Mais motos que carros em Pernambuco: onde o seguro entra nessa conta?

O estado de Pernambuco registrou, pela primeira vez, uma frota de motocicletas maior do que a de automóveis. Segundo o Detran, circulam pelo estado 1.571.127 motos, cerca de 30 mil a mais que os 1.541.024 carros. O crescimento foi puxado, sobretudo, pelo interior. Em Vitória de Santo Antão, são 32.647 motos contra 23.114 carros; em Petrolina, 84.122 contra 74.211; e em Caruaru, 88.127 contra 85.275.
Mudança de preferência nas ruas e autoescolas
Os dados confirmam uma mudança de preferência que já vinha sendo percebida nas autoescolas. “Quem aqui está tirando habilitação para moto? Mais da metade, eu acho que 90% levanta a mão”, contou o professor de autoescola Rômulo Tadeu ao G1. A justificativa se repete: praticidade, economia e adaptação ao novo ritmo de vida.
Motos como ferramenta de trabalho
Esse aumento pode ser explicado pelo uso desses veículos como ferramenta de trabalho. Na mesma matéria do G1, entregadores relatam aumento expressivo no número de colegas de profissão. Um deles, que trocou a CLT pela moto, estima que a categoria cresceu mais de 50% em quatro anos. Para outros, como o policial militar Wladimir Gomes da Silva, a equação é de bolso: “A gente roda praticamente três vezes mais com a moto que com o carro, mas paga praticamente o mesmo valor”.
Criar ofertas que conversem com necessidades específicas
Com mais motos nas ruas, muda também o cálculo do risco. A frequência de acidentes e furtos nesse tipo de veículo é maior e isso altera a precificação do seguro. A mera comparação entre carros e motos não dá conta da profundidade da análise, é necessário entender como regiões diferentes, usos distintos e perfis de condutores alteram esse quadro. O dado de que a sinistralidade de motos pode dobrar a dos automóveis ajuda a dimensionar o desafio.
Há ainda o impacto direto das profissões que dependem da moto como ferramenta de trabalho. Para esse público, faz diferença ter coberturas que acompanhem a rotina, como proteção contra furtos em paradas rápidas, assistência em deslocamentos longos ou modelos de seguro atrelados à quilometragem rodada. A questão é se o mercado vai conseguir criar ofertas que conversem com necessidades tão específicas.
Inclusão financeira e acesso à proteção
É preciso ponderar também que grande parte dos motociclistas ainda permanece distante do seguro tradicional, seja pelo preço elevado, seja pela pouca familiaridade com o produto. O aumento da frota, no entanto, coloca em pauta alternativas de inclusão financeira, como microsseguros, modelos por assinatura e até a integração da proteção a serviços já presentes no cotidiano, a exemplo dos aplicativos de entrega. Pensando por esse caminho, o debate toca na possibilidade de democratizar o acesso a uma cobertura mínima que faça diferença no dia a dia de quem vive sobre duas rodas.
É preciso repensar distribuição, comunicação e formato
Do lado das possibilidades, existe um público que depende da moto para trabalhar (entregadores, mototaxistas, profissionais autônomos) e essa dependência cria uma sensibilidade maior para qualquer tipo de perda ou acidente. Produtos de seguro que dialoguem com essa realidade, com preços modulados por quilometragem, pacotes semanais ou mensais, assistência para quem passa o dia rodando, tendem a fazer mais sentido do que o seguro tradicional, anual e caro. Por outro lado, há alguns freios a serem ponderados, como: renda apertada, baixa familiaridade com seguros e uma cultura de resolver problemas “na marra”. É por isso que, se o setor quiser mesmo acompanhar as mudanças trazidas pelo aumento no número de motocicletas, é preciso repensar distribuição, comunicação e formato. Talvez o caminho seja oferecer seguros acoplados a serviços já usados por esses profissionais (como apps de entrega ou postos de gasolina), de modo que a contratação seja natural e quase invisível.