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Crimes digitais via celulares superam roubos com armas e impõem novos desafios ao mercado de seguros

Crimes digitais via celulares superam roubos com armas e impõem novos desafios ao mercado de seguros

O crime agora cabe na palma da mão

A pesquisa nacional do Datafolha, divulgada no Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que os crimes digitais superaram os patrimoniais e que celulares hoje em dia “roubam” 53% mais que armas – conforme uma matéria do UOL. Em um ano, 22% dos brasileiros acima de 16 anos, cerca de 37 milhões de pessoas, sofreram algum tipo de roubo, assalto ou furto. Já os golpes virtuais atingiram 33% da população, o equivalente a 56 milhões de brasileiros. No que se refere às fraudes, 36% dos brasileiros, ou 61 milhões de pessoas, receberam algum tipo de assédio digital por mensagens, ligações ou contatos suspeitos apenas no último ano. A ocorrência crescente de crimes que utilizam aparelhos celulares como ferramenta, e têm como alvo seus usuários, revela a presença indispensável desses dispositivos no cotidiano das pessoas, e o valor que eles carregam em termos de informações pessoais. Isso faz dos smartphones um dos principais focos e recursos de ação criminosa, indo desde golpes eletrônicos até o roubo de dados. 

O impacto para o setor de seguros

O aumento desse tipo de crime força o mercado de seguros a rever seu foco. Não basta mais proteger apenas o objeto físico, mas é necessário oferecer cobertura contra as consequências do uso criminoso das informações e recursos acessados pelo celular.

Seguradoras e insurtechs já começam a integrar proteção cibernética, ampliando apólices para incluir casos de transferências bancárias não autorizadas, compras fraudulentas e roubo de dados pessoais. Inovar no uso de dados preditivos, criar seguros modulares e investir em processos de sinistro ágeis são práticas que contribuem para a sustentabilidade do negócio e satisfação do cliente.

Aumento da conexão digital traz movimentações no Senado

A tendência dos crimes digitais tem levado o Senado a reforçar sua atuação. Entre 2022 e 2023, os estelionatos virtuais aumentaram 13,6%, enquanto os roubos físicos a bancos caíram quase 30%, evidenciando a migração da criminalidade para o ambiente digital. Como resposta, foi criada em março de 2024 a Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e à Defesa Cibernética, presidida por Espiridião Amin (PP-SC). O grupo reúne senadores e deputados com o objetivo de debater, conscientizar e propor mecanismos de defesa. A frente também busca aproximar o setor público do privado, criando soluções conjuntas em inovação e proteção digital. Paralelamente, o Senado mantém a Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD), criada em 2023. Ela analisa atualmente 106 projetos de lei e já aprovou 23. Entre suas iniciativas, destacam-se duas subcomissões: uma voltada à inclusão digital e outra dedicada a discutir a criação de juizados especiais para crimes virtuais. Um dos projetos de maior impacto é o PL 1.049/2022, de autoria do senador Angelo Coronel (PSD-BA). A proposta tipifica a extorsão digital no Código Penal, preenchendo uma lacuna legal existente. Além disso, prevê aumento de até dois terços nas penas quando o crime afetar serviços essenciais. Na prática, isso inclui paralisações em áreas sensíveis como saúde, educação e segurança pública. A medida reforça a preocupação com ataques de grande escala que possam comprometer o funcionamento do país.

Porto Alegre inaugura delegacia própria para crimes cibernéticos

Porto Alegre passou a contar com o Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DERCC), inaugurado na última sexta-feira (15). A nova unidade da Polícia Civil centraliza investigações de delitos digitais, como roubo de dados, invasões de sistemas, golpes eletrônicos e a difusão de conteúdos ilegais. Criado pelo decreto nº 58.095, o departamento reflete a necessidade de uma atuação especializada diante da complexidade dos crimes virtuais. Desde o início das atividades, o DERCC já realizou 10 operações em diferentes estados, resultando em dezenas de prisões. Para as autoridades, a criação da unidade coloca os crimes cibernéticos no mesmo patamar de gravidade que homicídios e tráfico de drogas.

Seguro cibernético dispara no Brasil e é visto como indispensável pelas empresas

Este panorama de ataques virtuais tem elevado, portanto, a procura por seguros contra riscos cibernéticos. De acordo com a CNseg, a arrecadação do produto cresceu 880% em cinco anos, saltando de R$ 20,7 milhões em 2019 para R$ 203,3 milhões em 2023, um aumento de 17,1% em relação apenas a 2022. Conforme a Confederação, o Índice Global de Proteção de Dados (GDPI) apontou que quase 60% das empresas brasileiras enfrentaram incidentes que comprometeram o acesso a dados em 2023. O cenário levou organizações a buscarem no seguro uma alternativa de mitigação financeira e reputacional. São Paulo concentra 69% da demanda nacional, com R$ 141 milhões movimentados, enquanto o Maranhão registrou a maior alta percentual, de mais de 5.800% em um ano. 

Custos de violações de dados crescem no Brasil

O relatório anual Cost of a Data Breach (CODB) 2025, da IBM, apontou aumento nos custos de violações de dados em meio a ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas. No Brasil, o custo médio de um incidente atingiu R$ 7,19 milhões, um crescimento de 6,5% em relação a 2024, quando era de R$ 6,75 milhões. O estudo destaca também o papel da automação e da inteligência artificial (IA) na mitigação desses custos e, pela primeira vez, avaliou a segurança e governança da IA nas organizações. Setores como Saúde, Finanças e Serviços foram os mais impactados, com custos médios de R$ 11,43 milhões, R$ 8,92 milhões e R$ 8,51 milhões, respectivamente, reforçando a pressão sobre equipes de segurança cibernética diante de desafios cada vez mais complexos.

Tecnologia para enfrentar crimes digitais

Conforme pontuado no levantamento, a adesão tecnológica é indispensável para responder a essa nova realidade. Por exemplo, plataformas de seguros digitais podem adotar serviços que permitem o bloqueio remoto do aparelho segurado em caso de roubo, aumentando as chances de recuperação e minimizando perdas financeiras. Além da proteção patrimonial, a oferta de seguros para celulares está incorporando cobertura contra danos causados por ataques cibernéticos e fraudes digitais, ampliando o escopo tradicional do mercado. Isso acontece em um contexto de crescente preocupação com a segurança de dados pessoais, hipótese que demanda da indústria seguradora parcerias com empresas de cibersegurança e desenvolvimento de produtos que também promovam a segurança digital.

O novo desafio do mercado de seguros

A prevalência dos roubos por meio de dispositivos eletrônicos aponta para uma nova realidade de crimes no Brasil e a resposta, no setor de seguros, precisa ser efetiva para driblar esse quadro. Golpes eletrônicos, roubos de dados e fraudes digitais atingem milhões de brasileiros e pressionam empresas e seguradoras a inovar. A criação de unidades especializadas, como o DERCC em Porto Alegre, e iniciativas legislativas no Senado demonstram que a intervenção precisa ser coordenada, envolvendo tecnologia, governança e regulamentação. O seguro cibernético, com crescimento exponencial no Brasil, já se mostra indispensável para empresas e consumidores que buscam segurança diante de um cenário cada vez mais complexo. Dessa forma, a inclusão de coberturas especializadas para crimes digitais, aliada ao uso inteligente de tecnologia e análise de dados, poderá consolidar um novo paradigma na proteção patrimonial, assegurando entidades e usuários que sofrem com a frequência desses crimes. Com isso, o ramo de seguros deve estar preparado para contornar esse panorama e explorar caminhos que enxerguem o seguro muito além da proteção tradicional em favor da segurança para quem navega no âmbito digital.

Postado em
19/8/2025
 na categoria
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