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ilar González de Frutos lidera, desde 2003, atualmente está no seu quinto mandato, a Unión Española de Entidades Aseguradoras y Reaseguradoras (Unespa). Esta é constituída por cerca de 200 seguradoras que representam cerca de 98% do negócio segurador em Espanha. Também é vice-presidente da Confederación Española de Organizaciones Empresariales (CEOE) e membro do Comité Consultivo de la Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV).

Quais são os principais desafios da indústria seguradora, espanhola e europeia, a curto prazo e a médio-longo prazo?
O setor segurador é a rede de segurança da sociedade. Durante o século XXI têm ganho relevância determinadas fontes de incerteza como a digitalização, a transformação tecnológica, as alterações climáticas, o envelhecimento demográfico ou as novas tendências de mobilidade. Estes são fenómenos que afetam todas as sociedades desenvolvidas.

A digitalização terá impacto sobre a forma como a indústria se relaciona com os seus clientes, fornecedores e outros. Não se pode perder de vista o potencial do Big Data e das novas tecnologias, como o blockchain ou o uso da inteligência artificial, para a personalização de produtos e serviços. Também se tem de ter presente o seguro de riscos que até agora não era possível segurar por falta de informação.

Por outro, o desenvolvimento digital gerou os riscos cibernéticos, que têm uma dupla vertente. Por um lado, afetam as seguradoras como possíveis vítimas de ciberataques e, por outro, as entidades que protegem as outras empresas e instituições frente a estes ataques.

A existência de insurtechs contribui para que o setor de seguros seja mais inovador, ágil, confiável e lucrativo. A tecnologia permite que as entidades incorporem expertise externa na sua cadeia de valor, o que cria novas estratégias de nicho, promovendo a existência de uma gama cada vez mais ampla de fornecedores em toda a cadeia de valor do seguro. Os clientes poderão ter um maior benefício com o aumento deste tipo de parcerias como o acesso mais fácil e rápido aos produtos de seguros.

E em relação aos referidos: sustentabilidade, alterações climáticas e mobilidade?
A sustentabilidade tornou-se fundamental da gestão empresarial e, com maior razão, na indústria seguradora que tem um interesse especial na gestão de longo prazo baseada no risco, embora o cumprimento adequado desta legislação se revele um desafio exigente.

No campo dos fenómenos causados pela natureza, a experiência em seguros é ampla. Sempre houve terremotos, inundações, tempestades e erupções vulcânicas. Em Espanha, contamos com uma grande instituição que nos permite atender à maioria desses eventos que é o Consórcio de Compensación de Seguros. Para eventos de natureza, como a queda de neve, que estejam fora do âmbito do Consórcio, existem as seguradoras.

O envelhecimento demográfico, por sua vez, marcará o futuro das sociedades desenvolvidas. Os seguros surgem neste contexto como aliados do poder público para atender às necessidades da sociedade na área da saúde, das pensões. No caso de Espanha, é necessário construir alianças público-privadas de seguros para colaborar na prestação de serviços à população cada vez mais envelhecida.

No seguro de automóveis, a indústria de seguros também enfrenta um grande desafio com a emergência dos veículos conectados e autónomos que terão impacto na configuração dos prémios de seguro e na forma como os sinistros são processados.

Qual tem sido o papel da inovação, tecnologia e digitalização na indústria de seguros? Ou que ainda falta fazer?
As tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) são, sem dúvida, as que mais estão a revolucionar as operações de seguros. Atualmente, o setor de seguros utiliza, em maior ou menor grau, soluções de IA para melhorar a experiência dos seus clientes, como o uso de assistentes virtuais, interações fluidas (sem atrito), experiência personalizada, recomendações baseadas no perfil, uso da Internet das Coisas (IoT), etc.

Permite conhecer melhor o cliente e oferecer-lhe serviços personalizados ou antecipar as suas necessidades através da previsão de cenários. Graças ao processamento de grandes quantidades de dados e capacidade de aprendizagem, a IA torna possível identificar padrões que não seriam possíveis para uma pessoa conhecer. Por exemplo, o uso de IA para o diagnóstico de doenças por imagem.

Estas novas tecnologias permitem maximizar a eficiência dos processos internos das seguradoras, automatizando certos processos básicos e repetitivos e permitindo que os funcionários se concentrem em tarefas de maior valor acrescentado para o cliente.

O setor dos seguros precisa de se adaptar constantemente às necessidades dos seus clientes. Mas, para isso, precisa de uma legislação neutra que promova a inovação e a digitalização no campo dos seguros

O blockchain é outra tecnologia que começa a ser utilizada em projetos no setor de seguros. Permite a troca de informações, tão essenciais no setor, em ambiente seguro, reduzindo os custos de gestão deste tipo de sistema.

As seguradoras tentam expandir e tornar a sua linha de produtos mais flexível para atender com mais precisão as necessidades ou exigências dos clientes e potenciais segurados como mostra a aplicação da internet das coisas em certas modalidades do seguro saúde e do lar; a tarifação do seguro automóvel de acordo com a sua utilização ou modo de condução; serviços de monitoramento remoto para acelerar a sua resolução ou consultas de videomédico. Estes são apenas alguns dos resultados dessa transformação no nosso setor.

O seguro sempre foi um setor muito competitivo, que precisa de se adaptar constantemente às necessidades dos seus clientes. Mas, para isso, precisa de uma legislação neutra, que promova a inovação e a digitalização no campo dos seguros. Novas formas de contratação, mudanças de hábitos de consumo... O ideal seria ter uma regulamentação tecnologicamente neutra.

Postado em
28/10/2021
 na categoria
Inovação

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