As lacunas do seguro para PMEs: onde está a oportunidade para proteção e crescimento no Brasil

O panorama de PMEs seguradas no exterior
As pequenas e médias empresas (PMEs) correspondem à boa parte da geração de empregos e movimentação do PIB. Porém, muitas ainda operam sem a proteção adequada, ficando vulneráveis a diversos riscos. Em alguns casos, os empresários só percebem a importância de um seguro após enfrentarem prejuízos irreversíveis. Nos Estados Unidos, um estudo apontou que a maioria das pequenas empresas ainda está desprotegida. Apenas 13% dos proprietários se sentem realmente preparados para enfrentar riscos. Para as seguradoras, esse espaço promove a oportunidade de oferecer soluções integradas e adaptadas ao dia a dia das pequenas empresas, garantindo a proteção desse segmento fundamental para a economia e permitindo a prevenção necessária para fortalecer a sustentabilidade desses negócios.
Baixa percepção de risco e limitações econômicas dificultam a contratação de seguros no Brasil
Segundo a pesquisa “Caminhos para Ampliação da Penetração de Seguros no Segmento PME”, conduzida pela CNseg e Maena Inteligência Analítica, apenas 26,7% dos empresários possuem algum seguro para o negócio e 20,9% para os colaboradores, apesar de o segmento responder por cerca de 30% da produção de riqueza nacional. O estudo aponta que os principais obstáculos para a contratação são a baixa percepção de risco e as limitações econômicas, mais relevantes que o desconhecimento dos produtos disponíveis. Questões financeiras, como a necessidade de garantir recursos para compromissos e a preocupação com inadimplência, influenciam fortemente a decisão dos empresários. Entre os tipos de seguros, os mais contratados no início da operação são Transporte, Previdência Empresarial, Automóvel e produtos contra Riscos Financeiros, enquanto seguros Cibernéticos se destacam entre empresas com até três anos de funcionamento. Apesar de não liderarem as contratações, seguros de Automóvel e de Vida são os mais conhecidos entre os empresários, muitas vezes por já terem experiência com essas apólices no âmbito pessoal ou por exigências coletivas de categorias profissionais.
Pesquisa indicou a importância dos corretores
A pesquisa envolveu 86 empresários e 156 corretores, revelando que mais da metade das empresas tinha entre um e três anos de operação, com predominância de comércio e serviços, e que empreender frequentemente decorreu de mudanças ou dificuldades profissionais. O estudo também destacou a importância dos corretores de seguros, que atuam como educadores e facilitadores na conscientização sobre riscos e coberturas. Eventos traumáticos em empresas conhecidas costumam ser o gatilho para considerar a contratação. Na escolha de um seguro empresarial, os empresários valorizam principalmente as coberturas, o preço e a clareza dos critérios de contratação, mais do que a marca da seguradora, uma vez que grande parte das micro e pequenas empresas (PMEs) só busca seguros após enfrentar sinistros, como roubos, incêndios ou por exigência legal – o que demonstra uma cultura de reação em vez de prevenção.
Por que PME precisa de seguro para ser sustentável
Ao contrário das grandes empresas, que contam com marcas consolidadas e facilidade de acesso a crédito, as micro e pequenas empresas enfrentam dificuldades para levantar capital, se manter competitivas e lidar com as adversidades do mercado. Uma matéria da Chubb destacou que muitas PMEs sequer conhecem sua matriz de riscos e isso faz com que elas estejam despreparadas para enfrentar crises, sem a cobertura necessária para superá-las. O setor de seguros atua, nesse sentido, pode ajudar as empresas a gerenciar riscos, oferecendo suporte financeiro para lidar com ameaças complexas, como riscos de reputação, de propriedade intelectual ou regulatórios. Ter o seguro como base é importante para garantir a continuidade das operações, especialmente diante de perdas de receita, interrupções na cadeia de suprimentos ou danos a propriedades. Apesar de sua importância, muitos gestores ainda enxergam os prêmios de seguro como um custo elevado e encontram dificuldade em compreender apólices que cobrem riscos complexos.
Por que as barreiras persistem?
Conforme a matéria, essa falta de entendimento sobre os riscos reais e a necessidade de cobertura adequada aumenta a vulnerabilidade das PMEs, tornando mais que necessária uma mudança de percepção sobre o papel do seguro como ferramenta de proteção e sobrevivência do negócio. A percepção de custo elevado frente ao benefício é um dos principais entraves, já que parte dos gestores prioriza investimentos imediatos, como folha de pagamento e infraestrutura. Soma-se a isso a burocracia nos processos de contratação, que frequentemente envolvem cláusulas complexas e prazos demorados, desestimulando os empresários. Além disso, a oferta limitada de produtos personalizados faz com que muitos seguros não abarquem as particularidades de negócios pequenos, o que gera sensação de que são feitos sob medida apenas para grandes corporações.
Soluções já disponíveis e experiências emergentes
Embora exista esse distanciamento, o mercado possui soluções que podem contribuir para preencher parte dessa lacuna. O seguro de vida em grupo para PMEs da Tokio Marine oferece flexibilidade e coberturas adicionais, permitindo incluir dependentes e adaptar o capital segurado conforme o perfil da empresa, seja por valores uniformes, múltiplos salariais ou escalonados por cargo. Além disso, os planos incluem serviços complementares voltados às pequenas empresas, como cesta natalidade, recolocação profissional e assistência em casos de atos violentos. Na área da saúde, há alternativas que buscam tornar a proteção mais acessível. A Seguros Unimed, por exemplo, oferece planos empresariais voltados a pequenas empresas, que adaptam os custos às suas realidades. Além disso, soluções inovadoras como o seguro com telemedicina estão se consolidando como alternativas aos planos de saúde tradicionais. Com atendimento remoto disponível 24 horas, esse modelo custa menos e proporciona benefícios percebidos de imediato pelos colaboradores, como consultas rápidas e maior bem-estar.
Oportunidades para crescimento e inovação
Apesar dos desafios enfrentados pelas PMEs, o cenário atual oferece importantes oportunidades para inovação e crescimento no setor de seguros. Uma das principais estratégias é a criação de produtos modulares ou escalonáveis, que permitem às empresas contratar inicialmente apenas coberturas básicas e ir ampliando conforme crescem. Essa abordagem torna o seguro mais acessível e adequado à realidade de negócios menores. Além disso, a incorporação de serviços como telemedicina e benefícios complementares em seguros de vida em grupo agrega valor e ajuda as empresas a perceberem a proteção como parte de sua estratégia de bem-estar e retenção de talentos.
Conscientização, digitalização dos processos e outras estratégias para explorar essa lacuna de proteção
Junto a essas iniciativas, campanhas de conscientização promovidas por entidades como a CNseg, muitas vezes em parceria com o Sebrae, têm um papel essencial ao informar empresários sobre riscos e coberturas de forma clara e prática. Outro ponto importante é a digitalização dos processos de contratação. Cotações online, contratos simplificados e apólices transparentes reduzem barreiras e tornam a experiência mais ágil, compatível com a rotina das PMEs. Um artigo do Insurance Thought Leadership apontou três estratégias para explorar essa lacuna de proteção:
- Seguro integrado aos sistemas existentes: Oferecer cobertura no momento certo e no contexto das operações, usando plataformas que as PMEs já utilizam, como softwares de contabilidade, e-commerce ou folha de pagamento. Isso torna o seguro uma ferramenta natural dentro do dia a dia da empresa.
- Comunicação personalizada: Adaptar a oferta de seguros aos riscos específicos de cada negócio. A análise de dados e inteligência artificial permitem que a mensagem seja relevante e compreensível, mostrando por que cada cobertura é importante e aplicável à realidade da empresa.
- Equilíbrio entre digital e humano: Tornar tarefas rotineiras simples e autossuficientes, como atualização de informações ou emissão de certificados, enquanto mantém consultores disponíveis para orientações complexas ou sinistros. Essa combinação fortalece a confiança e a fidelidade das PMEs.
Transformando ‘gaps’ em possibilidade de negócios promissores
O panorama das PMEs no Brasil e no mundo mostra que a proteção contra riscos ainda é pouco procurada por grande parte desses negócios, muitas vezes percebida apenas após prejuízos substanciais. No entanto, essa lacuna é uma oportunidade para as seguradoras criarem soluções acessíveis, personalizadas e integradas à rotina das pequenas empresas. Produtos e apólices flexíveis, serviços complementares e a utilização de plataformas digitais podem transformar o seguro em um aliado da sustentabilidade e do crescimento dos negócios. O mercado é vasto e carente de soluções adaptadas, portanto, as seguradoras devem compreender e atender as necessidades desses empreendedores conquistando relevância e fomentando o crescimento de um segmento que também é responsável por aquecer a economia.