Lideranças debatem o que o futuro exige do presente no mercado de seguros

O que faz a gente abrir a porta pra inovação e não ficar só no olho mágico? A resposta é: incômodo.” A frase de José Loureiro, diretor de Inovação do Grupo Bradesco Seguros, foi uma das provocações do Insurance & Innovation Talks, realizado no dia 27 de maio no Rio de Janeiro. Em sua primeira edição na cidade, o evento promoveu uma leitura estratégica das transformações que atravessam o setor, com base nos aprendizados extraídos dos principais eventos internacionais de inovação e tecnologia. Realizada em parceria com a consultoria MJV, a iniciativa reuniu profissionais do ecossistema segurador para debater tendências, desafios organizacionais e caminhos para reposicionar o seguro em um mundo marcado pela aceleração digital, novas expectativas sociais e evolução do consumo.
Produtização dos serviços como caminho para experiências mais tangíveis
Marcella Campos, gerente de Inovação e Experiência do Usuário da MJV, falou sobre a importância da produtização dos serviços como caminho para experiências mais tangíveis. “Foi falado muito sobre produtização, que é algo que eu acredito que é inexplorado ainda. O Web Summit trouxe vários exemplos tangíveis de produtização que a gente poderia, de repente, arriscar em ativações em feira.”
Marcella também destacou que a personalização é um dos pontos-chave para tornar o seguro mais compreensível e presente na vida das pessoas. “A linguagem técnica melhorou muito, mas a expectativa mudou: o cliente quer uma comunicação que faça sentido pra ele, naquele momento”, afirmou. Ela defendeu que a comunicação do setor precisa avançar para além da simplificação: “Não pode ser mais pré-fabricada. Tem que ser feita sob medida. E a tecnologia ajuda nisso.”
"A experiência do cliente é o produto de seguros"
José Loureiro foi direto ao ponto ao relacionar inovação à mudança de postura. “Durante muito tempo eu defendi que inovação era um processo — e continuo achando. Mas hoje eu diria que inovação é atitude”, disse. Segundo ele, sem mudança de mentalidade, é difícil transformar a maneira como o seguro é oferecido e percebido. Ao comentar o programa DesBRAva, iniciativa do Grupo Bradesco Seguros voltada à cultura de inovação na companhia, Loureiro destacou a necessidade de conciliar objetivos de curto e longo prazo. “A empresa precisa funcionar hoje, gerar lucro hoje, mas também investir no amanhã. Não se trata de continuar existindo. É continuar sendo relevante.”
Outro ponto que ele reforçou foi a centralidade da experiência. “Hoje, o produto seguro é resumido através das jornadas que o cliente tem na sua empresa. A experiência do cliente é o produto de seguros.”
“Imagina o potencial de um corretor que conhece o cliente e usa IA pra personalizar a comunicação e a explicação do produto?”
Na parte de perguntas e respostas, quando questionado sobre como a inovação pode ajudar a popularizar o seguro no Brasil, José Loureiro ressaltou o potencial ainda pouco explorado do setor. “O Brasil tem um potencial absurdo. A relação do prêmio de seguros com o PIB mostra isso. Dá pra multiplicar por N vezes.” Para ele, a estratégia central deve estar na experiência oferecida ao cliente. “Hoje o seguro é experiência. Melhorar a experiência deve ser a estratégia principal.” Loureiro apontou a hiperpersonalização como caminho decisivo para essa transformação. “A linguagem técnica melhorou muito, mas a expectativa mudou: o cliente quer uma comunicação que faça sentido pra ele, naquele momento. Não pode ser mais pré-fabricada. Tem que ser feita sob medida. E a tecnologia ajuda nisso.” Segundo ele, os corretores têm papel essencial nesse processo. “Imagina o potencial de um corretor que conhece o cliente e usa IA pra personalizar a comunicação e a explicação do produto?”
A porta da inovação: olhar ou abrir?
Loureiro propôs uma reflexão sobre a disposição para acolher o novo, conectando a metáfora do evento — “E se o futuro bater na sua porta?” — à experiência prática da inovação nas empresas. “E se o novo batesse na sua porta hoje, agora? O que você faria? Você abriria? Ou ia olhar pelo olho mágico, bater aquele friozinho na barriga e dizer: ‘Volta outra hora, tenho coisa mais importante pra fazer’?”, provocou. Em tom pessoal, compartilhou que muitas vezes ignorou os primeiros sinais de inovação, não por falta de interesse, mas pela pressão das demandas imediatas. “O que normalmente é essa ‘coisa mais importante’? Metas de curto prazo. Aquele cronograma que a gente tem que entregar. Todo mundo fala em ágil... mas todo mundo ainda pergunta: ‘Cadê o cronograma?’”, comentou, apontando para o conflito recorrente entre a cultura da urgência e o investimento em mudança.
"Vivemos uma policrise que afeta comportamento e decisões"
João Schimtz, gerente sênior global de Inovação da MJV, destacou que o mercado de seguros precisa ler com mais profundidade os sinais do comportamento social. “Vivemos uma 'policrise': muitas crises simultâneas — tecnológicas, ambientais, econômicas, políticas, sociais. Isso impacta diretamente no comportamento e na saúde mental das pessoas.” Em sua fala, João trouxe exemplos de inovação que atravessam áreas como alimentação, entretenimento e mobilidade, mas que também oferecem insights ao setor segurador, especialmente na busca por propostas mais conectadas ao cotidiano. “O consumidor quer ver seus valores refletidos nas marcas. A carteira virou também política. Transparência e posicionamento são indispensáveis.”
Segundo ele, integrar bem-estar, sustentabilidade e tecnologia é um dos caminhos para tornar o seguro mais relevante e presente. “O futuro é sobre integrar bem-estar, sustentabilidade, tecnologia e experiência em um novo modelo de proteção.”
“É preciso oferecer propostas de valor mais próximas das emoções e da rotina das pessoas”
De acordo com Schimtz, diante desse cenário, o setor de seguros precisa ir além da proteção: “É preciso oferecer bem-estar, experiências relevantes, propostas de valor mais próximas das emoções e da rotina das pessoas", disse ele. Dentre os caminhos possíveis para esse setor, segundo o executivo, estão: “Seguros de viagem com experiências; seguros saúde com programas de mindfulness; apólices simplificadas e personalizadas; embedded insurance; comunicação ética e transparente sobre uso de dados". Ele afirmou que o bem-estar hoje supera a saúde como indústria e que “isso exige mudanças profundas na forma como o seguro se apresenta: menos técnica, mais emocional", finalizou.