Democratizar a proteção: os planos da Serasa para mudar a relação do brasileiro com o seguro

A entrada da Serasa no mercado de seguros se estrutura como um desdobramento de sua atuação no crédito e na saúde financeira do consumidor. Com a aquisição da TEx, a empresa aposta na combinação de dados, tecnologia e capilaridade para ampliar o acesso a coberturas que, muitas vezes, ficam distantes de grande parte da população. Assistências de baixo custo marcam o ponto de partida dessa estratégia, voltada a aproximar milhões de brasileiros de uma experiência até então restrita, preparando o terreno para a oferta de seguros mais completos e adequados à realidade desse público. Para falar sobre essa estratégia e detalhar os próximos passos, conversamos com Emir Zanatto, Head de Seguros da Serasa Consumidor, e Thais Pfeiffer, Diretora de Finanças e Seguros da Serasa Experian. Na sequência, confira a visão dos executivos sobre a iniciativa:
Insurtalks: O que levou a Serasa a se aproximar do setor de seguros? Sendo uma atuação nova na trajetória da empresa, como essa decisão foi construída internamente e o que se espera com ela, tanto no curto quanto no médio prazo?
Emir Zanatto: A Serasa tem uma longa trajetória no setor financeiro e de crédito no Brasil, sempre voltada para a saúde financeira do indivíduo. Esse trabalho inclui compreender como as pessoas se endividam, de que forma o score influencia na obtenção de crédito e como apoiar quem precisa renegociar dívidas para voltar ao mercado consumidor. Nesse percurso, o seguro aparece como um próximo passo. Quando o indivíduo recupera sua estabilidade financeira, passa a ter condições de proteger o que considera essencial em sua
vida. Afinal, imprevistos continuam acontecendo, e o papel do seguro é impedir que eles causem um impacto ainda maior.
“O movimento da Serasa é justamente oferecer suporte e evitar que acontecimentos adversos comprometam ainda mais a vida das pessoas”
Segundo Emir, a iniciativa se insere em uma linha de atuação que busca ir além de viabilizar o acesso ao crédito e tem o intuito de preservar os bens adquiridos e sustentar a saúde financeira. Emir destacou que muitas vezes o endividamento surge da dificuldade de quitar contas básicas, como luz e água, frequentemente interrompidas após a perda de um emprego ou por problemas em um instrumento de trabalho, como uma moto. “Para cada uma dessas situações existe uma apólice que pode amparar o consumidor. O movimento da Serasa é justamente oferecer esse suporte e evitar que acontecimentos adversos comprometam ainda mais a vida das pessoas.”
Educação financeira e tecnologia juntas para transformar a relação do consumidor com a proteção
Thais Pfeiffer acrescentou que a Serasa conta hoje com aproximadamente 100 milhões de usuários conectados ao aplicativo e às plataformas digitais. Para ela, essa abrangência torna indispensável ampliar o acesso ao seguro. “Já atuamos com educação financeira e, agora, com a TEx ao nosso lado, temos a combinação de tecnologia, conhecimento de mercado e relacionamento necessária para oferecer informação de qualidade ao consumidor que sempre esteve distante desse tipo de produto.”
Ela ressaltou que muitas pessoas ainda acreditam não ter condições de contratar um seguro e a proposta é justamente mudar essa percepção. “Queremos favorecer a prosperidade desse consumidor e, quando ele alcançar esse estágio, contribuir para que consiga preservá-lo por meio das garantias oferecidas pelo seguro. Nosso trabalho com educação financeira já tem esse propósito: oferecer uma metodologia e uma jornada capazes de transformar realidades. O seguro se integra a essa lógica, protegendo desde
bens materiais até aspectos mais pessoais, como a identidade. A TEx vem para fortalecer essa entrega com tecnologia e proximidade.”
Insurtalks: Vocês optaram por iniciar a operação com produtos de assistência. O que orientou essa escolha inicial e quais aprendizados já foram possíveis até este momento?
Thais Pfeiffer: A estratégia foi iniciar um processo de aproximação, mostrando que é possível contar com algum tipo de cobertura diante de dificuldades cotidianas. Embora o valor das assistências seja baixo, o impacto para o usuário pode ser expressivo. Quando um vidro quebra em casa ou um retrovisor do carro precisa ser consertado, são situações que parecem pequenas, mas que pesam muito em um orçamento apertado. Muitas vezes, esses reparos ficam de lado, assim como cuidados de saúde, porque a lista de prioridades é extensa e o dinheiro não cobre tudo.
Segundo ela, começar pela assistência permite introduzir o conceito de proteção de maneira acessível. Com preços menores, o consumidor se sente convidado a experimentar. “Esse é o primeiro passo: entender hábitos, interesses e pontos de atenção para esse público.”
Base de dados da Serasa favorece a entrada de novos consumidores no mercado segurador
Para Emir Zanatto, a decisão também se apoia na capacidade da Serasa de trabalhar dados em larga escala. “Somos a maior data tech do Brasil e esse conhecimento permite modelar e precificar produtos para esse novo perfil de consumidor. A assistência funciona como porta de entrada para seguros mais completos. Estamos falando de pessoas que antes estavam fora desse mercado, um grupo sobre o qual ainda faltam informações para a própria indústria.”
Insurtalks: Em termos de público, a proposta dialoga com uma parcela da população que ainda não tem familiaridade com o universo dos seguros. Quais são os principais obstáculos
nesse processo de aproximação e como vocês estão trabalhando para viabilizar a entrada desse público no mercado segurador?
Thais Pfeiffer: O maior desafio é a percepção de que o seguro não cabe na realidade financeira de parte da população. Existe uma sensação de não pertencimento, somada ao desconhecimento sobre como o seguro funciona. Esse afastamento é fruto tanto da falta de orçamento quanto da ausência de informação.
Ela observou que, ao mesmo tempo, cresce o interesse das seguradoras em ampliar sua presença nesse público. “Estamos construindo esse caminho ouvindo o consumidor, entendendo seu comportamento e o que faz sentido para ele, para depois compartilhar esses aprendizados com o ecossistema. No futuro, será necessário adaptar os produtos, torná-los mais acessíveis. Por isso, começamos com a assistência, mas as informações coletadas serão essenciais para desenvolver ofertas mais tradicionais.”
Insurtalks: A jornada do usuário dentro do app envolve diferentes etapas, desde a navegação até o direcionamento para seguradoras e corretores. Como está sendo estruturado esse fluxo e o que está previsto para ampliar ou aprofundar essa integração nas próximas fases?
Thais Pfeiffer: A expectativa é iniciar o direcionamento já no próximo semestre. O consumidor poderá simular o seguro e visualizar propostas mais ajustadas ao seu perfil. Estamos dedicados a simplificar o questionário, reduzindo a quantidade de informações exigidas no momento da simulação. A ideia é conectar diretamente cliente, Corretor e Seguradora, que receberá dados qualificados para finalizar a contratação. Neste primeiro momento, a jornada ainda é fragmentada, mas a perspectiva é que se torne completa dentro do aplicativo.
Seguro de automóvel previsto para o próximo ano com base em dados de comportamento
De acordo com Pfeiffer, a previsão é que, no início do próximo ano, seja lançado o seguro de automóvel de forma mais estruturada. Ela acrescentou que as informações de comportamento do usuário serão decisivas para aprimorar o processo. “Nosso objetivo é que essa jornada seja clara, simples e segura. Quando o consumidor estiver, por exemplo, fechando um acordo financeiro, podemos apresentar um produto que ele perceba como útil, como uma proteção de renda para momentos de dificuldade.”
Emir Zanatto reforçou que a assistência já está disponível e que o próximo passo será oferecer seguros de automóvel e moto diretamente no app. “O usuário visualizará as propostas e a última etapa será concluída pela seguradora, que fará a indicação do corretor. Inicialmente, essa definição caberá à seguradora, mas a partir do próximo ano será integrada ao TELEPORT, solução de MultiCálculo e Gestão, da TEx. Entre os 100 milhões de usuários do aplicativo, cerca de 24 milhões acessam a plataforma com frequência, e estamos preparando o TELEPORT para operar nessa escala.”
Insurtalks: Com a aquisição da TEx, a Serasa passa a contar com um conjunto de soluções tecnológicas voltadas ao setor. Que ferramentas ou processos estão sendo incorporados à operação e como isso vem apoiando a atuação junto às corretoras e seguradoras?
Thais Pfeiffer: A TEx já vinha recebendo investimentos antes mesmo da integração, especialmente em áreas como migração para a nuvem e melhoria de desempenho. Considerando o volume de apólices que pretendemos operar, era necessário preparar a plataforma para dar conta de um número elevado de transações. Toda a tecnologia da TEx será incorporada à nossa plataforma, compondo a solução oferecida ao consumidor. Emir Zanatto acrescentou que os dados da Serasa permitirão simplificar etapas tradicionalmente longas. “No seguro automotivo, por exemplo, há um questionário extenso. Com a base de informações que possuímos, muitas respostas poderão aparecer automaticamente, facilitando o preenchimento. Isso reduz custos na aquisição de dados e melhora a experiência tanto para seguradoras quanto para corretores. Fizemos um teste no
TELEPORT: de um conjunto de perguntas para cálculo, o corretor precisaria responder apenas duas, porque as demais já estavam disponíveis. É um passo importante para transformar a forma como o setor lida com informações.”
Insurtalks: Para fechar, que efeito vocês acreditam que essa iniciativa pode ter na relação do brasileiro com os seguros?
Thais Pfeiffer afirmou que a missão é ampliar o acesso e mudar a percepção do consumidor. “Queremos que o seguro faça parte do dia a dia, especialmente para quem hoje se vê distante dessa possibilidade. Nosso objetivo é tornar esse produto próximo, acessível e útil.”
Emir Zanatto resumiu o propósito em poucas palavras: levar o seguro a todos os brasileiros. “Se alguém optar por não contratar, que seja por escolha própria, não por falta de um produto adequado ou por desconhecimento. Quebrar barreiras e aproximar o seguro da vida das pessoas é a missão que assumimos. Assim como a Serasa já ampliou o acesso ao crédito, agora trabalhamos para fazer o mesmo com o seguro.”