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Pandemia deslancha telemedicina no Brasil

Pandemia deslancha telemedicina no Brasil
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m meio à maior emergência sanitária já vivida pelo país – com mais de 620 mil vidas ceifadas pela pandemia do novo coronavírus –, a medicina brasileira deu um dos maiores saltos tecnológicos da história. Mais precisamente, a “telemedicina”, ou “telessaúde”, como é chamada pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos de operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde e planos exclusivamente odontológicos.

Segundo a entidade, a “telessaúde” engloba o conjunto de atendimentos à disposição dos pacientes através de vídeo a distância – seja no computador, tablet ou celular –, por médicos ou outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas e psicólogos. A “telemedicina” está inserida nesse contexto e é, mais precisamente, o atendimento específico de um médico, numa cirurgia, por exemplo. Por conta da pandemia, o governo editou a Lei 13.989/20, autorizando a “telemedicina”, em vigor desde 16 de abril do ano passado. E que esclarece: “A telemedicina, entre outros, é o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde”. Nomenclaturas à parte, afinal, são áreas da saúde ainda muito incipientes no Brasil, os números são superlativos, e explodiram durante a pandemia.

De acordo com a FenaSaúde, entre março de 2020 e outubro de 2021 – pouco mais de um ano e meio dentro da pandemia – as empresas associadas à entidade realizaram mais de 6,2 milhões de atendimentos de telessaúde no país. Nesse mesmo período, ainda segundo a FenaSaúde, mais de 90% dos pacientes tiveram as necessidades atendidas de forma remota. “As vantagens são evidentes para todos: médicos, operadoras e clientes. Democratiza o acesso à saúde de qualidade a pacientes, principalmente em regiões mais afastadas, onde algumas especialidades médicas não estão disponíveis ou o médico mais próximo está a quilômetros de distância”, destaca a diretora-executiva da FenaSaúde, Vera Valente. 

Duas gigantes do setor corroboram a explosão pela demanda por telessaúde. O Saúde na Tela, da SulAmérica, registrou, de janeiro a setembro de 2021, mais de 1 milhão de atendimentos, sendo 367 mil só no terceiro trimestre. Desde janeiro de 2020, foram mais de 1,7 milhão de chamadas. “De janeiro a junho deste ano, o Saúde na Tela teve aumento de mais de 60%, na comparação com o segundo semestre de 2020. Já nosso projeto Psicólogo na Tela atendeu mais de 140 mil pacientes, entre janeiro e julho de 2021”, destaca a diretora-técnica médica e de Relacionamento com Prestadores da SulAmérica, dra. Tereza Veloso. “O serviço tem alto nível de resolutividade, sendo que 90% dos casos não exigem atendimento presencial posterior”, complementa.

Por sua vez, a plataforma Saúde Digital, da Bradesco Saúde, superou a marca de 600 mil atendimentos neste ano, com uma média de mais de mil por dia. As especialidades mais demandadas são clínica médica e suporte emocional, com atendimentos na área de psicologia. “Cerca de 60% dos pacientes atendidos foram para casos relacionados à Covid-19. Mas a plataforma atende a várias especialidades. E, nos últimos meses, os atendimentos não relacionados à Covid-19 já são maioria”, observa a diretora para Telemedicina da Bradesco Saúde, dra. Thais Jorge. 

Criada na Argentina em 2016, a insurtech DOC24 é um novo player no setor de saúde privada brasileiro, tendo iniciado suas operações aqui em 2020. Mesmo novata, os números já a colocam junto às grandes do mercado. “Foram mais de 3 milhões de consultas realizadas durante a pandemia. E, mesmo com o controle do vírus, com as vacinas, a quantidade de consultas realizadas mensalmente continua crescendo”, afirma o diretor-geral da DOC24 no Brasil, Fernando Ferrari. Segundo ele, na prática, “não existe diferença para um atendimento presencial, já que quase 80% das consultas podem ser resolvidas à distância”. Mas Ferrari faz questão de frisar que, nos casos em que é preciso um exame mais apurado, o paciente é encaminhado para atendimento presencial com especialista.

Entre os representantes das empresas e da FenaSaúde, existe o consenso de que a telessaúde só trouxe benefícios, sob todos os aspectos. Entretanto, segundo o artigo 1º da Lei da Telemedicina, a autorização para atendimento a distância é temporária, “enquanto durar a crise ocasionada pelo coronavírus (SARS-CoV-2)”. 

Para Vera Valente, o principal desafio, agora, é a segurança jurídica. A telemedicina demanda, ainda, uma legislação definitiva para que continue sendo praticada depois da pandemia. “Defendemos uma legislação simples e objetiva, que garanta acesso amplo, geral e irrestrito à telemedicina; que considere a perenidade dos avanços tecnológicos; que endosse a liberdade de escolha do paciente, inclusive para primeiras consultas; e que respeite a autonomia médica para avaliação das formas mais recomendadas de atendimento para cada caso”, finaliza ela.

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Postado em
22/2/2022
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