Megaoperação da PF expõe ação criminosa associada a fintechs e a vulnerabilidade financeira traz alerta para o setor de seguros

Megaoperação da PF expõe vulnerabilidades em fundos e fintechs
A operação da Polícia Federal contra uma empresa investigada por suposta ligação com esquemas de lavagem de dinheiro do PCC expôs fragilidades no uso de fundos e fintechs, e sua atuação como canais ilícitos. Durante a operação, a sede da empresa foi alvo de buscas e as investigações indicaram a utilização de fundos para blindagem patrimonial e compra de companhias envolvidas em esquema de adulteração de combustíveis, também orquestrado pelo PCC. Considerando as vulnerabilidades da indústria financeira digital, a investigação, que aponta conexão com facções criminosas, sinaliza a necessidade de fortalecimento da governança corporativa e adoção de tecnologias no combate a fraudes nos setores macroeconômicos.
Fraudes em fintechs e os riscos do crescimento do sistema bancário digital
Nos últimos 5 anos as fintechs se multiplicaram em ritmo acelerado. Entre 2017 e 2023, o total na América Latina saltou de 703 para 3.069, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o Brasil ocupando a liderança no continente sul-americano. Esse crescimento trouxe progressos para o mercado e maior conforto para o consumidor, que experimenta hoje nos serviços digitais menos burocracia, maior inclusão financeira e sistemas de pagamento extremamente práticos, como o Pix. No entanto, essa evolução também abriu brechas para fraudes, esquemas de lavagem de dinheiro e infiltração de organizações criminosas nas plataformas digitais. O desafio atual recai sobre órgãos reguladores como o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que precisam encontrar o ponto de equilíbrio entre incentivar a inovação e blindar o sistema contra riscos cada vez mais sofisticados.
“‘Fintechzação’ chegou ao submundo do crime”
Uma matéria do O Globo divulgou que, de acordo com relatórios do MP-SP e de operações da Polícia Federal e Polícia Civil, cerca de R$ 28,2 bilhões ligados ao tráfico de drogas e armas circularam, nos últimos seis anos, por pelo menos oito instituições de pagamento e bancos digitais, que viabilizam transferências e negociação de criptomoedas. Para o promotor Fábio Bechara, as “fintechs estão substituindo os doleiros” e passaram a funcionar como “paraísos fiscais”. O esquema progrediu a ponto de incluir fundos de investimento, usados para ocultar patrimônio e dar aparência legal a recursos ilícitos. Documentos da Operação Carbono Oculto mostram a participação de pessoas físicas, empresas de fachada e fundos como o GAD III, ligado à gestora Buriti, em transações suspeitas. As autoridades pediram bloqueio e indisponibilidade de bens para assegurar reparação de danos e evitar que os valores sejam novamente reciclados.
O alerta para o setor de seguros diante da escalada do crime financeiro
As investigações que expuseram a infiltração de facções criminosas em fintechs acende um sinal vermelho também para o setor de seguros, que compartilha com o sistema financeiro a circulação de altos valores em operações, especialmente em produtos como seguro garantia e previdência privada. A estrutura usada para lavar dinheiro em bancos digitais pode encontrar brechas em seguradoras, afetando não só a integridade do mercado, mas a confiança dos clientes. Diante disso, é importante que o setor adote medidas e práticas de segurança que fortaleçam seus mecanismos de governança, a fim de impedir que ações criminosas contaminem uma indústria cuja essência é oferecer proteção.
Principais fraudes que afetam o ramo segurador
O setor de seguros no Brasil já movimentou cerca de R$ 435 bilhões em 2025, um aumento de 12,2% em relação ao ano anterior. Junto com o crescimento da indústria ao passar dos anos e com a presença da digitalização, também aumentaram as fraudes, que segundo a Fenaseg, geram perdas de aproximadamente R$ 2 bilhões por ano. A Fenacor destacou os chamados “golpes do seguro”, que aparecem em várias modalidades. No ramo automotivo, por exemplo, há casos de sinistros inventados, acidentes provocados de propósito e até roubos forjados, em que o veículo é vendido ilegalmente e declarado como roubado. Já em seguros residencial e patrimonial, é comum que clientes exagerem ou inventem danos para receber indenizações. No caso de seguros de vida e saúde, surgem práticas como ocultar doenças preexistentes, falsificar documentos, inventar procedimentos médicos e, em situações mais graves, até simular mortes ou invalidez. Essas fraudes, além de prejudicarem as seguradoras, afetam também os clientes honestos, já que os custos acabam repassados para os prêmios de todos.
IA e dados sintéticos no combate às fraudes em seguros
Garantir a segurança no mercado de seguros é fundamental para atrair investimentos e preservar a confiança do setor. Conforme uma matéria do tiinside, inteligência artificial e dados sintéticos têm se destacado como ferramentas para detectar fraudes e atender às exigências regulatórias da SUSEP, como o ORSA, que requer testes de estresse nas operações das seguradoras. a matéria ainda aponta que, segundo a Gartner, até 60% dos dados usados em IA seriam sintéticos já em 2024, enquanto a S&P projeta que o mercado global de IA generativa alcance US$ 3,7 bilhões até 2028. Criados a partir de modelos estatísticos, os dados sintéticos permitem simular cenários complexos, treinar sistemas com maior precisão e identificar anomalias em milhões de transações que métodos tradicionais não captariam. Na prática, isso significa que uma seguradora de automóveis pode treinar modelos para reconhecer padrões de sinistros fraudulentos, enquanto uma de saúde consegue prevenir autorizações médicas suspeitas antes mesmo de ocorrerem. Assim, o uso combinado de IA e dados sintéticos garante aprendizado contínuo, monitoramento em tempo real e maior capacidade de antecipar novas ameaças.
Gestão eficaz e capacitação fortalece mercado financeiro e de seguros
De acordo com uma divulgação do portal Terra, Lélio Vieira Carneiro Júnior, chairman da Rafatella Investimentos, defende que fintechs bem geridas podem ser pilares de estabilidade econômica, protegendo consumidores e investidores com transparência e segurança, ao mesmo tempo em que promovem inclusão e desburocratização. Além disso, ressalta o fortalecimento da regulação, equiparando as fintechs a bancos em termos de exigências operacionais, como um passo indispensável para garantir integridade do sistema financeiro digital, monitoramento rigoroso, prevenção à lavagem de dinheiro e maior transparência. No universo dos seguros, a ameaça vem da sofisticação crescente dos golpes digitais, com fraudadores usando inteligência artificial e automação para burlar mecanismos tradicionais de detecção. Apesar dos benefícios do uso das tecnologias na mitigação e detecção de anomalias com maior precisão, muitas empresas ainda carecem de conhecimento técnico e capacitação interna para gerar e aplicar dados sintéticos com eficiência, por exemplo, para obter a segurança necessária nesses processos. Conforme a matéria do tiinside, para avançar, o setor precisa investir em formação de equipes, ferramentas adequadas e uso responsável da IA, de modo a antecipar ameaças e construir, assim, um ambiente mais seguro e confiável para todo o segmento.
A frente de defesa do setor financeiro e de seguros
A megaoperação da Polícia Federal demonstra que, à medida que o sistema financeiro digital e as fintechs se expandem, surgem novas vulnerabilidades que os criminosos podem explorar. O mesmo alerta se estende ao setor de seguros, que, apesar de seu caráter protetivo, está sujeito a golpes cada vez mais sofisticados. A maturidade para gerir riscos, investir em tecnologias e capacitar profissionais pode definir o futuro do mercado segurador, protegendo-o das complexidades e ameaças oriundas de um ecossistema financeiro cada vez mais integrado e sofisticado. Em um cenário onde as vulnerabilidades podem comprometer a reputação e a sustentabilidade dos negócios, a resiliência e a inovação devem ser a base para consolidar um setor financeiro e de seguros mais transparente e longe de fraudes.