Inovação

Por dentro da precificação justa: como a tecnologia garante um seguro mais inteligente para cada motorista

Entrevista aborda parâmetros de direção utilizados na precificação, transparência no uso de algoritmos, mitigação de vieses, escalabilidade da operação, papel dos corretores e perspectivas de expansão tecnológica da Justos.
Por dentro da precificação justa: como a tecnologia garante um seguro mais inteligente para cada motorista

O diretor-presidente da Justos, Alan Leal, conversou com a Insurtalks sobre a estratégia da insurtech para tornar a precificação do seguro auto mais justa e compreensível para motoristas e corretores. A entrevista percorre os principais pontos que estruturam o modelo de negócios da empresa, desde os parâmetros de direção avaliados pela telemetria até os mecanismos de transparência que permitem ao cliente entender como sua conduta impacta o valor da mensalidade.

O executivo também explicou de que forma a Justos evita vieses socioeconômicos no cálculo de risco, mantém a escalabilidade da operação sem perda de precisão, diferencia sinistros de origem externa do comportamento do motorista e oferece ferramentas para que os corretores atuem de maneira consultiva. Além disso, destacou a governança aplicada aos testes de novas tecnologias de inteligência artificial e comentou as possibilidades de expansão do modelo para outras modalidades de seguro, ainda que o foco atual siga na consolidação do seguro automotivo.

Insurtalks: Quando vocês criaram o perfil de direção como elemento central da precificação, qual foi o maior risco que vocês consideraram (tecnológico, regulatório ou de aceitação dos clientes), e como decidiram definir quais parâmetros (aceleração, frenagem, direção focada etc.) entrariam nesse perfil?

Alan Leal: O maior desafio foi equilibrar tecnologia e clareza para o cliente. Do ponto de vista tecnológico, precisávamos garantir que o modelo de telemetria fosse preciso e confiável em diferentes condições de tráfego e aparelhos. Regulamentarmente, trabalhamos em diálogo constante com os nossos segurados e corretores, validando todas as etapas desse modelo. E, na frente de aceitação, nosso foco foi deixar o processo intuitivo e justo: o motorista entende que paga pelo que realmente reflete seu comportamento ao volante.

Hoje, avaliamos cinco parâmetros principais — aceleração, velocidade, curvas, frenagem e direção focada (evitar o uso do celular enquanto dirige) —, definidos a partir de estudos internos e padrões internacionais de segurança viária

Insurtalks: Como vocês equilibram o uso de algoritmos para personalização com o princípio de transparência para o segurado, especialmente para quem questionar por que pagou mais ou menos que outro motorista semelhante?

Alan Leal: Transparência é um dos pilares da Justos. Por isso, explicamos de forma simples o que influencia o valor do seguro e damos visibilidade aos clientes sobre como melhorar sua nota de direção. Essa comunicação é feita diretamente pelo aplicativo, com atualizações em tempo real e dicas personalizadas. O resultado é uma relação mais clara e de confiança: o motorista entende por que paga mais ou menos, e pode agir para reduzir sua mensalidade.

Insurtalks: Vocês adotam algum mecanismo para evitar vieses socioeconômicos ou regionais implícitos no modelo de precificação?

Alan Leal: Nossa estrutura de precificação evita vieses socioeconômicos: não usamos atributos sensíveis e controlamos possíveis proxies (ex.: CEP) na construção tarifária. Priorizamos telemetria para individualizar o risco com base no comportamento real de direção, reduzindo a dependência de marcadores como renda, idade ou região e evitando diferenças injustificadas. Todo o processo é monitorado e reavaliado continuamente pelo nosso time de precificação.

Insurtalks: Como vocês projetam a escala da operação (ou seja, na hora de multiplicar para uma base grande de motoristas) sem perder o tempo de resposta ou a precisão dos modelos de cálculo de risco?

Alan Leal: A escalabilidade foi um ponto-chave desde o início. Nossos modelos são baseados em arquitetura modular e treinados em dados anonimizados, o que permite a recalibração constante sem comprometer a performance. Além disso, automatizamos grande parte do pipeline de precificação, com atualizações contínuas via IA — o que mantém a operação leve e responsiva, mesmo com crescimento acelerado da base. O tempo de processamento e resposta é monitorado em tempo real, garantindo que o cliente receba sua cotação de forma ágil, sem perda de precisão.

Insurtalks: No relacionamento com os corretores, até que ponto eles têm autonomia para “ajustes finos” nas propostas geradas pela Justos? E como vocês lidam com a eventual tensão entre o modelo algorítmico e o conhecimento local do corretor?

Alan Leal: Os corretores são parceiros estratégicos e têm autonomia para interagir com o cliente, adaptar o atendimento e orientar sobre as melhores opções das coberturas oferecidas pela Justos. O que não muda é a precificação técnica, que é calculada com base no comportamento real de direção — isso garante a consistência e a credibilidade do modelo. Ao mesmo tempo, damos aos corretores ferramentas para oferecer uma experiência personalizada. O Portal do Corretor, por exemplo, centraliza informações sobre apólices, comissionamentos e status de clientes, o que permite que eles atuem de forma consultiva e com total visibilidade sobre suas vendas.

Insurtalks: Em casos de sinistro: de que modo os modelos de precificação diferenciam sinistros gerados por maus condutores versus eventos externos como roubo, impacto de terceiros? Isso já impacta retroativamente o preço para os que são considerados motoristas bons?

Alan Leal: Nosso modelo diferencia incidentes decorrentes do comportamento do condutor de eventos externos, como roubo ou colisões causadas por terceiros. Essa distinção é fundamental para manter o princípio de justiça da precificação. Os bons motoristas não são penalizados por fatores fora de seu controle. Além disso, o histórico de direção continua sendo o principal parâmetro para calcular o preço futuro, e não apenas o número de sinistros. É uma forma de reforçar a lógica de recompensa e incentivar hábitos seguros no trânsito.

Insurtalks: Vocês estão avaliando expandir a aplicação desse modelo com IA e telemetria para outros tipos de seguro (residencial, cargas, frotas)? Se sim, quais adaptações seriam necessárias para isso?

Alan Leal: Estamos sempre avaliando oportunidades de aplicar nossa tecnologia em novos mercados, mas o foco da Justos neste momento é expandir e consolidar nossa atuação no seguro auto, onde ainda há muito espaço para inovação e crescimento. O setor automotivo representa uma oportunidade significativa de transformação, especialmente com o uso de dados comportamentais e inteligência artificial para tornar o seguro mais acessível, justo e eficiente. Nosso compromisso é continuar aprimorando o modelo atual e escalar a operação de forma sustentável, sempre com o objetivo de simplificar a vida dos motoristas e fortalecer a parceria com os corretores.

Insurtalks: Vocês estão fazendo alguma nova aposta tecnológica para tornar a precificação ainda mais inteligente, como, por exemplo, modelos de aprendizado por reforço ou IA explicável?

Alan Leal: Está no DNA da Justos buscar novas tecnologias. Estamos avançando em técnicas que tornam a precificação mais inteligente sem abrir mão de governança e transparência. Testamos tudo em ambiente controlado e aplicamos IA de forma responsável e explicável, garantindo que cada inovação chegue à produção de forma segura e confiável.

Postado em
31/10/2025
 na categoria
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