Em conversa com a Insurtalks, Rodrigo Santos, CEO e fundador da Abaccus, falou sobre os desafios que retardam o lançamento de produtos no setor de seguros e sobre como a tecnologia pode reorganizar esse fluxo Ao detalhar entraves como a dependência da TI, a dificuldade de sistematizar definições de produto e o impacto das filas internas, o executivo explica como a plataforma da empresa permite que áreas de negócio construam, testem e ajustem motores de cálculo de forma independente, mantendo registro completo de cada alteração.

Na entrevista, ele aborda ainda o papel da rastreabilidade para decisões mais claras, a importância da explicabilidade em motores inteligentes, os efeitos de integrações antecipadas com brokers e multicálculo e a necessidade de conciliar autonomia com governança diante de regulações como o PL 2338/2023. O resultado é um panorama direto sobre como organizações podem estruturar regras de negócio com mais agilidade, sem abrir mão de controle, coerência técnica e conformidade.

Insurtalks: O tempo de lançamento de novos produtos é uma dor recorrente no setor de seguros. Que gargalos a Abaccus identificou nesse processo e como a tecnologia pode encurtar esse caminho?

Rodrigo Santos: Expor ao mercado a sua maneira de fazer negócios através de meios digitais, nunca é fácil para qualquer empresa. Definições técnicas de produto já tomam bastante tempo dos times de negócio, entretanto, o grande desafio está em como sistematizar essas definições. Aspectos tecnológicos, pessoas, fila da TI, dependência de parceiros, tudo isso colabora para tornar moroso o lançamento de novos produtos. Especialmente em seguros, saber se a seguradora vai topar ou não um risco e, caso tope, quanto vai custar, geralmente pode ser definido antes de todo um arcabouço sistêmico ser desenvolvido, e é exatamente nesse ponto que a Abaccus entra, ou seja, permitimos que processos de subscrição de cálculo de prêmio de seguros sejam construídos e liberados para integração com parceiros e canais de maneira antecipada, em muitos casos sendo feito pelo próprio time de negócios.

Insurtalks: O software da Abaccus permite que as seguradoras ajustem suas regras de negócio com autonomia. O que isso significa para as áreas de produto e precificação?

Rodrigo Santos: Significa acelerar o time-to-market da seguradora e literalmente estar no controle, seja adaptando políticas regulatórias, seja ajustando algoritmos de cálculo de prêmio, seja ajustando políticas de aceitação, tudo devidamente documentado e rastreado. Ter a possibilidade de ajustar a forma como se faz negócio de maneira rápida e controlada faz toda a diferença para ser competitivo.
Insurtalks: Essa autonomia vem acompanhada de uma camada de governança. Como o sistema garante rastreabilidade e segurança das alterações realizadas nos motores de cálculo?

Rodrigo Santos: Qualquer alteração em objetos que representam a inteligência de negócios de um motor de cálculo ou de subscrição é gravado em um módulo de trilha de auditoria, que faz o registro do momento exato da alteração, quem alterou e o que foi alterado. Além de trazer controle e segurança para os processos de negócio, também possibilita olhar para o passado e entender as políticas que eram aplicadas em outros momentos do ciclo de vida do produto, o que é mais difícil de se conseguir quando o código da inteligência de negócios da seguradora está escrito de maneira rígida dentro dos diversos sistemas.

‍Insurtalks: A integração com brokers e plataformas de multicálculo é apontada como uma das grandes vantagens da solução. De que forma essa integração antecipada impacta a estratégia comercial das seguradoras?

Rodrigo Santos: Essa aceleração em lançar um novo produto para cotação permite a seguradora ser mais ágil e se posicionar com novas ofertas através desses canais de distribuição, além de possibilitar a lapidação da oferta enquanto todo o backoffice sistêmico de emissão está sendo construído.

Insurtalks: No horizonte do setor, fala-se cada vez mais em motores de cálculo inteligentes e explicáveis. Como a Abaccus enxerga essa evolução e qual o papel da explicabilidade no futuro das decisões automatizadas?

Rodrigo Santos: Na Abaccus, acreditamos que o futuro das decisões automatizadas está intrinsecamente ligado à transparência e confiança. Motores de cálculo inteligentes e explicáveis representam uma evolução crucial porque permitem que as organizações tomem decisões complexas de forma automatizada, mas sem sacrificar a clareza e a responsabilidade.

A explicabilidade não é apenas um requisito técnico: é uma oportunidade para criar confiança entre os stakeholders, seja internamente, nas equipes de negócio e TI, seja externamente, com clientes e reguladores. No setor de seguros, por exemplo, regras e cálculos que afetam diretamente o consumidor precisam ser rastreáveis e justificados, especialmente diante de um mercado cada vez mais vigilante às práticas de ética e conformidade.

O papel da Abaccus nesse contexto é viabilizar tecnologia que combine alto desempenho com explicabilidade. Por meio da nossa plataforma BRMS, desenvolvemos motores que não apenas automatizam decisões críticas, mas que também oferecem total transparência em cada processo. Cada cálculo pode ser auditado, compreendido e ajustado pelas áreas de negócio de forma simples e rápida, com o suporte a tecnologias low-code. Assim, ajudamos nossos clientes a alcançar mais eficiência sem comprometer a governança ou a confiança.

Insurtalks: O PL 2338/2023 é um exemplo que indica um caminho de regulação mais rigorosa sobre o uso de IA. Como você acredita que a tecnologia pode ajudar as seguradoras a se adequarem sem perder velocidade de inovação?

Rodrigo Santos: A regulação mais rigorosa, como essa proposta pelo PL 2338/2023, não precisa ser encarada como um empecilho, mas como um catalisador para soluções mais maduras e éticas. No caso das seguradoras, que gerenciam vastas quantidades de dados sensíveis e tomam decisões de alto impacto, a conformidade não é apenas uma obrigação legal, mas uma oportunidade para reforçar a confiança junto aos clientes.

A tecnologia desempenha um papel fundamental nesse equilíbrio entre regulação e inovação. Soluções como a da Abaccus, que promovem autonomia sem abdicar do controle, permitem que as seguradoras operacionalizem suas regras de negócio e decisões com total aderência regulatória, rastreabilidade e transparência. Ao mesmo tempo, com nossa abordagem low-code, oferecemos um ambiente ágil que possibilita ajustes rápidos frente a mudanças regulatórias, algo indispensável para que as empresas se mantenham competitivas em um mercado dinâmico.

Além disso, a explicabilidade das decisões automatizadas, tema em alta nas regulações de IA, é uma prioridade para a Abaccus. Queremos garantir que cada decisão tomada pela tecnologia possa ser compreendida e justificada sem ambiguidades, atendendo tanto às exigências legais quanto às expectativas do mercado e dos consumidores.

Insurtalks: A Abaccus fala muito em “autonomia com controle”. Explique um pouco como essa expressão reflete a proposta da empresa?

‍Rodrigo Santos:"Autonomia com controle" é muito mais do que uma frase para a Abaccus: é o princípio que norteia toda a nossa atuação. Acreditamos que impulsionar a autonomia das áreas de negócio não deve significar abrir mão da governança, da rastreabilidade ou da segurança nas decisões. Este equilíbrio é essencial, principalmente em setores como o de seguros, onde as regras de negócio são frequentemente complexas e sujeitas a alterações constantes.

Nossa proposta é oferecer às empresas ferramentas que devolvam às equipes de negócio o controle sobre suas regras e decisões, sem que isso gere grandes dependências de TI ou processos lentos. Com a nossa tecnologia BRMS baseada em low-code, os usuários podem criar, ajustar e monitorar regras e cálculos de forma independente, garantindo agilidade para inovar e responder rapidamente às demandas do mercado.

Ao mesmo tempo, proporcionamos um alto nível de controle, com total rastreabilidade, mecanismos robustos de governança e integração com os sistemas legados. "Autonomia com controle" significa que as seguradoras e demais empresas não precisam escolher entre velocidade e segurança. Elas podem alcançar ambos com consistência.