Mês do Orgulho reacende debate sobre inclusão e inovação social no setor de seguros

iversidade no seguro: oportunidade para refletir e agir
O Mês do Orgulho, celebrado em junho, é um período que convida empresas e instituições a revisarem suas práticas em relação à comunidade LGBTQIAPN+. No setor de seguros, desde sempre marcado por estruturas conservadoras e padrões normativos, a discussão sobre diversidade ainda avança de forma tímida. A inclusão plena dessa população requer transformações concretas nas políticas internas, nas formas de atendimento e nos próprios produtos. Em um país onde a violência e a exclusão seguem afetando milhares de vidas, o compromisso das seguradoras com a equidade se revela inadiável.
Brasil lidera cenário de violência
O Brasil permanece na liderança em crimes motivados por LGBTQIAPN+fobia, com 291 mortes violentas registradas em 2024 — um aumento de mais de 8% em relação ao ano anterior, segundo relatório anual do Grupo Gay da Bahia. A cada 30 horas, uma pessoa LGBTQIAPN+ é assassinada no país, o que reflete uma realidade marcada por violência e intolerância sistemática. A maioria das vítimas tinha entre 19 e 45 anos, e a média de idade de travestis e mulheres trans assassinadas foi de 24 anos, escancarando a baixa expectativa de vida e a vulnerabilidade desse grupo.
Exclusão estrutural e baixa representatividade no mundo do trabalho
Além da violência física, a exclusão se manifesta de forma estrutural e institucional. Um levantamento divulgado pela GloboNews mostrou que apenas 0,38% dos postos de trabalho formais no país são ocupados por pessoas trans – índice que denuncia a barreira de acesso ao mercado de trabalho. Essa invisibilidade se reflete também no setor de seguros, onde a representatividade ainda é tímida. A falta de oportunidades e o preconceito estruturam um ambiente corporativo que, muitas vezes, é excludente ou pouco acolhedor, reforçando a urgência de ações afirmativas e inclusivas em todas as áreas.
Discriminação no acesso à saúde e avanços no setor de seguros
A discriminação, o estigma e o despreparo de muitos profissionais da saúde criam barreiras que afastam essas pessoas do atendimento adequado. Entre os grupos mais vulneráveis estão, novamente, as pessoas trans e travestis, que frequentemente relatam experiências de recusa ou violência durante consultas médicas. Conforme a Central Única dos Trabalhadores, uma pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), realizada em 2023, mostrou que 94% das pessoas trans entrevistadas já sofreram algum tipo de discriminação em atendimentos de saúde e que 62% evitam buscar esses serviços por medo do preconceito. Essa exclusão também se reflete no cuidado com a saúde mental. A ausência de acolhimento social, familiar e institucional tem impacto direto no bem-estar psicológico da população LGBTQIAPN+. Estima-se que 42% da população trans já tentou suicídio, e estudos apontam índices elevados de depressão e ansiedade entre essas pessoas.
Iniciativas que apontam caminhos
Com tudo isso posto, o setor de seguros tem dado sinais de mudança. Em fevereiro de 2024, Susep determinou que todas as seguradoras deveriam implementar o campo “Nome Social” em propostas, apólices e documentos contratuais. Após o prazo de 120 dias, 146 das 160 seguradoras já estavam em conformidade, e logo em seguida todas cumpriram a norma. A medida demonstra um progresso no reconhecimento e respeito à identidade de gênero dos consumidores, alinhando-se à missão do setor de proteger vidas e promover inclusão. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas essas ações demonstram o potencial do mercado segurador como propulsor da transformação social.
Webinars de conscientização
Apesar do quadro desafiador, há sinais de mudança. A Susep participou, em junho do ano passado, de um webinar em celebração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, reforçando a importância da inclusão institucional e da educação como ferramentas para o respeito à diversidade. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) também tem se movimentado, com ações como o debate sobre o uso do nome social no setor de seguros e a realização do webinar "Orgulho e Inclusão LGBTQIAPN+: o papel das empresas engajadas", marcado para 1º de julho. O evento discutirá práticas acessíveis para fomentar um mercado segurador mais inclusivo e representativo, os principais obstáculos enfrentados por pessoas LGBTQIA+ no ambiente corporativo e o papel essencial das empresas no combate à discriminação.
Incluir é agir muito além do marketing: é preciso ter compromisso com direitos
Incluir não pode ser apenas uma resposta ao apelo de imagem ou ao chamado do marketing de causa. É preciso implementar políticas estruturantes, como programas de contratação afirmativa, escuta ativa de colaboradores LGBTQIAPN+, planos de carreira inclusivos, treinamentos contínuos para equipes e acesso integral a benefícios com respeito à identidade de gênero. O setor de seguros pode contribuir em muitos aspectos: divulgando e debatendo o assunto, adaptando produtos e serviços às necessidades da população LGBTQIAPN+, promovendo acesso a seguros de vida, saúde e previdência de forma respeitosa, sem vieses discriminatórios. A diversidade não é uma bandeira a ser levantada apenas em junho. Ela deve ser um valor incorporado nas práticas diárias de empresas e lideranças. O setor de seguros, ao proteger vidas, deve também garantir dignidade, representatividade e respeito.