes sociais. A exposição contínua a conteúdos rápidos, repetitivos e superficiais pode afetar a capacidade de concentração e o equilíbrio emocional desses jovens, contribuindo para a sensação de esgotamento mental.
Conforme um estudo da Vittude, 27,17% dos jovens relatam ansiedade, 36,48% enfrentam estresse e 27,49% sofrem de depressão, números consideravelmente superiores aos das gerações anteriores. Segundo o psicólogo Jonathan Haidt, essa geração sofre uma "epidemia de transtornos mentais" causada pela combinação de uma superproteção excessiva do mundo físico, que limita brincadeiras livres, e uma subproteção no ambiente digital, onde jovens ficam expostos sem supervisão adequada. Haidt defende que essa nova infância, marcada pelo uso precoce de smartphones e redes sociais, provoca privação social, sono insuficiente, atenção fragmentada e até vício, agravando problemas de saúde mental.
Como lidar com a geração das tendências no mercado de seguros
Outra característica das gerações mais jovens, e da Geração Z em específico, é que elas valorizam empresas com propósito social, transparência e experiências que produzam sentido. No setor de seguros, os modelos tradicionais acabam não se conectando com esse público, que é direto, digital e sensível a questões emocionais. Para conquistar sua confiança, é importante adotar uma linguagem criativa e visual nas redes sociais, além de investir em conteúdos educativos e atualizados com as tendências. Além disso, a comunicação precisa ser acompanhada por uma jornada do cliente simplificada e digital. Os produtos também devem ser mais flexíveis, acessíveis e adaptáveis ao estilo de vida dinâmico dos jovens, pois eles costumam buscar serviços que acompanhem sua realidade. Por isso, o setor de seguros deve ir além da aparência e promover mudanças reais na forma de se relacionar com esse novo perfil de consumidor.
Algoritmos no seguro pedem práticas baseadas na confiança e na integridade
Diante desse panorama caracterizado pela fragmentação da atenção e pelo consumo acelerado de conteúdos, o setor de seguros tem o desafio e a responsabilidade de agir com ética, transparência e compromisso, considerando um público mais ansioso, sobrecarregado de estímulos e exposto a conteúdos muitas vezes superficiais ou desinformativos. A aplicação de algoritmos e inteligência artificial na personalização de ofertas precisa estar em conformidade com princípios éticos e normas legais, evitando qualquer tipo de abuso ou manipulação do comportamento do consumidor. Por isso, é importante adotar práticas baseadas na confiança, disponibilizando informação qualificada e assegurando que o avanço tecnológico caminhe lado a lado com a integridade.
ChatGPT no seguro: executor de tarefas ou parceiro na criação de experiências?
A presença do Chat GPT nas vidas dos usuários, seja como conselheiro emocional, terapeuta, ou ferramenta de conversação, reflete o desejo por conexões mais humanas, mesmo em interações com algoritmos. Por isso, o mercado segurador precisa ir além da digitalização técnica e promover uma transformação genuína em sua comunicação, nos formatos de atendimento e na criação de produtos mais acessíveis, flexíveis e compatíveis com o estilo de vida contemporâneo. Além disso, o uso de prompts com Chat GPT pode ser um grande aliado nesse caminho para trazer ideais que dialoguem com o público da geração Z, desde que utilizado com clareza de propósito e responsabilidade social. A tecnologia, quando usada com cuidado e responsabilidade, pode ser muito proveitosa na construção de boas experiências para o público consumidor.