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iência comportamental para a subscrição no seguro de saúde mental

A subscrição pode se tornar desafiadora quando se trata de questões que envolvem a saúde mental. Transtornos como ansiedade e depressão muitas vezes não são devidamente relatados, são diagnosticados tardiamente ou, ainda, sofrem com tabus e estigmas sociais. Isso dificulta uma avaliação precisa do risco e, consequentemente, a criação de produtos justos e acessíveis. Um estudo realizado com mais de 4 mil pessoas identificou métodos que incentivam uma resposta mais honesta e aberta sobre questões de saúde mental, tornando o processo de subscrição mais eficaz e humano.

A Pesquisa de Saúde Mental de 2023 da RGA, apontou que mais da metade das seguradoras ainda encontram obstáculos ao lidar com seguros ligados à saúde mental. Essas barreiras não decorrem apenas da resistência dos segurados em fornecer informações sensíveis, mas também de formulários pouco eficazes, que acabam gerando insegurança e dificultando uma avaliação clara e honesta da condição emocional dos candidatos. Entre os achados, destacam-se: o uso de listas específicas de transtornos, que aumentam a taxa de revelações; declarações que normalizam o cuidado psicológico; segmentação das perguntas por grau de estigma; equilíbrio entre detalhamento e conforto emocional; e a preferência por chatbots como canais de confidência. 

Hiperconectividade e o impacto emocional

Em um mundo hiperconectado e acelerado, os transtornos emocionais viraram uma grande epidemia, afetando milhões de pessoas. O mundo digital, embora tenha facilitado o acesso à informação e ao atendimento remoto, também contribuiu para o aumento do estresse, da ansiedade e da exaustão. Vivemos em uma era de “hiperconexão e esgotamento”, o que coloca a saúde mental no centro das preocupações sociais e econômicas. Esse cenário impulsiona a necessidade de seguros mais humanos, que considerem as especificidades da saúde emocional, oferecendo suporte contínuo, como acompanhamento psicológico, linhas de apoio e programas de bem-estar.

O desafio da saúde mental no Brasil

Diante do quadro mundial de cuidados com a saúde mental, o mercado de seguros tem buscado novas maneiras de oferecer coberturas mais adequadas e acessíveis. Segundo dados obtidos pelo G1 junto ao Ministério da Previdência Social, em 2024 o Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico – um aumento de 68% em relação a 2023. A crise de saúde mental afeta trabalhadores de diversas faixas etárias e setores, e exige respostas mais eficazes por parte de todos os atores sociais. Tendo isso em vista, o mercado segurador passa pelo desafio de oferecer produtos que garantam não só o amparo financeiro, mas que funcionem como prevenção e cuidado contínuos. Seguradoras que investem em serviços de bem-estar psicológico, entendem o seguro como um aliado da saúde emocional.

Um novo olhar sobre o seguro de vida e saúde

As seguradoras de vida e saúde estão passando por uma mudança de foco: do simples pagamento de sinistros para a promoção da prevenção e do cuidado contínuo, especialmente diante do crescimento das demandas relacionadas à saúde mental. Com o aumento de diagnósticos de depressão, ansiedade e burnout, cresce também a pressão para incluir transtornos mentais nas coberturas. Segundo uma matéria do Migalhas, essa realidade impõe desafios, como a dificuldade de mensurar riscos de doenças psiquiátricas, a ausência de critérios objetivos e a confusão entre coberturas como IFPD (invalidez funcional) e ILPD (invalidez laboral). Além disso, laudos médicos divergentes e a falta de regulamentação clara contribuem para a insegurança jurídica e potencial judicialização, ameaçando a viabilidade dos produtos. Embora iniciativas como o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental representem avanços, o setor ainda carece de diretrizes sólidas para equilibrar proteção ao segurado e sustentabilidade financeira. A inclusão da saúde mental nos seguros é essencial, mas precisa ser feita com critérios técnicos que evitem fraudes e garantam previsibilidade atuarial.

Dados e ciência comportamental podem reduzir custos na saúde

A integração entre ciência de dados e tecnologia tem sido fundamental para melhorar os seguros voltados à saúde mental. O uso de inteligência artificial e plataformas digitais permite que seguradoras identifiquem precocemente sinais de sofrimento emocional e direcionem o segurado para o cuidado adequado. Além disso, um relatório apontou que integrar dados e ciência comportamental ajudam a enfrentar o aumento dos custos na saúde e, ao mesmo tempo, atender às expectativas dos consumidores por serviços mais personalizados. A solução ideal requer sistemas tecnológicos avançados e escaláveis, capazes de transformar dados em ações práticas. O uso de técnicas comportamentais deve incentivar mudanças sutis e duradouras no comportamento dos consumidores, sem sobrecarregá-los. O estudo propõe três pilares: promover pequenos avanços no comportamento do cliente, interagir em momentos estratégicos e seguir um caminho realista e contínuo. Essa abordagem pode melhorar a saúde dos segurados, reduzir sinistros e tornar o seguro mais eficiente e centrado no usuário.

Dados, empatia e transformação 

Os cuidados com a saúde mental além de ter se tornado um alerta para sociedade, é também um chamado para reinvenção no setor de seguros. A subjetividade dos transtornos psiquiátricos, os desafios na mensuração de riscos e a falta de regulamentação clara indicam a necessidade de ajustes. Como recursos indispensáveis na mudança desse paradigma, a ciência comportamental e as tecnologias podem servir para reconstruir a ponte entre seguradoras e segurados — com menos burocracia, mais sensibilidade e inteligência. Através da compreensão dos hábitos, emoções e contextos individuais dos clientes, é possível desenhar parâmetros mais realistas, ofertas mais personalizadas e subscrições mais assertivas. A saúde mental não pode ser mais um ponto cego nos contratos — e o seguro, que sempre existiu para oferecer segurança diante do inesperado, tem agora a chance de ser também um agente ativo de prevenção e cuidado com o bem-estar mental.

Postado em
9/5/2025
 na categoria
Inovação

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