SUS investe abaixo da média internacional

De acordo com um estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), o Sistema Único de Saúde (SUS) sofre com um subfinanciamento persistente, especialmente quando comparado aos países da OCDE. Para que o Brasil atinja o nível médio de investimento per capita desses países, seria necessário mais do que dobrar os gastos em saúde, passando de 9,1% para 19% do PIB — uma meta ainda mais desafiadora diante do envelhecimento populacional projetado pelo IBGE. Apesar da retomada de regras fiscais que vinculam os gastos mínimos em saúde ao crescimento da arrecadação, especialistas alertam que o ritmo necessário de expansão para atender às demandas do sistema — pressionado por fatores como inflação médica, avanços tecnológicos e maior demanda por acesso — tende a superar os limites orçamentários estabelecidos. Atualmente, cerca de 76,5% da população brasileira depende exclusivamente do SUS, enquanto apenas 23,5% possuem planos de saúde. Essa insuficiência pode elevar a demanda por coberturas suplementares e aquecer o mercado de seguros de saúde.

Expansão do mercado de seguros saúde

Nesse contexto, o setor privado ganha relevância estratégica ao oferecer cobertura suplementar e soluções integradas que ajudam a suprir as deficiências do sistema público, cuja participação no PIB permanece em torno de 4,6% — abaixo do ideal para garantir infraestrutura adequada e equipes suficientes. Com a oferta de coberturas complementares e soluções integradas, as operadoras ajudam a preencher as lacunas do sistema público e ampliar o acesso à saúde no país. Em 2024, esse movimento se refletiu no avanço expressivo do número de beneficiários. De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o setor atingiu em dezembro um total de 52,2 milhões de usuários em planos de assistência médica e 34,4 milhões em planos exclusivamente odontológicos — ambos batendo recordes históricos. 

Parcerias público-privadas ganham força

Propostas inovadoras vêm ganhando destaque no cenário da saúde pública, como a conversão de dívidas estaduais em prestação de serviços médicos, modelo que permite que seguradoras e empresas privadas invistam diretamente em unidades de saúde em troca da quitação de débitos com o poder público. Essa medida não apenas amplia a oferta de serviços à população carente, mas também estimula a modernização da infraestrutura e a expansão da rede de atendimento em áreas com baixa cobertura do SUS. As parcerias público-privadas (PPPs) têm se consolidado como uma resposta viável aos gargalos financeiros e operacionais do sistema público, permitindo o compartilhamento de responsabilidades, riscos e recursos. Além de atrair capital privado para áreas críticas, essas colaborações promovem maior eficiência na gestão, inovação nos modelos de cuidado e ganhos de escala. Quando bem reguladas e fiscalizadas, as PPPs podem garantir mais agilidade na entrega de serviços, aumentar a qualidade do atendimento e criar soluções sustentáveis que beneficiem tanto o setor público quanto o privado.

Tecnologia como aliada da saúde suplementar

A transformação digital tem sido uma aliada fundamental na expansão e modernização da saúde suplementar. Ferramentas como a telemedicina, o monitoramento remoto e a gestão preventiva estão revolucionando o atendimento, ao possibilitar consultas à distância, acompanhamento contínuo e maior agilidade nas respostas clínicas. Esse avanço melhora a experiência do usuário, reduz custos operacionais e ajuda a desafogar o SUS. Paralelamente, o uso de inteligência artificial e análise de dados tem permitido às seguradoras personalizar coberturas, antecipar necessidades e promover ações preventivas mais eficazes. Esse modelo orientado por dados contribui para um cuidado mais assertivo, eficiente e centrado no paciente. Nesse cenário, os corretores de seguros assumem uma postura importante em orientar os consumidores na escolha dos planos mais adequados para cada perfil. Investir na qualificação desses profissionais e em soluções digitais é essencial para ampliar o alcance e a qualidade do atendimento, garantindo que a inovação tecnológica se traduza em benefícios na prática para toda a população.

Financiamento, reformas e políticas públicas

A pressão por políticas públicas que aumentem o investimento em saúde também impulsiona a discussão sobre reformas tributárias e novas fontes de financiamento. O fortalecimento das parcerias entre o setor público e privado é visto como estratégia para otimizar recursos e garantir maior qualidade e agilidade no atendimento, beneficiando tanto o SUS quanto o mercado de seguros. O mercado precisa considerar os desafios regulatórios, a necessidade de transparência e a garantia de que as iniciativas ampliem, de fato, o acesso e a qualidade dos serviços para todos os estratos sociais. A equidade no atendimento e a sustentabilidade financeira simultânea são metas essenciais para a consolidação dessas parcerias.

Integração como caminho para um sistema mais eficiente

À medida que o Brasil enfrenta o desafio fiscal histórico de ampliar o investimento em saúde pública, a saúde suplementar pode se tornar protagonista na construção de soluções complementares e integradas. A crescente atuação do setor de seguros saúde, aliada à tecnologia, parcerias público-privadas e novas estratégias de financiamento, aponta para um caminho possível — onde a iniciativa privada complementa, e não substitui, o papel do Estado. Ao unir forças, é possível construir um sistema mais ágil, sustentável e inclusivo, capaz de responder às demandas de uma população que envelhece, exige mais qualidade e quer acesso ampliado aos cuidados. Para seguradoras, corretores e demais profissionais, compreender esse contexto é fundamental para desenhar estratégias que acompanhem a evolução do mercado e atendam às demandas emergentes da sociedade.