Metaverso – Adotar ou não adotar: eis a questão

esde que o Facebook mudou seu nome corporativo para Meta, o termo metaverso tornou-se um dos principais assuntos no universo da tecnologia. Embora muitas pessoas ainda não saibam o que significa, esse conceito não tem passado despercebido no mundo dos negócios, especialmente no setor de seguros. Acompanhar de perto esse processo tecnológico, buscando entender as potencialidades e os desafios envolvidos vem aos poucos fazendo parte da rotina das seguradoras. Afinal, como será o futuro do mercado de seguros com essa nova possibilidade de interação no ambiente virtual?
O metaverso utiliza as tecnologias de realidade virtual e aumentada para proporcionar a imersão do usuário. Elas podem ser acessadas por meio de óculos e manoplas, que são conectados a computadores ou smartphones. A ideia é que as fronteiras entre o físico e o virtual sejam cada vez mais dissolvidas, através de avatares customizados em 3D, pelos quais as pessoas podem consumir produtos, serviços e interagir de forma on-line.
Para o CEO da TEx, Emir Zanatto, a nova tecnologia pode tornar processos e operações mais eficientes, e empresas que já se preparam para esse cenário estão um passo à frente da concorrência. “Até agora, vimos poucas iniciativas no mercado de seguros se concretizarem. Um exemplo são os eventos imersivos, mas as possibilidades são inúmeras. Uma dificuldade do nosso setor é difundir a cultura do seguro e o metaverso nos abre portas para pensar em novas formas de dar visibilidade para essa pauta”, diz.
Reunir-se com clientes e parceiros, participar de eventos imersivos, trabalhar em um ambiente corporativo sem sair de casa e promover uma nova experiência do cliente ao fazer uma cotação, preencher um questionário de risco ou abrir um sinistro podem ser, na opinião de Zanatto, as aplicações práticas do metaverso no setor de seguros. O desenvolvimento dessa experiência, no entanto, está condicionado ao avanço do 5G no Brasil e à acessibilidade de equipamentos necessários para essa imersão virtual.
“Conforme essa tecnologia avança e ganha mais aderência, acredito que a entrada do setor de seguros no metaverso seja apenas uma questão de tempo. É bastante capaz que em um futuro próximo surjam seguros de automóveis e imóveis dentro do metaverso, além de publicidade e propagandas. Aconselho a todos a se informarem e se preparem para esse novo mundo paralelo”, prevê Zanatto.
Com relação aos tipos de produtos de seguros que podem se beneficiar do metaverso, o CEO da TEx cita a proteção cibernética. Outro ponto é levar para o universo virtual apólices que já são comercializadas no mundo real. “A mesma lógica poderia ser aplicada no metaverso. Assim como hoje, em que as apólices são usadas para proteger ativos intangíveis como a propriedade intelectual, patentes e outros. A imersão no mundo virtual pode ser tão intensa, que incidentes relacionados ao uso de óculos de realidade aumentada e fones podem resultar em acionamentos de seguros residenciais, por exemplo”, acredita Zanatto.
Longo caminho
O superintendente executivo de Inovação do Grupo Bradesco Seguros, Guilherme Haraguchi, concorda que o metaverso tem grande potencial no setor de seguros. Primeiramente como um novo ambiente, onde os consumidores poderão se relacionar e interagir, havendo oportunidades de branding e distribuição de produtos já existentes. Outro potencial está na cobertura de riscos que irão emergir ou se intensificar na medida em que o metaverso e o universo tecnológico que o acompanha se expandirem e se tornarem cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas.
“Há ainda um longo caminho do ponto de vista de tecnologia e acessibilidade ao grande público para suportar todo o potencial do metaverso, porém movimentos como o do Facebook – agora Meta – tem contribuído para uma adoção e crescimento de usuários e de todo o ecossistema relacionado a este novo espaço virtual”, ressalta Haraguchi.
O executivo lembra que, no setor de seguros, pautas que existem há anos estão sendo aceleradas, como o uso de blockchain, a digitalização de processos, a interoperabilidade cadastral, omnichannel, embedded Insurance e riscos cibernéticos. Sobre riscos no ambiente virtual, algumas seguradoras no mundo já têm olhado de maneira diferenciada para aqueles relacionados à bullying em redes sociais. “Esse tipo de cobertura, por exemplo, deverá ser ainda mais necessário no metaverso, considerando o grau de imersão e as possibilidades de interação entre diferentes usuários”.
Em sua avaliação, onde há propriedade haverá sempre a oportunidade de cobertura securitária, a partir do momento em que são avaliados e precificados os riscos. Isso já se aplica em ativos digitais existentes, como carteiras virtuais, criptomoedas, terrenos, imóveis e obras de arte digitais, e até mesmo avatares exclusivos. “Esse novo universo permitirá às seguradoras novas conexões e maior acesso a fluxos de informações, o que possibilitará a criação de novos produtos e jornadas personalizadas, com um tempo muito menor de desenvolvimento”, acredita Haraguchi, acrescentando que a Bradesco Seguros montou um grupo de trabalho focado no metaverso. “O princípio fundamental continuará sendo viabilizar as melhores experiências para nossos clientes”.
Na opinião do professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS), Bruno Kelly, os seguros contra ciberataques serão um dos mais demandados à medida em que o metaverso se popularizar. “É uma tendência que veio para ficar. Hoje no Brasil, segundo pesquisas, 6% dos brasileiros que usam internet já transitam por uma versão de metaverso. Isso é bem significativo, pois estamos falando de cerca de 5 milhões de pessoas”. Ele acredita que vários setores poderão se beneficiar desse novo processo tecnológico, como a medicina e a educação, abrindo possibilidades para a criação de coberturas adequadas pelas seguradoras.
Os desafios, segundo ele, são a falta de conhecimento sobre o conceito e a forma como os seguros serão desenvolvidos para atender os clientes no ambiente virtual e, ao mesmo tempo, impactar o dia a dia no mundo real dessas pessoas. Kelly ressalta que ainda não há demandas relevantes para seguros relacionados ao metaverso. “O conceito do seguro é baseado na massificação e pulverização de risco. Como não existe demanda, as empresas não criam produtos. Realmente, não faz sentido criar produto para algo que ainda não existe comprador em massa”.
No entanto, Kelly acha importante acompanhar de perto esse tema. “Eu não acredito em nada muito significativo em termos de metaverso no setor de seguros antes dos próximos seis ou sete anos. Mas a ENS segue tendências do mercado. No momento em que identificarmos uma demanda, a escola vai se posicionar no sentido de criar cursos e treinamentos para que corretores estejam qualificados para atender as novas exigências do mercado”, afirma.