Inovação

Insurtechs: bolha ou renovação?

Insurtechs: bolha ou renovação?
P

ara debater o tema: "Insurtechs: bolha ou renovação? Sandbox, Open Insurance e a necessidade da inovação de um mercado tradicional, a convivência e parcerias com big players e a transformação do público consumidor de seguros", o evento Insurtech Latam Fórum 2022, reuniu em um painel presencial, no dia 10/08/2022, os seguintes nomes da indústria e seguros: Denise Oliveira, CEO & Founder da Fitinsur, Henrique Volpi, CEO da Kakau, Gustavo Zobaran, CMO (Chief Marketing Officer) da Ciclic e , para moderar o painel, a convidada foi Camila Calais, Partner da Mattos Filho.

Consolidação das insurtechs

Camila Calais inicia o painel fazendo uma provocação sobre o tema e questionando os painelistas : “Bolha ou não bolha?”, pergunta ela. Denise Oliveira explica sua visão: “Eu tenho uma opinião um pouco particular (...) Primeiro que o nome ‘bolha’ me incomoda um pouco e, efetivamente, quando a gente faz uma análise mercadológica de todo o crescimento que se dá nos dias de hoje então a gente tem aí o início, principalmente aqui no Brasil, das insurtechs despontando, essas mais modernas, do meu ciclo, em 2017, e hoje, 5 anos depois, a gente uma consolidação, um número de empresas muito mais agressivo e preponderante do que a gente tinha no início. Obviamente, antes de qualquer rótulo, fala-se muito de bolha, e acho que a gente tem uma bolha financeira, de fundo de investimento que não tem uma relação direta com insurtechs, mas a gente tem uma acomodação no mercado em termos de demanda e oferta e até mesmo de inovação que é necessário acontecer.

“Não gosto do nome ‘bolha’, prefiro chamar de ‘acomodação mercadológica'

Denise diz que,quando se fala de ‘bolha’, ela se pergunta: “Será que os investimentos ocorridos, de 10 anos pra cá, aí a gente vê inúmeras big techs, neo banks, em situações que não são efetivamente de resultado, tendo aí ações em bolsa, após a abertura do IPO (“initial public offering”, ou “oferta pública inicial”, em português), com uma certa queda. Então, eu não gosto do nome ‘bolha’, prefiro chamar de ‘acomodação mercadológica' e que as empresas que tiveram melhor orientação de visão e melhor demonstração de resultado se mantém, mas isso não é uma coisa específica de techs, é uma coisa que acontece no mercado, na macroeconomia como um todo”.

Time “Bolha”

Henrique Volpi declara: “Eu sou do time ‘bolha’. Ele afirma discordar um pouco da Denise e aproveita para trazer alguns dados levantados para o painel: “Vamos pegar só as insurtechs do campo público, ou seja, são ou foram treinadas ou na bolsa americana. Então, você pega a Hippo residencial: -92% desde o seu IPO até a data atual; Você pega a Roots: -96%, automóvel. Ela está fazendo um agrupamento porque ela passou a ser um penstock, ela tem que voltar para um dólar para não sair do mercado; Você pega a Metromile, que foi absorvida pela Lemonade: menos -90%, até o dia do fechamento da transação.

Termos inventados para justificar operação ruim

Volpi continua explorando o tema e pega como exemplo a gigante Lemonade. Ele disse: “Aí você pega a Lemonade, que criou um termo muito interessante, no dia de ontem, que é o: ‘Lifetime loss ratio’ (em português, na tradução livre, significa ‘tempo de vida da taxa de perda). Quando você começa a inventar termos para sua própria operação, para mostrar que ela não é tão ruim quanto parece, acho que é um outro indicador. E ela acumula -60%”.

“Se você é uma empresa que tem uma um loss ratio de 200%, não vai prosperar”

Dissecando os dados apresentados, o CEO da Kakau, considera que as empresas que possuem um loss ratio de 200%, não conseguem prosperar. Ele explica: “Só que as bolhas, que começaram lá em 1636/1637 com a Tulipa, lá na Holanda, é um evento positivo, a gente tem que enxergar de forma positiva, é uma grande oportunidade para empresas sérias como a Fitinsur, como a Ciclic, como a própria Kakau e muitas outras aí que sabem fazer matemática, trabalham com margem e não estão administrando um loss ratio de 200%. Se você é uma empresa que tem uma um loss ratio de 200%, para quem é do mercado sabe muito bem, você não vai prosperar. Não existe histórico global de ajuste de 200 por cento para 95, para 92 ou para 90 por cento. A não ser que você queira estrear isso com muita tecnologia, dedicação e inovação, isso é um evento que nunca aconteceu na história dos seguros”. 

Empresas de tecnologia caíram -70%

Volpi declarou que enxerga uma bolha de techs e embasa o argumento com os estudos: “Se você pegar um outro dado, do professor Scott Galloway, da universidade de Nova York, as empresas de tecnologia não rentáveis, durante esse período deste ano, caíram -70%, na média. Então, são características de bolha, na minha visão, é um ajuste muito forte. Mas é algo positivo porque vai requalificar e as empresas que estão fazendo conta, que estão trabalhando sério, com crescimento sustentável, vão sair muito mais fortes nesse cenário, com potencial para adquirir outras empresas e com potencial de se internacionalizar. Então, a gente está nesse momento, mas é um momento oportuno, um momento saudável para todos nós”.

O lado da renovação

Gustavo Zobaran começa o pensamento fazendo uma provocação jocosa: “Será que vou desempatar?” e continua: “Sou do lado da renovação. Bolha, pra mim, acho que, se existe, a bolha, no momento estoura. Acho que não vai acontecer com a gente não. Estávamos conversando nos bastidores, eu e Denise, e acho que passamos, na pele, a época da bolha da internet, lá em 2000, quando, de fato, estourou uma bolha. Acho que são características diferentes. A gente trabalhava em empresas ‘ponto com’ e a gente passou, na pele, isso. Então acho que é muito mais para um lado de renovação. Enxergo que é um mercado que, de fato, está se renovando, se reinventando e acho que temos uma certa ansiedade porque a gente esperava que isso fosse mais acelerado. 

É um mercado regulado

Zobaran acha que é importante nunca esquecer que a indústria de seguros é um mercado regulado, não um varejo. E acrescenta: “ Então, eu sou do lado do ‘copo meio cheio’ e enxergo, sim, de uns anos para cá, que estamos nos renovando, mas que tem muita coisa para se fazer”.

“Não vai mais ter fintech ou insurtech,,vai ser:  lifetech, humantech”

O CMO da Ciclic fez um apontamento sobre como pensa que será o futuro das insurtechs: “Se a gente parar para pensar, fintechs estão começando a vender produtos de seguridade, tá entrando nesse mundo de insurtechs. E a gente vê diversas insurtechs indo para o mundo das fintechs. Para mim, daqui a pouquíssimo tempo, não vai mais ter, fintech, insurtech, vai ser, lifetech, humantech, porque vai ser tudo junto”.

Oportunidade e inovação

Camila Calais resumiu o que viu em comum nas opiniões dos painelistas sobre quem acha que é bolha e quem acha que é renovação. Ela declarou: “Acho que nessa primeira conversa que a gente teve, algo que a gente consegue identificar na fala dos três é o momento de oportunidade. E em momento de oportunidade, nada mais oportuno que falar de inovação. Então, o que a gente tem de oportunidade, de fato? O que a gente pode inovar nesse mercado? O que está faltando ou o que a gente pode olhar para o futuro em relação a isso?” Após levantar os questionamentos acima descritos, Calais pediu para Denise contar um pouco sobre a sua visão de produto dentro das perspectivas de oportunidades no setor.

Um investimento financeiro

Sobre os questionamentos feitos por Camila, Denise foi direta: “Geralmente, as pessoas consideram seguro um gasto, eu considero como investimento financeiro. Aqui no Brasil, a gente tem um baita desafio, que é justamente mudar essa visão, porque nosso consumidor enxerga dessa forma. E aí eu vou conectar com outro ponto, até pelo approach de mercado que foi feito pelas próprias companhias seguradoras, o nosso consumidor vê seguros como uma experiência, uma necessidade, relacionada a alguma coisa ruim. Investimento não é uma coisa ruim, é uma coisa boa. Então, como eu vejo o seguro como investimento, como um produto financeiro, como outros de investimento, de maior complexidade, mas um produto financeiro ”. 

“O maior conhecedor da necessidade do cliente é o corretor”

Denise continua seu pensamento esclarecendo a maneira como o produto de seguro é visto pelas seguradoras e enfatizando que essa visão precisa mudar. Ela explorou o tema da seguinte forma: “Como foi construída a comercialização de seguros no Brasil?  A seguradora faz o produto dela, como a Susep pede, escreve uma nota técnica linda, olha para o corretor dela e fala assim: ‘tá aqui meu seguro de vida. Vai lá vender’. Ela não sabe se o cliente daquele corretor, hoje o maior conhecedor da necessidade do cliente é o corretor, a seguradora não tem, isso em banco de dados, ela não sabe o porquê que aquele segurado precisa de um seguro, não sabe que outros produtos de seguro aquele segurado poderia necessitar. Então, ele pede aquele produto de prateleira dela e pede para o corretor vender”. 

Mercado de compra por aversão

Denise continua seu raciocínio: “E aí, o que acaba acontecendo? Você cria este mercado da compra por aversão, por medo. Eu acho que todas as insurtechs, sem exceção, que tem a intenção de democratizar e popularizar os produtos de seguro, tem  a obrigação de mudar essa visão e dar a ‘awareness’ (conhecimento) para o segurado para que ele saiba que aquele produto é um investimento”.

Open banking versus Open Insurance

Camila Calais dá a sua opinião sobre Open Banking e Open Insurance:  “A gente está falando de coisas distintas, mas que tem uma premissa comum que é a de olhar primeiramente para o consumidor. Então, acho que isso é um desafio, tanto no mercado bancário quanto no mercado segurador, mas acho que a gente tem um ponto comum que eu acho que não tem volta: é a visão em relação a isso. O meio pode se ter críticas, pode melhorar, sempre. Mas a visão, hoje, é a visão na perspectiva do consumidor. E depois que a gente passou a ter a Lei de Proteção de Dados, desculpa: ‘o dado é meu, a cliente sou eu e o dado é meu’. Denise concorda: ‘Esse é um ótimo ponto: consentimento”.

Mudança de premissa como ponto comum

Calais continua explicando seu ponto de vista acerca do Open Banking e Open Insurance e fala sobre o que ela vê em comum : “Então, acho que essa é a grande mudança que a gente tem: é uma mudança de premissa. O caminho que a gente vai escolher para isso, o caminho que a gente está traçando para isso  pode ter modificações. E operacionalmente a gente tem os desafios, a gente sabe. A gente está caminhando com o Open Banking, a gente tá caminhando com o Open Insurance também (...). A gente ainda está estruturando, tanto que a gente fala que a estrutura definitiva do Open Insurance ela ainda está sendo discutida dentro do prazo que está na regulação. Então, ainda está sendo estruturado, tem muita coisa ainda acontecendo.”

Convergência entre os players sobre Open Insurance

Calais destaca uma grande diferença no processo para o Open Banking e o Open Insurance. Ela disse: “No Open Banking teve muito mais briga do que está tendo no Open Insurance. O Open Insurance, por incrível que pareça, tem muito mais convergência entre os players do que o Open Banking”.

Para assistir o painel na íntegra, clique aqui

Postado em
22/8/2022
 na categoria
Inovação
Deixe sua opinião

Mais sobre a categoria

Inovação

VER TUDO