Oportunidade de acesso, risco que exige critério

A ideia do leilão de veículos pode facilitar a aquisição de um automóvel, com valores abaixo da média de mercado, atraindo consumidores que buscam economia. Contudo, os automóveis provenientes desse tipo de negociação apresentam características específicas que precisam do dobro de atenção. É comum que tragam histórico de sinistros, intervenções estruturais, maior nível de desgaste mecânico ou, ainda, pendências administrativas e documentais. Sob a ótica do mercado de seguros, esses fatores alteram significativamente o perfil de risco do veículo. Por isso, a análise e a verificação do histórico do veículo são relevantes para que a oportunidade não forneça insegurança.

Visitação prévia e lances por menos de mil reais

O Governo do Estado de São Paulo realizou um novo leilão on-line de carros e motos em 18 de dezembro, com visitação prévia dos veículos até um dia anterior ao evento. A retirada dos lotes arrematados, que contemplam carros, motos, caminhonetes e caminhões, deverá ocorrer entre 26 de dezembro e 13 de janeiro de 2026, mediante agendamento. Entre os destaques estavam presentes uma Honda XRE 2018, com lances iniciais de R$ 900, e uma Chevrolet Trailblazer 2016, a partir de R$ 39,9 mil. Ao todo, foram ofertados 730 veículos aptos a circular e 47 sucatas destinadas ao reaproveitamento de peças. 

Riscos assumidos pelo comprador

Conforme o edital, a regularização e o pagamento das taxas ficam sob responsabilidade do comprador, que assume integralmente o estado mecânico do veículo. A matéria divulgada pelo G1, trouxe, segundo o advogado tributarista Otávio Massa, que esses bens costumam ser resultado de ações de fiscalização aduaneira, sendo retidos por irregularidades legais ou fiscais, ou ainda por abandono em áreas alfandegadas. Nessas operações, os automóveis são ofertados exatamente nas condições em que se encontram, sem qualquer garantia de funcionamento ou conservação. 

Vistoria veicular: etapa decisiva na aceitação do risco

A vistoria veicular é um passo fundamental para que o comprador avalie com maior precisão as reais condições do automóvel e verifique a viabilidade da contratação do seguro. Inspeções superficiais ou incompletas podem distorcer a análise de risco, impactar a precificação da apólice e elevar a probabilidade de sinistros, o que explica a adoção de critérios cada vez mais rigorosos por parte das seguradoras. Mais do que a aparência externa, a avaliação deve abranger aspectos estruturais e mecânicos, histórico de manutenção e regularidade da documentação. Veículos de leilões públicos como não contam com garantia podem apresentar entraves na regularização, enquanto leilões privados, embora possam oferecer garantias limitadas, também exigem cautela. O tempo de exposição em pátios antes do leilão também pode gerar desgaste, reforçando a importância de verificar documentação, quilometragem, lataria e condições gerais antes da contratação do seguro.

Leilões particulares são mais seguros?

A matéria do G1 revelou, ainda, com base na especialista em mecânica automotiva Luciana Félix, que leilões particulares reúnem, em sua maioria, veículos provenientes de seguradoras, geralmente ligados a sinistros com perda parcial ou total, além de automóveis de locadoras, empresas e pequenas frotas que renovam seus ativos. Diferentemente dos leilões governamentais, esse modelo concentra carros com histórico operacional mais conhecido, mas que ainda exigem atenção. De forma geral, leilões particulares envolvem frotas corporativas, devoluções de leasing e veículos de seguradoras, enquanto os leilões da Receita Federal reúnem bens apreendidos ou abandonados. Conforme explica Ronaldo Fernandes, especialista em leilões da SUIV, é essencial identificar o tipo de venda: alguns veículos são destinados à restauração e podem voltar a circular, enquanto outros são comercializados exclusivamente para desmonte legal ou reciclagem. Quando o dano é significativo, o automóvel perde a documentação e passa a ser vendido apenas como sucata, sem possibilidade de retorno às vias públicas.

Coberturas para veículos de leilão

Veículos comprados em leilão costumam apresentar histórico de sinistros, reparos ou pendências administrativas, fatores que influenciam diretamente a aceitação e o valor do seguro. Diante disso, as seguradoras adotam processos específicos de avaliação, com inspeções técnicas mais detalhadas para identificar o real nível de risco e definir coberturas compatíveis com a condição do automóvel. A contratação do seguro para esse tipo de veículo difere do modelo tradicional e exige produtos ajustados à sua realidade. A análise criteriosa do histórico, aliada à regularização documental, é decisiva para a aprovação da apólice e reforça o papel consultivo do corretor na orientação ao cliente. Automóveis retomados por financeiras, com boa conservação e documentação regular, tendem a ter maior aceitação, enquanto veículos com sinistros graves ou origem irregular geralmente recebem cobertura limitada ou podem ser recusados.

A importância da informação nesses casos

Orientar o cliente sobre a importância do checklist técnico e documental, esclarecer limitações de cobertura e indicar soluções personalizadas fortalece a relação de confiança. A análise do histórico veicular, incluindo restrições financeiras, administrativas ou judiciais, é fundamental para evitar surpresas no momento de um eventual sinistro. Mais do que avaliar o veículo, é essencial educar o consumidor sobre a importância do seguro automotivo em aquisições não convencionais. Muitas contratações inadequadas podem surgir em decorrência do desconhecimento sobre exclusões, limitações e coberturas específicas. Por isso, a comunicação clara ajuda a evitar frustrações futuras e garantir uma proteção efetiva do patrimônio.

Soluções personalizadas e o fortalecimento da confiança no mercado

Dado o crescimento desses leilões e considerando o entendimento aprofundado sobre o ciclo de vida e as características dos veículos de leilão, pode inspirar as seguradoras a desenvolverem produtos mais alinhados à realidade desses automóveis, com coberturas específicas para riscos mecânicos e estruturais preexistentes. Isso pode favorecer as expectativas do segurado, diminuir conflitos na regulação de sinistros e favorecer a sustentabilidade financeira das operações. Além disso, o avanço regulatório, com a adoção de inspeções padronizadas e certificações técnicas, contribui para aumentar a transparência e a confiança no mercado, reduzindo litígios e trazendo maior previsibilidade tanto para seguradoras quanto para consumidores.

O bom negócio depende da precaução para a economia valer a pena

Comprar um veículo em leilão pode ser uma porta de entrada para oportunidades financeiras relevantes, mas apenas quando acompanhada de informação, critério e orientação especializada. À medida que esse modelo de aquisição se populariza, é cada vez mais importante compreender os riscos envolvidos. Vistorias rigorosas, análise documental aprofundada e produtos desenhados sob medida são elementos indispensáveis para transformar um potencial risco em uma escolha consciente. As seguradoras, por sua vez, ao atuarem de forma consultiva e transparente, fortalecem a confiança do consumidor e contribuem para a maturidade desse mercado. Os valores atrativos podem esconder riscos e as seguradoras do ramo automotivo podem oferecer expertise técnica, personalização e orientação especializada para transformar a aquisição de veículos em leilões em negócios seguros.