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Granizo no Paraná deixa prejuízos e alimenta o debate sobre a falta de adesão ao seguro residencial

Granizo no Paraná deixa prejuízos e alimenta o debate sobre a falta de adesão ao seguro residencial

Uma chuva de granizo atingiu a cidade de Castro (PR) na manhã de terça-feira (26). O fenômeno, causado por um vórtice ciclônico, durou menos de 20 minutos, mas foi intenso a ponto de cobrir ruas e áreas rurais. Segundo a Defesa Civil, cerca de 600 casas tiveram telhados danificados, além de prejuízos em prédios públicos, igrejas e comércios. Este evento climático extremo desenha possíveis cenários para a tomada de ação no ramo segurador no que diz respeito à análise de riscos, prevenção e agilidade na regulação de sinistros, áreas que sempre demandam soluções tecnológicas e inovadoras.

Desastres climáticos no Brasil aumentaram 250%

Os eventos climáticos extremos têm se tornado mais severos nos últimos anos. Segundo estudo lançado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica em parceria com diversos outros órgãos, os desastres climáticos no Brasil aumentaram 250% entre 2020 e 2023, em comparação com a década de 1990.

Os pesquisadores constataram que, para cada aumento de 0,1°C na temperatura média global do ar, ocorreram mais 360 desastres climáticos no Brasil. Já para cada aumento de 0,1°C na temperatura média global da superfície oceânica, foram registrados mais 584 eventos extremos no país.

No total, o Brasil contabilizou 64.280 desastres climáticos desde 1990, com crescimento anual consistente:

  • 1991–1999: 725 registros anuais
  • 2000–2009: 1.892 registros anuais
  • 2010–2019: 2.254 registros anuais
  • 2020–2023: 4.077 registros anuais

Seguro residencial como resposta imediata às perdas

Para lidar com essa situação, muitas possibilidades devem ser avaliadas por diversos setores e em aspectos variados, incluindo o de seguros. No caso específico das residências, episódios como o de Castro mostram a importância de uma proteção contratual que cubra danos causados por granizo, vento forte e enchentes, riscos que costumam afetar diretamente telhados, estruturas e bens móveis. Nessas situações, o seguro residencial é um recurso de recuperação rápida, permitindo que famílias restabeleçam a segurança do lar e evitem maiores prejuízos financeiros. A cobertura se torna ainda mais relevante porque o impacto de eventos climáticos envolve custos adicionais com reparos emergenciais, deslocamento de moradores e, muitas vezes, a necessidade de substituir integralmente bens danificados. Ainda assim, a presença desse tipo de proteção nas casas brasileiras está longe de acompanhar a relevância que demonstra em situações como essa.

A baixa adesão que ainda limita a proteção das famílias

Apesar de oferecer ampla cobertura e ter um custo proporcionalmente mais acessível que o seguro de veículos, o seguro residencial ainda é muito pouco difundido no Brasil. De acordo com matéria publicada pelo SindsegSP,  apenas 11 milhões de residências, ou 17% do total, contam com esse tipo de proteção. Esse dado revela uma baixa penetração dos seguros na sociedade brasileira, reflexo tanto do desconhecimento sobre os produtos quanto de aspectos culturais, como a percepção de que situações ruins sempre acontecem com os outros, nunca com o próprio indivíduo. 

Prioridades de consumo e a negligência ao seguro da casa

Segundo a matéria, os brasileiros se concentram em três tipos de proteção: seguros de veículos, seguros de pessoas e planos de saúde privados, sendo que os dois últimos são majoritariamente oferecidos pelas empresas. Ainda assim, esses produtos cobrem menos de 25% das necessidades reais da população. Enquanto isso, o seguro residencial, muitas vezes deixado de lado, oferece garantias importantes contra riscos diversos, incluindo os provocados por eventos climáticos extremos e outros danos como curtos-circuitos, roubos e prejuízos a bens materiais dentro dos lares.

Caminhos criativos para ampliar o alcance do seguro

Diante da frequência cada vez maior de eventos extremos, apenas reforçar o discurso sobre a importância do seguro não basta, é preciso pensar em alternativas criativas, capazes de aproximar o produto da vida cotidiana das famílias e torná-lo mais acessível. Dentro do espectro de possibilidades, a inovação pode ser uma delas e se materializar em diferentes frentes. Algumas alternativas que despontam como caminhos podem ser:

  • Integração com dispositivos domésticos inteligentes: o seguro poderia dialogar com sensores de impacto, medidores de energia ou câmeras caseiras para detectar riscos em tempo real (ex.: alerta de telhado danificado ou infiltração antes do agravamento).
  • Cobertura acionada por evento climático confirmado: em vez de depender só da declaração do segurado, usar dados oficiais de satélite e alertas meteorológicos para iniciar automaticamente o processo de indenização.
  • Gamificação e programas de prevenção: criar incentivos (descontos ou cashback) para quem participa de check-ups anuais da residência ou investe em manutenção preventiva.
  • Produtos coletivos por bairro ou condomínio: ao contratar em grupo, moradores poderiam ter custo reduzido e estímulo à cultura da proteção mútua.
  • Contratação instantânea via contas de serviços essenciais: acoplar microcoberturas à fatura de água, luz ou internet, diluindo o pagamento e simplificando o acesso.

O seguro residencial como parte da infraestrutura social

Os dados sobre o avanço dos desastres climáticos no país deixam claro que a discussão sobre seguro residencial pertence a uma engrenagem que dialoga com infraestrutura urbana, hábitos culturais e até com a maneira como a sociedade organiza respostas diante do inesperado. Por isso, aumentar a penetração desse produto passa por incorporar ferramentas de previsão, tecnologias de resposta imediata e modelos de distribuição que escapem do tradicional. Nesse processo, o seguro residencial deve se aproximar do cotidiano buscando se articular com dados, tecnologia e novos formatos de contratação ao ponto de se tornar um recurso que se entrelaça à rotina das famílias, como o seguro auto já conseguiu fazer há algumas décadas.

Postado em
28/8/2025
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