IA e inovação: discurso vazio ou transformação real no mercado de seguros?

Entre “ótimos powerpoints” e resultados reais
O pesquisador chinês David Li criticou os Estados Unidos por fomentarem mais uma “propaganda” em vez de obterem resultados concretos com a inteligência artificial. Para ele, enquanto os norte-americanos acumulam promessas não cumpridas, a China tem mostrado resultados consistentes e planeja liderar a área até 2030. Apesar do tom nacionalista, Li defende que o futuro da IA deve ser guiado pelo comportamento do consumidor e não por soluções impostas de cima para baixo. Ele reconhece a incerteza sobre quais tecnologias terão real adesão nos próximos anos, reforçando a importância de observar o mercado antes de definir rumos. Segundo o pesquisador Diogo Cortiz, essa postura reflete humildade, ao contrário de empresas que vendem narrativas prontas sem considerar a aceitação do público. No setor de seguros, a crítica de Li relembra que não basta apenas falar em inovação, é preciso adotar práticas de IA que tragam benefícios na prática, como eficiência operacional, redução de custos e, sobretudo, uma melhor experiência para o cliente.
O desafio de transformar tendência em prática
A inteligência artificial tem mostrado seu potencial em diversas etapas e procedimentos de seguros e está presente em cerca de um quarto das seguradoras, segundo a consultoria Next Move Strategy. Ferramentas de IA podem ser usadas na automação de sinistros, análise preditiva e personalização de produtos. Apesar dos benefícios, a eficácia da IA não é absoluta e muitos projetos enfrentam barreiras ligadas ao acesso limitado a dados, altos custos de infraestrutura e necessidade de capacitação técnica. Além disso, nem sempre a tecnologia cumpre a promessa de transformação quando implementada sem visão estratégica. Por isso, é importante que as seguradoras reflitam se estão apenas seguindo a tendência de digitalização ou se estão de fato colhendo resultados reais com a tecnologia.
O limite da automação no setor de seguros
A IA pode ajudar em vários processos e auxiliar os corretores a indicarem produtos mais adequados, mas os clientes nem sempre percebem isso como um benefício direto. No setor de seguros, onde empatia e confiança são fundamentais, especialmente em momentos delicados como a comunicação de um sinistro, a automação precisa ser equilibrada com o contato humano. Pesquisas mostram que essa etapa continua sendo uma das maiores fontes de insatisfação: 37% dos segurados reclamam da burocracia e da falta de transparência no processo de indenização, enquanto 30% apontam ausência de empatia no atendimento. Esses fatores reforçam a importância do acolhimento humano, mesmo em um cenário de inovação tecnológica. Além disso, a transparência nas decisões e proteção de dados continuam sendo pontos de tensão, comprovando que, sem cuidado na implementação, a tecnologia pode transmitir frieza e distanciamento, minando a confiança do cliente em vez de fortalecê-la.
Colaboração entre segmentos e o poder das insurtechs
A transformação tecnológica no setor de seguros pode ser impulsionada, não só pela inovação interna das seguradoras, mas por meio das colaborações e parcerias com startups, universidades e centros de pesquisa. A união de perspectivas entre diferentes segmentos pode promover uma experimentação segura e ampliar a capacidade de inovação de ambos os mercados. Dentro desse cenário, as insurtechs desempenham papel relevante. Com estruturas mais ágeis e foco em tecnologia, essas startups permitem às seguradoras testar rapidamente modelos preditivos e soluções baseadas em IA, reduzindo riscos e tornando mais eficiente a criação de produtos e serviços inovadores. Além de acelerar processos operacionais, as insurtechs ajudam a melhorar a experiência do cliente, oferecendo soluções mais personalizadas, digitais e rápidas, como contratação de apólices em poucos minutos ou análise automatizada de sinistros. Assim, a combinação de velocidade, flexibilidade e foco no cliente são medidas indispensáveis para tornar o setor mais competitivo e capaz de responder às demandas do mercado moderno.
Profissionais capacitados podem colher bons frutos com a IA
À medida que a IA transforma o setor de seguros, a capacitação dos profissionais se torna imprescindível para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma eficaz e alinhada às necessidades dos clientes. Líderes do ramo e corretores, por exemplo, que estão na linha de frente do relacionamento com os segurados, devem estar preparados para entender e comunicar as inovações baseadas em IA. Se por um lado há um aumento da automação e da IA no setor, a demanda por profissionais qualificados também continua em alta. Isso ocorre porque, mesmo com processos sendo automatizados, ainda é necessário contar com pessoas capazes de operar, interpretar e aperfeiçoar essas tecnologias. Nesse contexto, a capacitação profissional pode ser um fator determinante para a sustentabilidade dos negócios. Profissionais que dominam ferramentas digitais, interpretam dados com empatia e traduzem algoritmos em experiências personalizadas assumem um papel ativo, estratégico e cada vez mais consultivo. Isto é, habilidades humanas como adaptabilidade, visão analítica e capacidade de atuar de forma consultiva são características fortemente valorizadas no setor segurador.
Do discurso à performance sustentável
A reflexão proposta pelo pesquisador chinês sobre a corrida da IA destaca que, para o setor de seguros, o verdadeiro avanço dependerá da capacidade de ir além dos discursos superficiais e incorporar tecnologias de forma integrada, transparente e orientada a resultados. Os desafios de incorporar a inteligência artificial no setor de seguros não se restringem apenas ao desenvolvimento de sistemas avançados. A adoção efetiva exige lidar com fatores estruturais e humanos igualmente complexos. Entre eles estão a integração de bases de dados, o atendimento a regulações, e a obrigação de explicar de forma clara e transparente as decisões automatizadas para manter a confiança do cliente. Esses pontos demonstram que a transformação digital demanda investimentos que vão além da infraestrutura tecnológica. Portanto, cabe aos líderes do setor estabelecer métricas bem definidas para mensurar o impacto real da tecnologia, seja em eficiência operacional, na experiência do cliente ou na mitigação de riscos. Mais do que adotar ferramentas, o desafio é criar um ecossistema de confiança e responsabilidade que sustente a inovação.