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CNH mais barata, seguro mais caro?

CNH mais barata, seguro mais caro?

A proposta apresentada pelo governo federal para eliminar a exigência das aulas práticas obrigatórias em autoescolas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) abre caminho para uma possível redução no custo da formação dos motoristas de até 80%. Tal medida visa ampliar o acesso à habilitação e diminuir a informalidade nas ruas, mas também gera debates sobre a qualidade da formação dos condutores e os reflexos diretos na segurança viária. Para o mercado de seguros, que lida diariamente com as consequências financeiras e humanas dos acidentes de trânsito, esta pauta é de suma importância, pois a educação no trânsito é uma elemento central na mitigação dos riscos e na redução da sinistralidade do segmento automotivo.

Formação dos motoristas e impacto no risco segurador

Um levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego apontou que a maior parte dos acidentes nas estradas brasileiras é atribuída a falhas humanas. Como a qualidade da formação dos motoristas pode impactar ainda mais esses números e a proposta colocada em discussão pode comprometer o preparo dos novos condutores ao volante, ela precisa ser observada de perto por diversos setores.

Do ponto de vista do mercado segurador, a qualidade da formação dos motoristas influencia diretamente o perfil de risco das apólices. Corretores e seguradoras consideram a experiência e o treinamento um diferencial para precificação. A liberação da obrigatoriedade das aulas em autoescolas pode impactar negativamente a sinistralidade, elevando custos e pressionando as margens do segmento automotivo. 

Custo elevado da CNH como barreira de acesso

A questão é que a obrigatoriedade das aulas em autoescolas pode ser uma barreira econômica para uma parcela da população. De acordo com o Ministério dos Transportes, o custo médio para obtenção da CNH no Brasil gira em torno de R$3.215,64. Desse total, o candidato paga cerca de R$2.469,35 para autoescola e R$746,29 em taxas., valor que pode ser proibitivo para muitos interessados. A proposta de flexibilizar essa exigência visa reduzir o custo médio e, assim, estimular a formalização de condutores que, atualmente, optam por vias alternativas não regulamentadas, elevando o risco de acidentes e fraudes.

Autoescolas como promotoras de cultura de segurança

Além da questão econômica, há o impacto na segurança pública. As autoescolas não apenas fornecem conhecimento teórico e prático, mas também promovem uma cultura de respeito às leis de trânsito, segurança e responsabilidade. Alguns especialistas já manifestaram preocupação com a dispensa, alertando para o risco de se formar uma nova geração de motoristas menos preparada para as reais condições e perigos das vias brasileiras.

Tecnologia como aliada para mitigar riscos

Apesar da busca por simplificação e inovação, é fundamental que as mudanças propostas sejam acompanhadas de estudos técnicos que avaliem o impacto na segurança e nos indicadores de sinistralidade. Nesse aspecto, a tecnologia pode colaborar para mitigar os riscos associados à flexibilização na formação. Plataformas digitais de treinamento, simuladores virtuais e aulas virtuais práticas podem garantir qualidade no aprendizado e oferecer dados concretos sobre o desempenho do condutor, possibilitando uma melhor classificação de risco pelas seguradoras. Há exemplos de sucesso de seguradoras e insurtechs que já utilizam telemetria para avaliar hábitos de direção.

Efeitos esperados sobre o mercado de seguros

Para as seguradoras, esse contexto traz uma mudança inevitável na composição da carteira de riscos. Com o aumento da oferta de motoristas habilitados, é esperado um crescimento no número de apólices automotivas, mas também uma maior heterogeneidade no perfil dos segurados. Será necessário desenvolver modelos de avaliação de riscos que considerem a nova realidade formativa, incluindo a eventual falta de experiência prática de alguns motoristas habilitados sem treinamento presencial.

Outro questão importante é que uma expansão no número de motoristas habilitados impacta diretamente o volume do seguro auto, com potencial para crescimento, especialmente se produtos mais acessíveis e customizados forem desenvolvidos para novos perfis de motoristas.

Educação continuada e responsabilidade compartilhada

Há muitos setores a serem envolvidos e variados aspectos a serem ponderados quando se trata de uma mudança estrutural como essa. Fato é que ela pode estimular uma maior conscientização dos próprios condutores em relação à responsabilidade no trânsito. Programas de educação continuada em parceria com seguradoras e órgãos de trânsito podem ser ampliados, promovendo a redução de sinistros e custos com indenizações, gerando ganhos para toda a cadeia: segurado, corretor, seguradora e sociedade.

Postado em
4/8/2025
 na categoria
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